31 de maio de 2007

A presença do ressurreto

Quando a tragédia indesejada aparece e nos ensurdecemos para tudo o que não seja o ruído esganiçado da própria agonia, quando a coragem pula pela janela e o mundo parece ser um lugar hostil e ameaçador, é hora do nosso Getsêmani. Nenhuma palavra, não importa quão sincera, oferece qualquer conforto ou consolo. A noite é ruim. A mente está amortecida, o coração es­vaziado, os nervos abalados. Como agüentaremos passar a noite? O Deus de nossa jornada solitária está silencioso.

Mesmo assim, pode acontecer que, nas provações mais desesperadoras de nossa existência humana, além de qualquer explicação racional, sintamos uma mão cravejada nos agarrar firmemente.

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"A única razão para fazer a coisa certa é que essa é a coisa certa a fazer; todas as outras razões são razões para fazer alguma outra coisa".
Peter G. van Breeman, Called by name, p. 38 - citado por Manning

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Extraído do capítulo 6 de
O impostor que vive em mim
de Brennan Manning



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Todas as citações de “O Impostor que vive em mim”:

1. Saia do esconderijo
2. O impostor
3. O amado
4. O filho de Abba
5. O fariseu e a criança
6. A presença do ressurreto
7. O resgate da paixão
8. Coragem e fantasia
9. O coração pulsante do mestre
10. O coração pulsante do mestre II
11. O Evangelho do homem (comentário)

Esse livro foi publicado pela Mundo Cristão.
Você pode comprá-lo aqui.

28 de maio de 2007

O fariseu e a criança

Em vez de uma história de amor, a bíblia é vista como um manual de instruções.

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Palavras de Tomas Merton: "Se tenho uma mensagem para meus contemporâneos, certamente é esta: sejam o que quiserem, sejam loucos, bêbados... Mas evitem, a todo custo, uma coisa: 'sucesso'". Evidentemente, Merton se refere ao culto ao sucesso, à fascinação farisaica por honra e poder, o impulso implacável de realçar a imagem do impostor aos olhos dos admiradores. Quando, porém, minha falsa humildade desdenha do prazer da conquista e escarnece os elogios e louvores, fico orgulhoso dela, alienado e isolado das pessoas reais, de modo que o impostor domina novamente.

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Extraído do capítulo 5 de
O impostor que vive em mim
de Brennan Manning



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Todas as citações de “O Impostor que vive em mim”:

1. Saia do esconderijo
2. O impostor
3. O amado
4. O filho de Abba
5. O fariseu e a criança
6. A presença do ressurreto
7. O resgate da paixão
8. Coragem e fantasia
9. O coração pulsante do mestre
10. O coração pulsante do mestre II
11. O Evangelho do homem (comentário)

Esse livro foi publicado pela Mundo Cristão.
Você pode comprá-lo aqui.

25 de maio de 2007

O filho de Abba

A coisa absolutamente imperdoável [de Jesus] não foi sua preocupação com doentes, aleijados, leprosos, possessos [...] nem mesmo sua parceria com as pessoas pobres e humildes. O problema real foi que ele se envolveu com falhas morais, com pessoas ob­viamente irreligiosas e imorais; pessoas política e moralmente suspeitas, inúmeros tipos duvidosos, obscuros, abandonados e desesperançados, existindo como um mal que não pode ser erradicado na periferia da sociedade. Esse foi o escândalo verdadeiro. Ele tinha mesmo que ir tão longe? [...] Que tipo de amor perigoso e ingênuo é esse, que não conhece seus limi­tes: as fronteiras entre os colegas conterrâneos e estrangeiros, membros e não-membros do partido, entre vizinhos e pessoas distantes, entre chamados honrados e desonrados, entre pes­soas morais e imorais, boas e ruins? Como se a distinção não fosse absolutamente necessária aqui. Como se não devêssemos julgar nesses casos. Como se pudéssemos sempre perdoar nessas circunstancias.

Hans Kung, On being a Christian, p. 32 - citado por Manning

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Lembre-se da passagem, em Mateus, em que Jesus diz "sejam perfeitos assim como é perfeito nosso pai que está nos céus". Em Lucas, o mesmo versículo está traduzido por "sejam compassivos assim como nosso Pai que está nos céus é compassivo". Os estudiosos da Bíblia dizem que estas duas palavras: perfeito e compassivo podem ser reduzidas à mesma realidade. Conclusão: seguir Jesus em seu ministério de compaixão define, com precisão, o significado de sermos perfeitos como é perfeito nosso Pai que está nos céus.

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Tenho tentado negar, ignorar ou reprimir os preconceitos ra­cistas e homofóbicos, considerando-os inteiramente indignos de um ministro do evangelho. Além disso, achava que reconhecer sua existência poderia dar-lhes força. Ironicamente, a negação e a repressão são, na verdade, o que lhes dá força.

O impostor começa a se encolher apenas quando é reconhe­cido, acolhido e aceito. A auto-aceitação, que flui do acolhi­mento da identidade essencial como filho de Deus, me habilita a enfrentar toda minha transgressão com uma honestidade infle­xível, e completo abandono à misericórdia de Deus. Como disse minha amiga, a freira Barbara Fiand: "Integridade é reconhecer a transgressão e ser curado por meio dela".

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Extraído do capítulo 4 de
O impostor que vive em mim
de Brennan Manning



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Todas as citações de “O Impostor que vive em mim”:

1. Saia do esconderijo
2. O impostor
3. O amado
4. O filho de Abba
5. O fariseu e a criança
6. A presença do ressurreto
7. O resgate da paixão
8. Coragem e fantasia
9. O coração pulsante do mestre
10. O coração pulsante do mestre II
11. O Evangelho do homem (comentário)

Esse livro foi publicado pela Mundo Cristão.
Você pode comprá-lo aqui.

24 de maio de 2007

Nos bastidores

Nas últimas semanas estive acentuadamente nostálgico. Escrever sobre meu avô me trouxe muitas lembranças, daquelas que nos deixam com um sorriso bobo no canto da boca, e o olhar atravessando corpos e paredes à nossa frente. Depois escrevi sobre sua irmã famosa, minha tia-avó cantora, Stelinha. Passei várias tardes e noites ouvindo e editando seus discos. Em seguida indiquei um ensaio fotográfico sobre alguns velhinhos da Ilha de Santa Catarina, que me fizeram lembrar da tarde que passei no colo da mãe do Jedião, num asilo de Florianópolis, ouvindo deliciosas e assustadoras histórias. Nostalgia pura e arrebatadora, que me fez viajar no tempo e ver o quanto a vida é boa, apesar dos pesares.

E aí veio um desses pesares. Faleceu a vó Aladia. Meu coração nunca esteve tão preparado.

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Engraçado que meu avô sempre esteve presente na minha vida, mas não minha avó. Posso citar muitas coisas que fiz com o Dr. Arthur, mas pouquíssimas que tenha feito com a Dona Aladia. Ela era dessas mulheres de bastidores. Estava por trás de tudo. Nada aconteceria como aconteceu se não fosse por ela. Uma sombra que conduzia o corpo, sem ele nem desconfiar.

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O fim da escola dominical marcava a partida àquela casa. Antes de abrir a porta o cheiro da macarronada já nos arrebatava. A rotina da chegada era incansável e euforicamente repetida toda semana. Uma correria desenfreada para pegar os primeiros pedaços de pele de galinha assada, seguida de alvorossada disputa pela ‘Gazetinha’. Depois era só desfrutar daquela macarronada maravilhosa e a inigualável tarde na casa da vó.

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Enquanto morei com eles, na casa dos fundos, repetidas vezes observei admirado aquela cena. Merecia, sem sombra de dúvida, uma foto. E que foto incrível daria. Mas só agora é que isso me ocorreu.

De longe já se ouvia a voz respeitosa acompanhando o texto. Desde que meu avô não conseguia mais ler sozinho, ela assumiu a função. A luz do abajur refletindo nos cabelos brancos deixava a cena ainda mais bucólica. Já passava das dez da noite, a casa e a rua faziam solene silêncio e ouvia-se unicamente a voz da Lalá, sentada ao lado de seu marido, com a Bíblia e um devocionário abertos, acompanhando a leitura diária. Era impossível interromper aquele momento. Anjos certamente sentavam-se ao redor. A sala era um templo. A casa uma catedral. E o Senhor sorria, tão enternecido quanto eu.

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Ela orava todos os dias por todos os netos e todos os bisnetos. Quando meus filhos nasceram, foi quem nos recebeu na porta. Nas duas vezes colocou sua mão enrugada na cabeça lisa do bebê e os abençoou dizendo, com lágrimas nos olhos – que você cresça em estatura e graça, diante de Deus e dos homens.

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No fechar dos olhos
Arlindo Lima

Quando o sol se põe sereno demoro a apreciar a cor
Se num eclipse foge o dia, choro por falta de calor
Do teu abraço amigo, do auxílio a prosseguir
E hoje aqui com sombra e frio, eu vim me despedir

Tuas palavras e teus gestos regeram vidas a cantar
Tua correção por certo, mostrou a trilha pra voltar
E apesar do tempo nada vai se apagar
Pois no fechar dos nossos olhos, tudo posso relembrar

E na presença do Senhor
Nos despedimos, mas com o penhor
De na presença do Senhor
Nos encontrarmos em ruas de ouro
Sem mais dor

Do CD Canções do Arraial
Compre aqui.

20 de maio de 2007

O Amado

Ironicamente, a própria igreja pode afagar o impostor conferindo ou retendo honrarias, oferecendo o orgulho de uma posição baseada no desempenho e criando a ilusão de status pelo escalão e pela ordem de importância.

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[Em um retiro na cominidade L'Arche, para pessoas com deficiência física e mental, Mike Yaconelli encontrou o eu verdadeiro. Citado no livro de Manning:]

Era na aceitação da falta de fé que Deus poderia me dar fé. Era ao acolher minha transgressão que poderia me identificar com a trangressão dos outros. Meu papel era identificar-me com a dor dos outros, não aliviá-la. Ministrar era compartilhar, não dominar; entender, não teologizar; cuidar, não consertar.

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Extraído do capítulo 3 de
O impostor que vive em mim
de Brennan Manning



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Todas as citações de “O Impostor que vive em mim”:

1. Saia do esconderijo
2. O impostor
3. O amado
4. O filho de Abba
5. O fariseu e a criança
6. A presença do ressurreto
7. O resgate da paixão
8. Coragem e fantasia
9. O coração pulsante do mestre
10. O coração pulsante do mestre II
11. O Evangelho do homem (comentário)

Esse livro foi publicado pela Mundo Cristão.
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16 de maio de 2007

O Brasil canta com Stelinha Egg

Orquestra e coro em arranjos especiais de Gaya.
O que foi escrito antes sobre minha tia-avó famosa causou tal comoção na família que acabei conseguindo mais alguns discos da Stelinha pra gravar em MP3 (obrigado Ieda). E consegui melhorar consideravelmente a qualidade da captura de áudio.
[ Disco de ouro de 1966 ]

capa-frente

capa-verso

A crítica aplaude Stelinha no estrangeiro

Abaixo, transcrevemos trechos de algumas críticas sobre a intérprete do presente L.P., em jornais da Europa:

“...... Stelinha Egg est la plus remarquable spécialiste de l´art populaira brèsilien. Elle nous donne um rapide mais três savoreux authenticité aperçu de cris de la rua, ceux dês vendeus dês marchandes dês fleurs, bien doutre encore. Tapage éblouissant et d´une colur nouvelle qui termine heuresement ce disque, que nous recommandons vivement”. (Henry Jacques)
“Disque”, Paris.


“...... Estava reservada uma surpresa ao público que acorreu a assistir Stelinha Egg... encontrar-se perante uma artista de excepcional grandeza, com uma personalidade e um talento que a situou para além do melhor que nos tem sido apresentado”.
“Diário de Notícias”, Portugal.


“......não é somente a cantora de voz magnífica e modulada. Stelinha Egg é sobretudo, uma grande atriz dramática de recursos extraordinários, vivendo e fazendo-se sentir o que canta ...... não faz diferença que as palavras sejam pronunciadas em língua estranha, pois ela com sua arte expressiva, fala a todos os povos na mesma linguagem...... (Constantin Vishnevetski)
“A Tarde”, Moscou.

Ouça o disco.


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Aproveitei a empolgação do momento para renovar o arquivo anterior. Gravei tudo de novo e agora o áudio está bem mais agradável. Clique aqui para ver a postagem anterior com o áudio mais aceitável.

14 de maio de 2007

O impostor

Não somos muito bons em reconhecer ilusões, muito menos as que nos são mais queridas — aquelas com as quais nascemos e que nutrem as raízes do pecado. Para a maior parte das pessoas no mundo, não há nenhuma realidade subjetiva maior do que o falso eu que possuem, e que não tem autorização para existir. Uma vida devotada ao culto dessa sombra é o que se chama de vida de pecado.

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A triste ironia é que o impostor não consegue experimentar intimidade em nenhum relacionamento. Seu narcisismo exclui os outros. Incapaz de ter intimidade consigo, além do alcance de seus sentimentos, intuições e percepções, o impostor é insensível ao humor, às necessidades e aos sonhos dos outros.

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Reconhecer com humildade que habito frequentemente num mundo irreal, que banalizei meu relacionamento com Deus e que sou levado por vãs ambições, tudo isso é o primeiro golpe para desmantelar minha imagem cintilante.

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A auto-aceitação é a essência do problema moral e o epítome da perspectiva integral para a vida. Dar comida aos pobres, perdoar um insulto, amar meu inimigo em nome de Cristo — todas são indubitavelmente grandes virtudes. O que faço para o menor de meus irmãos, o faço para Cristo. Mas e se eu descubrisse que o menor entre eles, o mais pobre dos mendigos, o mais despudorado dos infratores, o próprio inimigo em pessoa estão dentro de mim, e que eu mesmo preciso das minhas esmolas, e que eu mesmo sou o inimigo que precisa ser amado? E aí? Normalmente, nesse caso, revertemos a situação. Já não se trata de uma questão de amor ou de tolerância; dizemos ao irmão dentro de nós: "Raça" [Mateus 5:22], nos condenamos e nos enfurecemos contra nós mesmos. Escondemos isso do mundo; nos recusamos mesmo a admitir que encontramos esse ínfimo entre os inferiores dentro de nos mesmos.
C. J. Jung, Modera man in search of asoul, p. 235.

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Extraído do capítulo 2 de
O impostor que vive em mim
de Brennan Manning


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Todas as citações de “O Impostor que vive em mim”:

1. Saia do esconderijo
2. O impostor
3. O amado
4. O filho de Abba
5. O fariseu e a criança
6. A presença do ressurreto
7. O resgate da paixão
8. Coragem e fantasia
9. O coração pulsante do mestre
10. O coração pulsante do mestre II
11. O Evangelho do homem (comentário)

Esse livro foi publicado pela Mundo Cristão.
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9 de maio de 2007

Saia do esconderijo

Entre as muitas verdades encontradas no livro "O impostor que vive em mim", de Brennam Manning, está a terrível constatação de que Deus não é uma curtição, ou um ente superior destinado a nos fazer irremediavelmente felizes e despreocupados. Abaixo, a sugestão do autor de onde procurar Deus no ser humano.

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Procure um contemplador de verdade — não a pessoa que ouve vozes angelicais e que tem visões flamejantes com querubins, mas a pessoa que encontra Deus com confiança desguarnecida. O que este homem ou esta mulher lhe contará? Thomas Merton responde: Resigne-se de sua insuficiência e reconheça sua insignificância para o Senhor. Quer você entenda isso, ou não, Deus o ama, está presente em você, vive em você, habita em você, chama você, salva você e lhe oferece entendimento e compaixão que não se compara a nada que você algum dia tenha encontrado num livro ou ouvido num sermão.

...

O curador ferido conclui que a graça e a cura são transmitidas por meio da vulnerabilidade de homens e mulheres que foram atropelados pela vida e tiveram o coração rasgado. A serviço do amor, apenas soldados feridos podem se alistar.

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Extraído do capítulo 1 de
O impostor que vive em mim
Brennan Manning


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Todas as citações de “O Impostor que vive em mim”:

1. Saia do esconderijo
2. O impostor
3. O amado
4. O filho de Abba
5. O fariseu e a criança
6. A presença do ressurreto
7. O resgate da paixão
8. Coragem e fantasia
9. O coração pulsante do mestre
10. O coração pulsante do mestre II
11. O Evangelho do homem (comentário)

Esse livro foi publicado pela Mundo Cristão.
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Foi Deus quem fez nosso vizinho

Nós é que fazemos nossos amigos. Nós é que fazemos nossos inimigos. Mas Deus foi quem fez nosso vizinho.

Por isso é que o vizinho nos surge revestido de todos os inesperados terrores da natureza; ele é tão estranho como as estrelas, tão alheio e impassível como a chuva. É o Homem, o mais terrível de todos os animais. Donde as antigas religiões, bem como a linguagem bíblica, terem demonstrado tão profunda visão das coisas quando aludiram, não a nossos deveres para com a humanidade, mas a nossos deveres para com nosso vizinho.

O dever para com a humanidade pode muitas vezes tomar a forma de pura escolha, que é ato pessoal e até agradável. Pode ser uma ocupação favorita, pode ser mesmo um passatempo. Podemos trabalhar em favor dos bairros pobres de Londres porque fomos de algum modo talhados para tal trabalho, ou porque cremos que o fomos; podemos lutar pela causa da paz internacional porque nos agrada lutar. Podem resultar de nossa própria escolha, ou de simples questão de gosto, o martírio mais atroz, ou a experiência mais repulsiva. Podemos ter sido feitos de molde a ter predileção pelos doidos ou a sentirmos especial interesse pelo problema da lepra. Podemos encantar-nos com os negros porque são pretos, ou como os socialistas alemães porque são pedantes. Mas quanto a nosso vizinho, a este temos de amar porque ele está ali — razão muito mais alarmante e que requer reações afetivas muito mais difíceis. Ele é a amostra viva da humanidade que nos coube. Precisamente porque pode ser qualquer pessoa, ele é como toda a humanidade junta. É um símbolo, no sentido de que é mero acidente.Está provado que os homens fogem de seus arredores para terras muito mortíferas, o que, não obstante, é muito natural, visto que não é da morte que eles fogem. Eles fogem é da vida. E o mesmo se verifica em relação a cada um dos círculos concêntricos do sistema social.

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Trecho do capítulo XIV de "Heretics", de Chesterton. Tradução: Aíla Gomes. Publicado em A Ordem, Out/54. Grato ao Saulinho, que me conseguiu essa preciosidade.

7 de maio de 2007

Nativos da ilha de Santa Catarina

A glória dos jovens é a sua força; e a beleza dos velhos são as cãs.
Provérbios 20:29

A influência de velhos na minha vida foi enorme. Especialmente meus avós por parte de pai e a dupla dinâmica Ica e a Aci. Uma das mais improváveis lembranças da minha infância foi a tarde que passei ouvindo histórias de uma velhinha que fomos visitar no asilo, deitado no seu colo. Foi a única vez que vi aquela mulher, que me contou histórias de terror sobre morcegos. Pouco depois ela morreu.

Por isso sempre que vejo um rosto sulcado pelo tempo, me emociono. E me emocionei bastante acompanhando esse esnsaio fotográfico sobre nativos da ilha de Santa Catarina. Vela a pena conferir.

Gente da Ilha
Sete histórias de vida da Ilha de Santa Catarina.

Ensaio fotográfico muito interessante de Mariana Vasconcelos.

"Gente da Ilha é um trabalho de fotografia documental que registra um pouco da história e cultura da Ilha de Santa Catarina através de cenas do cotidiano de sete nativos acima de 80 anos. "

Clique aqui para ver o ensaio.

3 de maio de 2007

Nos passos de Yesu

Pela grandeza da mensagem, irresistivelmente sugado do blog do Gladir Cabral.

"Jamais me esquecerei da noite em que fui expulso de minha casa. Dormi ao relento, debaixo de uma árvore, e fazia muito frio. Jamais havia experimentado tal coisa. Então pensei: 'Ontem eu vivia no conforto. Agora estou tremendo de frio, e faminto, e sedento. Ontem eu tinha tudo o que necessitava e muito mais; hoje não tenho mais abrigo, nem roupas quentes, nem comida'. Por fora a noite era difícil, mas eu sentia uma grande alegria e paz em meu coração. Eu estava seguindo os passos de meu novo mestre - Yesu, que não tinha onde repousar a cabeça, que fora desprezado e rejeitado. No luxo e no conforto de casa eu não havia encontrado paz. Mas a presença do Mestre mudou meu sofrimento em paz, e esta paz nunca mais me abandonou" (Sundar Singh, Wisdom of the Sadhu, p. 29).


No blog tem alguns outros trechos do mesmo livro, que narra os impressionantes caminhos que levaram o hindu Sundar Singh a seguir os passos do mestre Yesu.

2 de maio de 2007

Evangelho e cultura

Uma grande dificuldade que o cristianismo tem é se relacionar com a cultura que o cerca de forma pacífica. Reside em nossos corações o medo de perder a fé e ser atacado pelo inimigo que sorrateiramente nos espreita atrás de cada manifestação cultural. Esse mesmo medo se estende para a tecnologia e o conhecimento. Vivemos cercados de medos porque cremos em um inimigo tão forte e inteligente quanto aquele que habita em nós.

Esse medo é particularmente manifesto quando a cultura carrega, explicitamente, religiosidade consigo. Por esse motivo, temos especial dificuldade com as culturas orientais. Coisas como yoga, tai-chi-chuan, do-in e acupuntura, causam arrepios aos cabelos da maioria dos crentes. Inúmeros são os relatos de cristãos que foram influenciados negativamente por essas atividades. Sentiram-se oprimidos, afastados de Deus, bloqueados, depressivos ou agressivos por terem se envolvido com coisas que pertencem aos demônios.

É certo que as técnicas orientais de meditação, relaxamento, medicina e exercícios têm excelentes resultados sobre a saúde do ser humano. Sabe-se que séculos e mais séculos de sabedoria humana estão envolvidos na formação dessa cultura. Mas em nome de Deus (ou do diabo), o cristianismo tem jogado isso no saco da religiosidade demoníaca e mantido uma distância segura desse ‘inimigo’.

A principal questão que se levanta é: até onde vai a cultura e onde começa a religião? É possível aproveitar um sem se envolver com o outro?

Interessante perceber que essa questão era corrente também nos tempos da igreja primitiva. Cultura e religiosidade eram coisas indivisíveis. E, a julgar pelas cartas de Paulo, a comunidade cristã em algumas cidades também sofria desse medo cultural.

"Feliz é o homem que não se condena naquilo que aprova."

Nesse contexto, semelhante ao nosso, Paulo escreve aos romanos (Rm14), ao tratar da necessidade ou não de se abster dos alimentos oferecidos aos ídolos: 'cada um deve estar convicto em sua própria mente'. O argumento dele parece ainda mais ousado quando diz que 'feliz é o homem que não se condena naquilo que aprova' concluindo ainda que 'aquele que tem dúvida, é condenado se comer' (de onde se conclui que a condenação não reside no ato de comer, mas na consciência de quem come). E aos corintios (1Co 8), Paulo diz que, 'em relação aos alimentos sacrificados aos ídolos, sabemos que o ídolo não significa nada no mundo e que só existe um Deus'. Mas, argumenta Paulo, alguns ainda comem alimentos sacrificados como se o ídolo fosse alguma coisa de poder semelhante à Deus e pudesse, de alguma forma, se opor à Ele 'e como a consciência deles é fraca, fica contaminada'. E como o assunto é polêmico e recorrente, Paulo ainda insiste (1Co10.23): 'comam tudo que tem no mercado sem fazer perguntas por causa da consciência'. E mais algumas vezes ele insiste que o problema não está no demônio que a cultura insere no alimento, mas na consciência de quem se alimenta, e pergunta: 'porque minha liberdade deve ser julgada pela consciência do outro?' Ou seja: se estou tranqüilo, de cuca fresca, me deixem comer em paz!

Só nos sentimos seguros entre os muros gelados da nossa instituição religiosa. Lá somos intocáveis. Lá temos o corpo fechado.

Mas nós temos muita dificuldade de agir com liberdade nessas questões. Nosso medo continua - mas se eu for lá na aula de yoga e isso for mesmo coisa do diabo? - Parece que ele vai desapercebidamente, grudar na minha "canguta", como naquele famoso romance cristão. E vivemos à sombra do medo. E só nos sentimos seguros entre os muros gelados da nossa instituição religiosa. Lá somos intocáveis. Lá temos o corpo fechado.

Engraçado é que fomos chamados para ir ao mundo, mas poucos têm essa coragem. Se nos falta coragem, se somos fracos, como diz Paulo, é porque nos falta a essência daquilo que Jesus pede de nós – amor. Porque o amor lança fora o medo. E se foi para liberdade que Cristo nos libertou, que liberdade é essa que nos faz temer o ataque do inimigo em cada canto da cultura que nos cerca?

Porque vocês se submetem a regras: não manuseie! não prove!, não toque!?

Paulo prossegue na luta de libertar o cristão desse medo. Aos colocensses (Cl2), ele pede que 'não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem, ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou dos dias de sábado'. Todas essas coisas envolviam, naquele tempo, uma miscelânea indivisível de religiosidade e cultura, mas Paulo pergunta sarcasticamente: 'porque vocês se submetem a regras: não manuseie! não prove!, não toque!?' E ainda termina provocando: 'essas regras têm, de fato, aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e severidade com o corpo, mas não têm valor algum para refrear os impulsos da carne'. Ele parece insistir que o problema está em outro lugar, muito mais próximo de nós do que a cultura. Está dentro, escondido num canto escuro do nosso coração evangélico e bem comportado.

Nós insistimos em que o viver santo carece de abstermo-nos do mal e, por isso, arranjamos algumas formas de conduta que possam ser julgadas como más, para podermos nos abster delas e termos aquela bela sensação de santidade. No entanto (Cl3), 'povo de Deus, santo e amado', se queremos um viver santo, 'revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito'.

Porque o poder de atuação do mal sobre nós reside em nossas dúvidas, temores e medos.

Portanto, no que diz respeito à cultura que nos cerca, deixemos de nos preocupar com os demônios que habitam escondidos pelos cantos. Porque toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto. E a cultura oriental, bem como toda forma de cultura, está repleta de boas dádivas, que geram saúde, sabedoria, capacidade de concentração e relaxamento. Desfrutemos dessas boas dádivas com nossas consciências tranqüilas. Porque o poder de atuação do mal sobre nós reside em nossas dúvidas, temores e medos.

E quando ouvimos aquele testemunho do rapaz que fez acupuntura e se viu bloqueado em relação ao seu relacionamento com Deus? Creio que nesses casos, o crente se sente, no canto do seu quarto, sozinho diante de Deus, como a criança que foi pega por ter roubado doces. A consciência do sujeito já o havia condenado muito antes da primeira agulhada. E, como a consciência dele era fraca, ficou contamidada.

Sim, Paulo nos exorta a cuidarmos dos fracos. Mas esse cuidado inclui, certamente, o ensino e encorajamento para fortalecê-los. E não o amparo de uma mãe superprotetora que carrega galos crescidos debaixo das asas. Por isso, como Paulo (Ef3), devemos orar à Deus 'para que ele os fortaleça no íntimo do seu ser com poder, por meio do seu Espírito'.