29 de março de 2010

Capucho de algodão

Nos dias de hoje, é proibido envelhecer. E é para isso que estão aí os cosméticos, as plásticas, as academias, as vitaminas, os hormônios, os botox, as lipos, as tinturas, a moda. Não, não. Essas coisas estão aí para gerar renda, lucro, grana, bufunfa. Mas a motivação dos clientes é, a todo custo (e às vezes paga-se muito caro), evitar a velhice. Se não for possível evitar o mal, pelo menos a aparência do mal deve ser extirpada. Uma boa aparência (leia-se, uma aparência jovial) já é mais do que suficiente para a sociedade de fachada em que vivemos.

Cresci em contato íntimo, carinhoso, profundo e amoroso com gente velha de verdade. Já falei de todos eles aqui no blog. Velhinhos simpáticos de cabelo inda mais branco que o capucho do algodão'. Talvez seja a influência desses velhinhos que parecem ter saído de livros infantis que me tenha feito amar os cabelos brancos. Tenho a sensação sincera de serem eles uma coroa que o tempo dá aos nobres para provar-lhes a bravura diante de todos. Ostentá-los deveria ser motivo de honra. Fazem par perfeito com as rugas, sulcos de história, trincheiras de sentimentos, marcas de alegria e dor que o tempo imprime na face como o manto vermelho que cobre o corpo do rei.

Faz um ano que fios brancos começaram a me aparecer sorrateiramente nas têmporas e no cavanhaque. Fios de prata sinalizando discretamente que o menino é um homem. Chegará o dia que me cobrirão a cabeça por inteiro, mostrando ao mundo que o homem é um rei. Nesse dia, a sabedoria divina há me me fazer esquecido, incontinente e fraco, para que eu jamais saiba quem me tornei, até ouvir meu novo nome diretamente da boca do Pai.


'inda mais branco que o capucho do algodão'
Frase usada por Elomar Figueira na belíssima canção 'Cantiga do Estradar'


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O velhinhos dA Trilha:
Arthur | Aladia | Ica | Aci
Nativos da Ilha de Santa Catarina
Arthur em vídeo/depoimento sobre Stelinha Egg

26 de março de 2010

Allah

A pretensão da maioria dos cristãos, patente na sua patológica síndrome de perseguição, é a de que sempre, em todos os cantos do planeta, seus representantes legítimos são agentes do bem enquanto representantes de outras religiões são agentes do mal.

Algo os faz crer que somente eles, os cristãos, terão créditos suficientes com o criador para garantir seu lugar no paraíso. Importante frisar que para esses, alguém só tem o direito de ser contado entre eles quando [1] creu na ortodoxia correta, [2] fez a oração certa (terminando com 'em nome de Jesus, amém'), [3]  passou pelo batismo correto e [4] tem seu nome constando no rol de membros de alguma igreja cristã aceitável. Se o crente que julga for evangélico, não serão aceitas igrejas católicas, ortodoxas, cooptas etc. Se for católico, não serão aceitas igrejas evangélicas e por aí vai.

Quando 'cristãos perseguidos' são mortos em algum canto remoto do planeta, as notícias se espalham e a comoção é geral, e justa. Morreu um dos nossos, é o sentimento geral. Mas o que dizer quando muçulmanos envolvidos com uma ONG cristã são mortos enquanto doavam suas vidas em favor dos fracos e oprimidos, na luta pela justiça, na promoção do bem comum?

É claro que, se você for adepto da lógica da Doutora Norma, isso não tem absolutamente nenhum valor, já que Cristo já fez tudo pelos pobres e oprimidos e a nós cabe cruzar os braços e curtir a salvação. Quem se envolve com o bem do outro só pode ser um comunista esquerdista miserável e nada tem de cristão nem mesmo se for cristão, pior ainda se for muçulmano.

Eu, aqui do meu cantinho confortável e seguro, aplaudo a ONG cristã que abraçou esses irmãos muçulmanos, discípulos fiéis do islamismo, que seguiam os passos de Jesus de forma mais integra que a imensa maioria dos crentes de banco, e dos que escrevem textos ácidos em blogs. Que Deus os tenha.



Veja lambém:
Nem no céu nem no inferno

25 de março de 2010

Natureza e produção

Por isso, nós tornamos vulgar (e até profanamos) o sábado se o considerarmos simplesmente como um dia em que os hebreus faziam o estritamente necessário. A prescrição de um repouso periódico para a terra e para os homens que trabalham significa destruir a tentativa (a tentação) do homem em controlar a natureza e de maximizar a produção.

Citado no Amarelo Fosco.
Vejá lá o texto completo.

22 de março de 2010

Tertulia

Descobri recentemente que igreja é tertúlia. Não há dúvida de que o seja. O Padre Almeida e o pessoal da NVI certamente não conheciam o termo, mas não há melhor que designe a ekklesia do que este. Porque igreja, estamos carecas de saber, é uma palavra vitimada pela rebeldia da conotação que se despregou da definição, como a sombra de Peter Pan, e ganhou vida própria... e trágica.

Então esbarrei casualmente nessa palavra que me agradou os ouvidos feito assobio de sabiá. Amando primeiramente a nobreza do som da palavra e seu acorde medieval, fui em seguida verificar a onipresente wikipédia, que já me trouxe informação satisfatória:

"A tertúlia é na sua essência uma reunião de amigos, familiares ou simplesmente frequentadores de um local, que se reúnem de forma mais ou menos regular, para discutir vários temas e assuntos."

Enlevado por essa suficientemente singela definição, saí por aí difundindo a palavra. Foi quando o semi-gaucho Douglas, ao ouvir-me referindo ao termo, me enviou de presente a definição poética e definitiva do vocábulo dada e interpretada pelo gauchesco Os Serranos, no Galpão Crioulo de 1983.



Tertúlia
Os Serranos (Leonardo)

Uma chamarra, uma fogueira,
uma chinoca, uma chaleira
uma saudade, um mate amargo,
e a peonada repassando o trago.

Noite cheirando a querência
das tertúlias do meu pago.

Tertúlia,
o eco das vozes perdidas no campo afora
cantigas brotando livres
dando prenúncio da aurora.

É rima sem compromisso,
julgamento, castração
onde se marca o compasso
no bater do coração.

19 de março de 2010

Danças e folguedos

Sexta-feira que vem é dia de abraçar o ócio com gosto, em meio a muita música, poesia, contos, crônicas, pinturas, desenhos, danças e folguedos. Embalados pelo som de Roberto Diamanso e a sanfona arretada de Cézar do Acordeon. Estão todos convidados.

Se de alguém eu me compadecia
Não tinha tempo, não podia, eu não chorava
Me despedi dos foliões da alegria
E trabalhava, trabalhava, trabalhava

(...) cansado em meio a esse frenesi
Quase sem tempo de ouvir, alguém me recitou

Pra que acordar cedo e dormir tarde?
Pra que comer o pão com tanta dor?
Se aos que Deus ama ele dá o pão enquanto dormem (...)
____________________________
Trecho de "Olho dágua das flores",
de Roberto Diamanso

Largue tudo. Deixe tudo pra trás. Caso contrário, não venha depois me dizer que não avisei.

Tudo sobre o Sarau aqui.

Veja também:
Te cuida dos alçapão
Uma sexta feira

18 de março de 2010

Irmão

Se ele sempre está do meu lado
No trabalho ou lotação
E agora traz o olho molhado
Chora comigo, irmão

Se atravesso a rua com ele
Braço dado, sem visão
Mesmo seguindo outro caminho
Sou teus olhos, irmão

Se me liga no meio da noite
Como dói a solidão
Um ouvido agora lhe basta
Fala comigo, irmão

Se o vejo num banco de praça
Em farrapos, chapéu no chão
O desprezo é maldade do mundo
Sento contigo, irmão

Se deitado num leito branco
Com seus dias contados na mão
O tempo inclemente o chama
Estou do seu lado, irmão

São tantos por todos os cantos
Mas só um ao alcance das mãos
Não, ele não pesa pra mim
É amigo, é irmão


Escrito sob a sombra inclemente dos "The Hollies"
com sua tocante He ain't heavy, he's my brother.

15 de março de 2010

Deficit moral

Levantei os olhos ao céu, que começava a embruscar-se, mas não foi para vê-lo coberto ou descoberto. Era ao outro céu que eu erguia a minha alma; era ao meu refúgio, ao meu amigo. E então disse de mim para mim: "Prometo rezar mil padre-nossos e mil ave-marias, se José Dias arranjar que eu não vá para o seminário".

A soma era enorme. A razão é que eu andava carregado de promessas não cumpridas. A última foi de duzentos padre-nossos e duzentas ave-marias, se não chovesse em certa tarde de passeio a Santa Teresa. Não choveu, mas eu não rezei as orações. Desde pequenino acostumara-me a pedir ao céu os seus favores, mediante orações que diria, se eles viessem. Disse as primeiras, as outras foram adiadas, e à medida que se amontoavam iam sendo esquecidas. Assim cheguei aos números vinte, trinta, cinqüenta. Entrei nas centenas e agora no milhar. Era um modo de peitar a vontade divina pela quantia das orações; além disso, cada promessa nova era feita e jurada no sentido de pagar a dívida antiga. Mas vão lá matar a preguiça de uma alma que a trazia do berço e não a sentia atenuada pela vida! O céu fazia-me o favor, eu adiava a paga. Afinal perdi-me nas contas.

"Mil, mil", repeti comigo.

Realmente, a matéria do benefício era agora imensa, não menos que a salvação ou o naufrágio da minha existência inteira. Mil, mil, mil. Era preciso uma soma que pagasse os atrasados todos. Deus podia muito bem, irritado com os esquecimentos, negar-se a ouvir-me sem muito dinheiro... Homem grave, é possível que estas agitações de menino te enfadem, se é que não as achas ridículas. Sublimes não eram. Cogitei muito no modo de resgatar a dívida espiritual. Não achava outra espécie em que, mediante a intenção, tudo se cumprisse, fechando a escrituração da minha consciência moral sem deficit. Mandar dizer cem missas, ou subir de joelhos a ladeira da Glória para ouvir uma, ir à Terra Santa, tudo o que as velhas escravas me contavam de promessas célebres, tudo me acudia sem se fixar de vez no espírito. Era muito duro subir uma ladeira de joelhos; devia feri-los por força. A Terra Santa ficava muito longe. As missas eram numerosas, podiam empenhar-me outra vez a alma...

Machado de Assis, no capítulo XX de Dom Casmurro.

11 de março de 2010

Mar grande

Já fazia tempo que não entrava em um mar tão grande. Não que eu seja homem do mar, como Florentino da Mata, apesar do nome, mas o tamanho e a força das ondas em sequências infinitas me fizeram gosto e arrancaram de mim, além da respiração ofegante, lembranças doces, apesar do mar.

Das férias com os primos gaúchos, aliás, poderia escrever um livro digno de Tom Sawyer. Orgulho-me de pegar ondas sem prancha, no peito, no pêlo. Foi assim desde guri. Varávamos a arrebentação à nado, melhor se fosse em dia de ressaca, com a água puxando a gente mar adentro, como olhos de Capitu, vento forte, mar crespo, repuxo bruto e transversal. Entrávamos na linha da casa cinza para depois de duas ondas já perdermos a bendita de vista. Era raro o pé encontrar o chão. Boiávamos, nadávamos, arrastados pela água, à espera das grandes que nos roubariam o fôlego por quase uma eternidade. Avistada a escolhida, começava a busca calculada pelo ponto certo, pelo momento extado, quando pernas e braços sincronizavam movimentos obstinados e precisos até o corpo esguio e ereto deslizar oblíquo na parede de água. Os braços, então, fixavam-se firmes para trás, colados ao corpo, o peito inflava e a cabeça lançava-se para cima, olhos semicerrados protegendo-se dos respingos e o nariz como seta apontando a areia, até que, já no raso, a vaga abandonasse o corpo. Então tornávamos às ondas, eufóricos, ofegantes e incansáveis, durante toda tarde, até escurecer. Não sei onde meus pais estávam com a cabeça.

Saíamos da água ao poente, rosto ardido de sol e sal, caminhando pela areia como Netunos, torcendo pela próxima ressaca e pelo vento sul, que nos traria novamente as grandes.


Para Paulo e Ique, em memória a tudo que
passamos juntos no tempo em que éramos heróis.

8 de março de 2010

Soluços

Poemas me surgem como soluços. Vem assim, sem aviso, sem motivo, no meio da tarde, ninguém sabe porquê, e não se sabe o que fazer com eles. Quase sempre de rimas pobres, já me disseram infantis, como esses que estão espalhados pelo blog. Cuido de anotar alguns, mas a maioria nem anoto e se perde como as idéias.

Não tenho amigo de escrita, desses a quem se pode mostrar um poema, e que vai lê-lo com gosto, mesmo que no fim aperte a cara e diga, com a boca enviesada - não gostei. E diga os porquês. Portanto, não tenho como aferir um poema e, de tudo que escrevo, é sem dúvida o poema que mais me causa estranheza. Não sei se sorrio de satisfação ou lamento de pena quando escrevo um. É certamente por isso que a maioria nem anoto e, entre os que anoto, a maioria nem publico aqui.

Achei por bem escrever essa defesa, como que para livrar-me de mim, desse outro eu metido a poeta e que sofre de soluço, caso alguém pense, lendo um poema desse impostor - esse é o mesmo cara que escreveu aquele conto? Não que eu ache os contos e crônicas sensacionais, mas não os temo como temo os poemas.

Ainda estou pra descobrir se escrever soluços é um ato de coragem ou estupidez.

4 de março de 2010

Buraco escuro

Quinho amava brincar no mato, correr na grama, jogar bola, nadar no rio, rir com os amigos, inventar histórias e catar caracóis debaixo de pedras. E gostava de ler, ouvir música, desenhar e ficar escutando a conversa dos adultos.

Mas de vez em quando, algo muito estranho acontecia com o menino. Sem avisar ninguém, Quinho largava tudo e caminhava para um canto do jardim, afastava os bambus do canteiro e entrava num buraco escuro, escondido perto do muro. Naquele canto o menino ficava triste, triste até o ponto de doer. Ele não sabia porquê ia pra lá, nem porquê ficava triste. Só sabia que volta e meia ia parar no buraco e que era um lugarzinho tão apertado que não cabia nem um fiapo de alegria.

Outra coisa esquisita é que também sem entender direito como, Quinho sentia derrepende vontade de sair e, feito gato caçando, saía devagarinho, e a alegria ia voltando e o menino voltava a brincar, até entrar no buraco de novo em um outro dia qualquer.

Quem via Quinho no buraco, insistia pra que ele saísse, mas não era fácil convencer o guri.
- Tá aí porquê, Quinho? Que que aconteceu? - era o que todo mundo queria saber, e o menino também. Até que um dia, quando Quinho estava dentro do buraco, viu um tatu que apareceu cavocando por ali.
- Mais um? - espantou-se o tatu.
- Mais um o quê? - perguntou o guri.
- Mais um menino triste nesse buraco. Conheci muitos outros que passaram por aqui.
- Passaram outros? E o que houve com eles?
- Não sei. Cada um que vi, um dia saiu e não voltou mais.
Quinho pensou, pensou, sorriu, e saiu correndo contar pros amigos o que ouviu. E não voltou mais. Pelo menos não para um buraco tão escuro e apertado como aquele.

1 de março de 2010

Um pescador [3]

3. OVELHAS

No início o trabalho o empolgou. O cheiro do mar, o rangido do barco e das cordas, a brisa fresca. Mas foi fogo de palha. Logo sentia novamente aquele peso incrível nos ombros. A noite toda sem peixes o deixou ainda mais frustrado. Sentado na proa com os braços soltos ao longo do corpo, olhava fixo para a praia. O balanço da água emabaralhou novamente todas as suas sensações e memórias. Cada jogada do barco soprava-lhe uma brisa de esperança. Ansiava vê-lo novamente. Desejava profundamente ouvi-lo. Não conseguia abandoná-lo, deixá-lo para trás. Sua mente divagava em sonhos de angústia - Quem sabe ele apareça de novo. Quem sabe volte a me chamar de amigo. Quem sabe venha andando sobre as águas. Quem sabe...

Quando um homem apareceu na praia e pediu-lhe que lançasse a rede novamente, parecia ainda um borrão deformado pela lâmina de água que insistia em brotar de seus olhos.

Quando João gritou - é o mestre! - sua alma explodiu em sensações descontroladas. Horror, alegria, esperança e ansiedade tomaram conta de seus músculos e mente e, quando deu por si, estava encharcado e nu na areia arrastando sozinho uma rede repleta de peixes.

- Sentem aqui. - falou o mestre mansamente - Já fiz o fogo. Vamos comer um peixinho.

Que angústia terrível acompanhou aquela refeição. Pedro olhava para o mestre como quem quer mais do que tudo o perdão. Parecia gritar com os olhos que estava disposto a tudo para ser novamente aceito. Faria o que fosse possível, e até mais do que isso, para redimir-se se tão somente lhe fosse dada uma nova chance. A ansiedade doía como fosse arrebentar-lhe de dentro pra fora. Cria que ouviria agora um sermão. Mais que isso; desejava ouvi-lo. Quando Jesus o olhou nos olhos, quase pode ouvir o canto do galo. A culpa o corroía implacável. Sua alma se contorcia como uma lesma desfazendo-se em água debaixo de um punhado de sal. O olhar, no entanto, era repleto de compaixão. E a voz macia como veludo.

- Você me ama, Pedro?

A pergunta repetiu-se três vezes. Sempre seguida de um desconcertante convite amoroso e confiante.

- Cuide das minhas ovelhas, Pedro, cuide das minhas ovelhas. Não tem castigo, lembra? "Eu também não a condeno" foi o que disse para a mulher que o povo queria apedrejar. Você me ama Pedro? Cuide das minhas ovelhas. É isso. É simples assim. Foi para isso que eu o chamei três anos atrás. Você está pronto Pedro. Toda sua angústia, todo seu sofrimento, todo seu desespero eu carreguei comigo. Você não vê? Não há nada a ser pago. O perdão já é seu. Simplesmente caminhe, Pedro. Caminhe na direção do próximo. Cuide dele, Pedro. Cuide das minhas ovelhas.

Para o meu filho.

Esse texto nasceu de uma conversa arrebatadora com meu filho na Páscoa de 2008, quando ele estava com 8 anos. Sob a luzinha amarela do abajur na cabeceira de sua cama, contei para ele a história de Pedro e fiquei espantado com o realismo que tudo aquilo adquiriu diante de mim enquanto falava. No fim da conversa, imensamente comovido, levei-o até a sala e ouvimos juntos a música do Stênio na voz e violão do João Alexandre. A casa toda já dormia. Estávamos ali só nós dois quando os anjos baixaram lentamente ao nosso redor e o céu nasceu dentro de mim. Jamais estive tão próximo de Deus.

Obrigado, guri.



Vou pescar
Stênio Marcius na voz de João Alexandre
Do CD - É proibido pensar

Vou pescar
Parece que acordei de um longo sonho
Parece até que eu parei no tempo
Parece até que nada aconteceu

Vou pescar
Quem sabe ele apareça novamente
Quem sabe volte a me chamar de amigo
Quem sabe venha andando sobre as águas
Quem sabe...

O homem junto a fogueira
Convida pra ceia
Pra uma conversa sincera
Brasas queimando na areia
E dentro de mim
A lembrança de tê-lo negado
Por nada...

É a hora da verdade
Aqui bem perto da fogueira
Melhor jogar tudo que é palha no fogo

Olhe bem dentro dos olhos
Do homem que reparte o pão
E me diga se alguém é capaz de enganá-lo

Tu sabes todas as coisas
Tu sabes do meu amor por ti

Tu sabes todas as coisas
Tu sabes do meu amor por ti

Vou pescar...


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Um pescador:

1. Flash Back
2. Vou pescar
3. Ovelhas

Mendigos

Meu irmão diz que eles são profetas.
Não esse tipo de profeta que olha pra alguém e prevê o futuro, ou transmite alguma ordem ou aviso divino personalizado.

Profeta no sentido de encarnar uma mensagem.

Porque há mensagens que ditas, não passam de palavras. Só ganham sentido real quando encarnadas, quando vividas por alguém para escândalo dos que se dispuserem a ouví-las.

Era para ser uma coisinha corriqueira e trivial. Comprei um sanduíche para o rapaz, descalço, sujo, parcialmente vestido, muito, muito magro e visivelmente desnutrido. Ele sem nem ao menos pensar, rasgou o sanduíche no meio e me deu metade. Quando recusei, me olhou muito seriamente e depois de alguns instantes disse com convicção, me estendendo novamente metade do sanduíche:

"Não é certo que uma pessoa se alimente e outra não".