28 de junho de 2007

O evangelho do homem

Uma das partes centrais do evangelho é o que ele diz a respeito do homem. Na sociedade mística e antropocêntrica que vivemos, é mais fácil, de certa forma, que alguém venha a crer no que a bíblia diz sobre Jesus, do que no que Jesus diz sobre o ser humano.

Absolutamente indiferente a nossa mania de grandeza e auto-sufuciência, Jesus declara que os que realmente tem alguma virtude são aqueles que não tem a menor consciência de tê-la. O pobre, fraco, humilde, excluído, rejeitado é maior que todos, justamente porque sabe que realmente não vale nada. Mas a afirmação verdadeiramente terrível é a de que o Reino do Céu é desses, e não de outros.

Um ítem importantíssimo foi deixado de lado das nossas confissões de fé. Cremos em Deus pai, todo-poderoso, em Jesus Cristo, seu único filho e no Espírito Santo, mas não cremos no impostor que vive em nós. Insistimos em imaginar que quando a graça de Deus nos alcança, tornamo-nos merecedores dela, pela santificação ou seja lá o que for. Mas não percebemos que nesse instante, como disse Paulo aos Gálatas, caimos da graça.

Na minha confissão, inseri esse item. Creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo, mas creio também no impostor que vive em mim e me faz totalmente dependente da graça de Deus.



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“O Impostor que vive em mim”

é um excelente livro de Brennan Manning
p
ublicado pela Mundo Cristão.
Você pode comprá-lo aqui.

26 de junho de 2007

A escuridão me basta

Descaradamente sugado do Blog do Jorge Camargo que, não por acaso, cito nos meus links favoritos aí ao lado.

Tu não és como o tenho imaginado

Senhor, é quase meia-noite e estou Te esperando na escuridão e no grande silêncio.

Lamento todos os meus pecados.

Não me deixe pedir mais do que ficar sentado na escuridão, sem acender alguma luz por conta própria, nem me abarrotar com os próprios pensamentos para preencher o vazio da noite na qual espero por Ti.

Deixa-me virar nada para a luz pálida e fraca dos sentidos, a fim de permanecer na doce escuridão da Fé pura.

Quanto ao mundo, deixa-me tornar-me para ele totalmente obscuro para sempre.

Que eu possa, deste modo, por esta escuridão, chegar enfim à Tua claridade.

Que eu possa, depois de ter me tornado insignificante para o mundo, estender-me em direção aos sentidos infinitos, contidos em Tua paz e Tua glória.

Tua claridade é minha escuridão. Eu não conheço nada de Ti e por mim mesmo nem posso imaginar como fazer para Te conhecer.

Se eu te imaginar, estarei errado.

Se Te compreender, estarei enganado.

Se ficar consciente e certo que Te conheço, serei louco.

A escuridão me basta.

24 de junho de 2007

Stellinha e as crianças

Para Aladia

Mais 2 LPs de vinil da tia famosa digitalizados e disponibilizados.

Stellinha com coral de crianças
1. Nossas datas queridas
2. Cantigas de roda




Stellinha e Gaya
Gaya (à esquerda), Stelinha e mais alguém.

Stellinha Egg
Dedicatória para minha avó, Aladia, e para tia Stella.

21 de junho de 2007

A magnífica expedição ao quintal de casa

Passei alguns anos da minha vida aproveitando todo tempo livre para dedicar-me a subir montanhas. Desde trilhas leves até paredes verticais de rocha, com alto grau de comprometimento, passando pelas maravilhas do vôo livre, lançando-me no vazio do cume de algumas serras por aí.

Recentemente, com o advento das responsabilidades paternas, afastei-me desse meio, salvo por uma ou outra incursão, como a travessia do ano passado.

Mas continuo fazendo planos mirabolantes em minha mente. E sempre penso em como incluir meus pequenos bacuris nas minhas andanças. É verdade que já subi o humilde Spitzkopf algumas vezes. Recentemente estivemos também no cume do Morro dos Perdidos, em Tijucas do Sul – um excelente passeio em família. Mas minha mania de grandeza me faz sempre pensar em feitos extravagantes e raramente observar as oportunidades simples e adoráveis ao meu redor.

Felizmente meus filhos têm a cabeça muito mais no lugar que eu, e me convidaram para uma irrecusável aventura no quintal de casa. Nos armamos de botas de caminhada, mochila, lanche, água, chapéu e binóculos e nos lançamos nas emoções e perigos da terrível floresta no nosso quintal.

Quintal de casa

Quintal de casa

Quintal de casa

Nunca teria pensado nisso, não fosse o eterno apetite da infância.


Mais fotos aqui e aqui.

20 de junho de 2007

Hocus-Pocus

Pouco depois do grande salto que transformou o cristianismo de subversivo e perseguido em religião oficial do Estado Romano, o latim tornava-se a linguagem popular de todo o império. A igrejas cristãs já haviam sido agraciadas com suntuosos prédios e rígida estrutura de poder e liturgia. A ceia cristã já havia perdido suas caracerísticas de celebração coletiva e tomado ares místicos. No sacramento da eucaristia o ministro proferia ritulisticamente, em latim, as palavras "hoc est corpus meun", que significa "este é o meu corpo". Alguns creditam a Ambrósio de Milão (339-397 d.C) a origem da crença na transubstanciação do pão e do vinho. Segundo ele, a simples pronúncia das palavras liturgicas convertia, como que por magia, o pão e o vinho no corpo e sangue de Jesus.

Corpo de quem?
O termo ganhou força e solidificou definitivamente seu status de mágico, devidamente transfigurado, como de contume nessas complexas evoluções linguísticas.

A origem já caiu no esquecimento. O significado já não têm a menor importância. A definição já não faz sentido. O que importa mesmo, com o passar do tempo, é a conotação.

"Porque eu não sei. Só sei que aquele padre levantava um pão e um caneco pro céu, falava um 'hocus-pocus' e pronto, tava feita a magia!"

18 de junho de 2007

O coração pulsante do mestre II

Nossa salvação e força residem na confiança total no Grande Mestre que partiu o pão com Zaqueu, o proscrito. Partilhar de uma refeição com um pecador notório não foi um mero gesto de tolerância liberal e de sentimentalidade humanitária. Foi a corporificação de sua missão e mensagem: perdão, paz e reconci­liação para todos, sem exceção.

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A prometida paz que o mundo não provê encontra-se num relacionamento apropriado com Deus. A auto-aceitação só se torna possível quando confio radicalmente que Jesus me aceita como sou. Dar boas-vindas ao impostor e ao fariseu dentro de mim marca o início da reconciliação comigo mesmo e o fim da esquizofrenia espiritual.

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O coração fala ao coração. O Mestre roga: "Você não entende que o discipulado não está relacionado com ser correto, perfeito ou eficiente? Tem tudo a ver com a forma pela qual vocês convivem". A cada encontro, damos ou sugamos vida. Não há intercâmbio neutro. Realçamos a dignidade humana ou a diminnuímos. O sucesso ou fracasso de um dia qualquer se mede pela qualidade do nosso interesse e nossa compaixão pelos que nos rodeiam. Nós nos definimos pela reação à necessidade humana.

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Extraído do capítulo 9 de
O impostor que vive em mim
de Brennan Manning



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Todas as citações de “O Impostor que vive em mim”:

1. Saia do esconderijo
2. O impostor
3. O amado
4. O filho de Abba
5. O fariseu e a criança
6. A presença do ressurreto
7. O resgate da paixão
8. Coragem e fantasia
9. O coração pulsante do mestre
10. O coração pulsante do mestre II
11. O Evangelho do homem (comentário)

Esse livro foi publicado pela Mundo Cristão.
Você pode comprá-lo aqui.

13 de junho de 2007

O coração pulsante do mestre

Sem suas feridas, onde estaria seu poder?

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A vida dos que se engajam plenamente no conflito humano será crivada de balas. O que aconteceu com Jesus vai, de alguma forma, acontecer conosco. As feridas são necessárias. A alma, assim como o corpo, precisa ser ferida. Pensar que o estado natural e apropriado é permanecer ileso é pura ilusão. Aqueles que usam coletes a prova de balas para se proteger do fracasso, do naufrágio e do coração despedaçado nunca saberão o que é o amor. A vida sem ferimentos não mostra nenhuma semelhança com a do Mestre.

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As depressãos, ciumeiras, narcisismo e fracassos não estão na contramão da vida espiritual. Na verdade, lhe são essenciais. Quando cultivados, impedem que o espírito entre arremetidamente no ozônio de perfeccionismo e orgulho espiritual.
Thomas Moore, The care of the soul, P. 263

O impostor que vive em mim não deve (nem pode) ser morto, mas encarado com sinceridade.

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Com quem falarei abertamente? A quem posso revelar minha alma? Para quem ousarei dizer que sou malévolo e benevolente, casto e vulgar, compassivo e vingativo, altruísta e egoísta; que por debaixo de minhas palavras corajosas vive uma criança assustada, que me imiscuo na religião e na pornografia, que manchei o cará­ter de um amigo, traí a confiança, violei uma confidencia, que sou condescendente e sério, intolerante e fanfarrão, que realmente odeio quiabo?

Se expuser o impostor e revelar o verdadeiro eu, o maior medo é ser abandonado por meus amigos e ridicularizado por meus inimigos.

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Extraído do capítulo 9 de
O impostor que vive em mim
de Brennan Manning



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Todas as citações de “O Impostor que vive em mim”:

1. Saia do esconderijo
2. O impostor
3. O amado
4. O filho de Abba
5. O fariseu e a criança
6. A presença do ressurreto
7. O resgate da paixão
8. Coragem e fantasia
9. O coração pulsante do mestre
10. O coração pulsante do mestre II
11. O Evangelho do homem (comentário)

Esse livro foi publicado pela Mundo Cristão.
Você pode comprá-lo aqui.

9 de junho de 2007

Criaturas da noite

Todo fim de tarde é idêntico. Antes mesmo de descer da moto já posso prever tudo que terei que enfrentar ao entrar em casa. Começou há alguns anos e não posso, de forma alguma, imaginar as forças que estão envolvidas nesse mistério. Os mesmos sons se repetem diariamente ao me aproximar da porta.

Na maior parte do ano chego em casa quando a barra escura da noite já encobriu todo o céu. As criaturas da noite estão começando sua intrigante e mórbida cantoria e a floresta impede que a luz da lua ilumine a porta de entrada da casa. Os sons do lado de dentro se confundem com miados agudos, grunhidos terríveis ou risos assustadoramente infantis, mas cessam imediatamente quando a porta se abre.

Mal posso crer que está acontecendo tudo de novo. Não há como evitar. Sei que a única maneira de me livrar da maldição por mais uma noite, a única forma de conseguir descansar na minha própria casa, é encontrando a origem dos sons. Só então estarei livre até que tudo se repita no dia seguinte.

Encho o peito de ar inconscientemente crendo que isso me enche também de coragem. Sei exatamente qual será o fim de tudo isso, mas não posso evitá-lo. A única chance de encontrar a paz é enfrentando os horrores que se escondem todas as noites pelos cantos da casa.

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"[Deus] é forte o suficiente para se alegrar na monotonia. É possível que Deus diga a cada manhã para o sol: 'faça novamente'; a cada noite, ele se volta para a lua e diz: 'faça outra vez'. É possível que não seja uma necessidade automática que produza as margaridas iguais; pode ser que Deus crie todas as margaridas separadamente, mas ele nunca se cansa de fazê-las. É bem possível que tenha o eterno apetite da infância, pois nós pecamos e envelhecemos, e nosso Pai é mais jovem do que nós mesmos".
(Chesterton, citado por Philip Yancey em Alma Sobrevivente)

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O ar de mistério é sempre drasticamente rompido por duas sonoras risadas. É quando surgem, invariavelmente debaixo da mesa ou da escada, os rostos alegres dos meus filhos, realizados por terem repetido pela milésima vez (ou mais) a mesma brincadeira.

Essas duas criaturas me dão a alegria de, por alguns instantes, libertar-me da monotonia sisuda da vida adulta e participar novamente do eterno apetite da infância.

8 de junho de 2007

Coragem e fantasia

A medida de nossa profunda consciência da presença do Cristo ressurreto consiste na capacidade de nos posicionarmos a favor da verdade e de suportarmos a desaprovação dos que nos são importantes. A crescente paixão pela verdade evoca um desenvolvimento indiferente à opinião pública e ao que as pessoas dizem ou pensam. Não conseguimos mais nos deixar levar pela multidão ou fazer eco à opinião de outros. A voz interior "seja corajoso, sou eu, não tema" nos dá a certeza de que nossa segurança repousa no fato de não termos segu­rança alguma. Quando nos colocamos sobre os próprios pés e assumimos a responsabilidade por nosso eu singular, crescemos em autonomia e força pessoal e nos libertamos das amarras da aprovação humana.

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A única resposta correta e adequada à pergunta que se espalhou no tempo de Jesus — e que, no Novo Testamento, os discípulos também colocaram para Jesus — "Quando virá o fim e quais serão os sinais?" é, portanto: não se confundam com tais coisas, mas vivam a vida comum de cristãos, de acordo com a prática do Reino de Deus; então nada nem ninguém lhes sobrevirá inesperadamente que não seja o governo libertador do próprio Deus... Não importa se agora você está trabalhando no campo ou moendo milho, se é sacerdote ou professor, cozinheiro ou porteiro, ou um aposentado de idade avançada. O que importa é como está sua vida ao apegar-se à luz do evangelho de Deus, cuja natureza é amar toda a humanidade.

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Extraído do capítulo 8 de
O impostor que vive em mim
de Brennan Manning



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Todas as citações de “O Impostor que vive em mim”:

1. Saia do esconderijo
2. O impostor
3. O amado
4. O filho de Abba
5. O fariseu e a criança
6. A presença do ressurreto
7. O resgate da paixão
8. Coragem e fantasia
9. O coração pulsante do mestre
10. O coração pulsante do mestre II
11. O Evangelho do homem (comentário)

Esse livro foi publicado pela Mundo Cristão.
Você pode comprá-lo aqui.

5 de junho de 2007

O resgate da paixão

O número de pessoas que fugiram da igreja por ela ser paciente ou compassiva demais é despresível; o número dos que fugiram por achá-la demasiadamente implacável é trágico.

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Extraído do capítulo 7 de
O impostor que vive em mim
de Brennan Manning



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Todas as citações de “O Impostor que vive em mim”:

1. Saia do esconderijo
2. O impostor
3. O amado
4. O filho de Abba
5. O fariseu e a criança
6. A presença do ressurreto
7. O resgate da paixão
8. Coragem e fantasia
9. O coração pulsante do mestre
10. O coração pulsante do mestre II
11. O Evangelho do homem (comentário)

Esse livro foi publicado pela Mundo Cristão.
Você pode comprá-lo aqui.

4 de junho de 2007

A trilha

A trilha está sendo aberta passo-a-passo, vezes por força bruta, fazendo a poeira empapar no suor do corpo, vezes com naturalidade e leveza que fazem tudo parecer um sonho. Em alguns momentos cada um de nós sente estar pavimentando-a sozinho, fazemos muito mais força que o necessário, e toda a carga das pedras e areia ferem profundamente as mãos e deixam as costas tão surradas quanto uma bota velha.

Mas não é sempre assim.

A maior parte do tempo o trabalho é mecânico, repetitivo e indiferente. Especialmente nas longas e planas retas que se lançam sobre os vales e cristas das montanhas. Sei dos longos períodos de monotonia por uma consciência monocromática e distante, como se os fatos acontecessem em outra vida.

As lembranças que brotam mais vivas e cheias de cor, como fantasias infantis e contos fantásticos, são lembranças de frações do tempo, registradas quase sempre nas paradas para renovar as forças exauridas. Quando nos viramos para sentar e descansar – muitas vezes com o estranho desejo de abandonar o projeto – as paisagens que se formavam atrás de nós enquanto trabalhávamos sem que tivéssemos consciência delas, se mostram em todo seu esplendor. Vales profundos, cumes tocando os céus, gaviões cortando o vento com um assobio seco, sóis, luas e o vento gelado renovando o ânimo. São poucos minutos dentro de um cansativo dia de trabalho. Mas minutos que valem o esforço todo.

Já se passaram 10 anos desde que entramos naquele matagal sem rumo certo. Inúmeras vezes as opções se abrem como leques para nós. Optamos por um vale ou uma rampa escarpada sem a menor consciência do que encontraremos à frente, nem sempre cientes de que o importante não é o trajeto em si, mas o fato de o estarmos escolhendo e construindo juntos. Hoje mesmo não estamos certos de que os passos que estamos dando nos levarão a um local seguro ou a um oceano intransponível de gretas profundas.

De uma forma ou de outra, a motivação continua sendo quem está ao meu lado. E a esperança é que consigamos seguir caminhando cordilheira acima, juntos, pelos próximos 10 anos, e muito mais.