Vivemos em um tempo de controle total. Tá tudo dominado, diria o poeta do funk. Desde a dor de cabeça, que aliviamos com analgésico, passando pela temperatura do escritório, do quarto e do carro, devidamente condicionada, até a proliferação da espécie (graças à Deus). Sabemos previamente quando e para quantos filhos haveremos de entregar esse mundo mal cuidado para que, se tudo der certo, eles dêem um jeito na porcaria que andamos fazendo. Um final de semana prolongado pede consulta à meteorologia. Se não aceitarem o cartão, temos cheque. Se não aceitarem o cheque, um bocado de dinheiro vivo pra prevenir. Tudo absolutamente sob controle. Tudo planejado. Planejamos nosso futuro com planos de saúde, seguros, aplicações e previdências. Lutamos para evitar toda e qualquer possibilidade de solavanco no percurso.
O inesperado é nosso maior terror!
Na ânsia por um mundinho seguro direcionamos nosso tentáculos de controle e posse também para o mais imponderável dos alvos. Queremos (o cúmulo da pretensão) ter Deus sob controle. Daí vem a teologia alienada, os compêndios de doutrinas, as 4 leis espirituais, o apelo evangelístico que, se aceito, garante uma vaga no céu, o curso de batismo, a romaria dominical aos púlpitos sagrados, as correntes e os jejuns. Tudo em busca do controle e da segurança. Se eu fizer tudo direitinho, vai dar tudo certo. Metemos Deus no bolso, como nosso talismã. Temos ele todinho explicado em nossa cartilha e nos muitos cursos que fizemos e ainda faremos. Estigmatizamos os dons, transformamo-os em cargos, organizamo-os em ministérios e planejamos o calendário anual.
Nos resta, agora, aplicar a receita e papar o bolo.
A loucura que nos incomoda, que é nossa pedra no sapato, é a contragedora observação revelada nas desorganizadas páginas do novo testamento. O Cristo nos é revelado inesperado, intempestivo e selvagem como Aslam. Não se pode prever um passo daquele que, há dois mil anos, tentamos desesperadamente conter e controlar. Afirmam que o Espírito é vento. E onde anda o vento? Para onde vai? Quem o controla? Quem o mantém? Quem o retém?
Vento retido não é vento. Vento só é vento quando em movimento. E quanto maior e menos previsível ele é, tanto mais conhecemos sua força e tanto mais dobramo-nos diante de sua glória. Minha esperança e oração é que o vento seja forte o suficiente para me livrar do controle, rasgar as velas, arrancar o timão de minhas mãos, colocar-me à deriva. Tento, ao menos, convencer-me disso. Mas sei que minha alma anseia mesmo é pelo porto seguro, quente e confortável, que não exige nada de mim.
Gladir Cabral e João Alexandre cantam isso como ninguém:
Amigo Vento - Gladir Cabral - CD Claridade
O Vento - Gladir Cabral - CD Cantos e Sonhos
O Vento - João Alexandre - CD Acústico