26 de novembro de 2007

Uma máquina

Vocês acham que Deus fez uma máquina que nem essa, que pisca, que ri, que chora, pra ficar carimbando cheque devolvido de pessoa que você não conhece?






Do blog ...do caminho.

18 de novembro de 2007

Não tenho nada com isso

Em dias em que nada é mais importante do que meu próprio umbigo, todas as nossas formas de julgamento moral têm dois pesos e duas medidas. Mesmo entre os mais bem intencionados (sutilmente, apesar das aparências) essa duplicidade é verdadeira. Entre as pessoas com que me relaciono, ninguém diria, analisando a sim mesmo, que é um egoista miserável. Mas a verdade é que todos lutamos exclusivamente por uma única causa - conforto pessoal.

Por exemplo. Sei que o Estado, tal como o concebemos, é responsável por algumas questões básicas na sociedade, tais como educação, segurança e saúde. E eles cobram caro por isso. Mas sei também que o Estado mostra-se absolutamente imcompetente para atuar nessas áreas, por isso me garanto. Tenho plano de saúde, previdência privada, seguro, alarme e grades nas janelas e meus filhos estudam em uma escola particular.

Me considero um dos cidadãos bem intencionados que citei no primeiro parágrafo, mas assumo corajosamente minha parcela pessoal de corrupção quando burlo a lei para pagar menos impostos ou ofereço uma ‘ajuda’ para que um policial faça vista grossa à minha falta. E tenho bons motivos para isso. Afinal de contas, é impossível sobreviver com todos os impostos que nos empurram goela abaixo, assim com é impossível andar em uma BR duplicada respeitando a absurda placa de 40 km/h.

Uso descaradamente o que está ao meu alcance para minimizar a ausência do Estado ou as injustiças impostas pela lei.

Mas existe gente por aí que não tem acesso aos luxos privados dos quais disponho (nem mesmo um trocado para colaborar com a força policial, ou a fiscalização no barraco). Gente que precisa de ajuda, que vive em situação lastimável, que não tem condições básicas para levar a vida com um mínimo de dignidade humana.

Mas isso não me diz respeito. Como me disse um dia desses um grande empresário de sucesso – faço minha parte pagando meus impostos (se ele paga mesmo tudo direitinho, nem perguntei).

O máximo, o supra-sumo, o êxtase de bondade que me cabe, é colaborar com algumas moedas aqui e ali, para que possa me ‘sentir mais leve’ como dizia uma bem-intencionada faixa por aí.

Enquanto isso uma série de entidades assistenciais e instituições de amparo aos excluídos pena mês a mês para conseguir manter-se em pé. Falta recurso financeiro, falta gente disposta a botar a mão na massa. Mas eu nem sei que entidades são essas – e é melhor nem ficar sabendo. Afinal de contas, definitivamente, não tenho nada com isso.

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Talvez algum incauto leitor fique curioso para conhecer as entidades de assistência social reconhecidas de Santa Catarina nas mais variadas áreas de atuação (criança, adolescente, idoso, portador de deficiência, dependente químico, etc). Existe até a possibilidade, ainda que remota, de que alguém resolva se envolver com alguma delas, doando seu tempo como voluntário, ou alguma espécie de recurso material.
Se for o seu caso consulte o CEASC.

Em outros estados, use o Google!

Vale a pena também conhecer o excelente trabalho da Visão Mundial.

9 de novembro de 2007

Bom Testemunho

Quem, como eu, cresceu em uma igreja evangélica, certamente ouviu muito a palavra "evangelismo". Normalmente vem acompanhada do conceito de "bom testemunho".

Esses dois termos me causaram grandes crises de consciência, principalmente na adolescência. Crer que a maioria dos meus amigos iria arder eternamente no inferno já era bastante ruim. Sentir-me responsável por isso era um fardo terrível. E o evangelismo, aprendi, só é eficaz se apoiado por um consistente "bom testemunho de vida". Ou seja, para falar a respeito de minha fé, devo ser alguém de comportamento exemplar. Há que se vigiar o próprio comportamento em todo o momento. Fugir não apenas do mal, mas também da aparência do mal.

Me esforcei bastante por manter o bom testemunho. Tanto, que pisei firme nos domínios da hipocrisia. Se não conseguia me manter santo, pelo menos que ninguém soubesse disso. Assim, quem sabe, conseguiria poupar o nome do meu Deus de ser envergonhado pelos meus atos deselegantes.


Naqueles tempos ainda não havia percebido que Deus não se importa com reputação. Ele não se envergonha de ter amigos com poucas qualidades e excesso de defeitos. Senta-se ao lado de qualquer um, para escândalo de muitos dos seus seguidores. Não se importa de ser visto em público rindo ao meu lado, mesmo sendo quem sou. Não olha para os lados antes de entrar em minha casa. Jamais escolheu as amizades levando em conta o que pensariam dEle. Ele próprio escolheu ser visto como o Deus dos fracos e doentes. Pelo menos é o que vejo claramente nos relatos bíblicos sobre Jesus.
Esse é um dos motivos pelos quais tenho tido cada vez mais dificuldades com as igrejas, principalmente as que selecionam cuidadosamente os que são dignos de figurar em seu rol de membros.

Eu não O conhecia. Aprendi tanto a respeito de seu atributos eternos, sua justiça e sabedoria, sobre suas leis, sobre todas coisas às quais Ele abomina...

Hoje só sei que Ele é meu amigo.

7 de novembro de 2007

O movimento pelo movimento

"Estou certo de que você já constatou que todos os anos seu celular, seu computador, os jogos que você utiliza - e tudo o mais - mudam: as funções multiplicam-se, as telas aumentam, colorem-se, as conexões da internet melhoram, etc. (...) Quem pode acreditar seriamente que vamos ser mais livres e mais felizes porque no ano que vem o peso de nosso aparelho de MP3 vai diminuir pela metade, ou sua memória duplicar? Conforme o desejo de Nietzsche, os ídolos morreram: de fato, nenhum ideal inspira mais o curso do mundo, só existe a necessidade absoluta do movimento pelo movimento".

Ao que tudo indica, o texto é de um tal de Rafael Campoy, que foi citado por J. Roberto Whitaker Penteado, no jornal Propaganda & Marketing, que, por sua vez, foi citado no polivalente blog do Pavarini (os que odeiam as imprecisões e superficialidades da internet – especialmente dos blogs – ficariam horrorizados com esse parágrafo).

Dura constatação. O movimento pelo movimento. Nada mais.

Eu até tenho uma bela proposta de um ideal a seguir. Mas não tenho coragem de segui-lo e, como conseqüência, sinto dificuldade em divulgar a proposta. Tenho falado sobre ela, meio reticente, em pequenos grupos subversivos aqui e ali. Tenho postado algo ainda informe aqui no blog, na busca desse ideal. Mas sou tímido demais, lento demais, pensativo demais, observador demais, medroso demais.


Mas vou seguir caminhando, a passo de lesma, rumo a esse ideal, e tentando levar algum infeliz comigo. Vamos ver até onde aguento.

Tentativas anteriores de mencionar o indigesto ideal:

Escuridão em Calcutá
Te cuida dos alçapão
O salto no vazio
Não há vida sem morte
Um momento pode valer uma vida
Muros e pontes
Evangelho e cultura
Nem no céu, nem no inferno