24 de outubro de 2008

Questão didática [1]

Mateus 23, 24, 25.

1. Destruição

Depois de 3 anos vagando sem destino pelo interior do país, o líder daquele bando finalmente caminhou convicto para a capital. Se ele fosse realmente quem esperavam, certamente estaria rumando para armar a grande reviravolta que livraria seu povo da opressão e os colocaria de novo em posição de destaque sobre todos as outras nações. Quando subiu as escadarias do templo, seu olhar penetrante revelava que tinha algo em mente, que estava às portas de iniciar o processo que culminaria na retomada do poder e controle da nação que havia sido escolhida por Deus. Ao menos era essa a expectativa de seus seguidores. Até que tudo começou a ruir.

Com convicção impressionante, a plenos pulmões, tomado daquela espécie de coragem e ousadia que faz todos se calarem, disparou como um arqueiro flechas certeiras sobre as autoridades religiosas da época. Bispos, apóstolos, profetas, pastores e líderes. Os ungidos do Senhor olhavam atônitos para aquele galileuzinho e sua corja de seguidores, enquanto ele disparava:

- Cobras venenosas! Caixões lacrados! Limpinhos por fora e por dentro apodrecidos!

Em poucos minutos o homem destruiu um importante referencial construido a duras penas por séculos de tradição religiosa.

- Vocês ainda querem ter homens como modelo de comportamento ético? - gritava o galileu aos seus discipulos nas entrelinhas. - Ainda querem criar um referencial humano que faça o trabalho por vocês? Ainda querem criar e reverenciar um segundo nível religioso onde possam colocar algumas pessoas para que se tornem seus intermediários? Querem apontar para eles e orgulharem-se deles pelo que são? Pois eu vou lhes mostrar o que eles são! Não são nada mais do que qualquer outro homem. Não são nada mais do que vocês mesmos. Vivem tão somente de aparência. Nada mais!

No final do discurso, saiu consternado. Enquanto atravessava os arcos e colunas do templo rumo a escadaria, ouviu o comentário de seus discípulos.

- É verdade, aqueles homens não valem um tostão. Mas veja que belo templo Senhor. Esse templo, esse local, esse culto que prestamos, essa liturgia toda, essa romaria, esse centro de poder, controle e unidade religiosa e social da nossa nação, esse lugar é lindo. É impressionante.

Com um longo suspiro, sem desviar os olhos do horizonte, o mestre balbucia entre os dentes:

- Disso tudo, não vai restar pedra sobre pedra!

As palavras penetram como espada a alma de seus seguidores. Não bastava ao rabi destruir todo o referencial humano. Ele precisava ir mais longe. Destruiu também, em uma única frase murmurada, 4 mil anos de história. Arrancou a bóia da mão do náufrago à deriva e o abandonou sozinho na imensidão do mar. Não há referencial físico. Não há tradição religiosa. Costumes e crenças. Peregrinações e rituais. Sem o templo, tudo isso desaparece. O silêncio toma conta do grupo que ruma para o cume do monte das Oliveiras, já do lado de fora do muro da grande cidade. Mas o assunto não para por aí. No cume do morro e ainda tomados de pavor, seus seguidores, atordoados com a imensidão vazia do horizonte que se descortinava diante deles, indagam ao mestre:

- Quando? Quando isso vai acontecer?

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Questão didática:
1. Destruição
2. Interlúdio
3. Só existe um quando

Um comentário:

  1. A palavra de autoridade.

    Pq teimamos em confiar em homens? pq não conseguimos desconrtruir isso? pq aceitamos um certo "poder" que nos é exercido com o nome de autoridade espiritual? será que aqueles a quem o Nazareno falou , não eram autoridades?

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