23 de setembro de 2010

O abraço do Rei

Houve um tempo em que se anunciou por todos os cantos a chegada do rei. Estava em todas as rodas de conversa, em todos os bares, em todos os cafés, nas praças e nos becos a notícia certa de que ele viera. Vestidos longos eram sacados do baú e batidos, passados, remendados e esticados ao sol. Cabelos, unhas e gravatas aprumavam-se com pressa, com urgência e com toda elegância possível a cada um. E não anunciava-se simplesmente a chegada do rei, mas brotavam por todos os lados descrições detalhadas e precisas de sua aparência, das roupas, da comitiva que o acompanhava. Alto e baixo, gordo e magro, barba cheia e cavanhaque, longos cabelos grisalhos e calvo, imponente e discreto, solitário e acompanhado. Haviam descrições sem fim mas entre elas um ponto comum. Ele viera e falaria ao povo no primeiro dia da semana seguinte.

Migraram todos em comitivas diversas à praça na manhã de domingo. Ao lado do coreto central esperava ansioso, mas com olhar circunspecto, o barão, senhor de todas as terras, com esposa e filhos empolados ao redor. Esperaram todos o dia todo. E a noite. E o rei não veio.

Circulou depois a notícia de que nunca viera, nunca descera de seu trono, nunca estivera entre nós. O barão porém, para amenizar o fiasco e não perder a pôse, difundiu sua própria história, asseverando ter estado pessoalmente com o rei no escritório da casa grande. E distribuiu a todos o discurso que lhe foi imposto encaminhar e fazer executar, com instruções severas destinadas ao povo. E ai de quem não as cumprisse. O próprio rei os condenaria a morte e os executaria.

Desde aquele tempo, no entanto, pelos cantos de todas as vilas, pelos becos de todas as cidades, juntam-se gentes de todo tipo, altos e baixos, gordos e magros, barba cheia e cavanhaque, longos cabelos grisalhos e calvos, imponentes e discretos, solitários e acompanhados. Reúnem-se sem alardes e sem pompa, e abraçam-se todos como se fossem um só, e comem e bebem alegremente, e riem e choram juntos, e repartem o que tem. E afirmam todos terem visto o rei, recebido dele terno e inescrupuloso abraço, e ouvido dele um sussurro suave ao pé do ouvido: vão e façam o mesmo.

20 de setembro de 2010

Igualdade

O congestionamento, monstro da cidade grande, devorador de humor, pai do atraso e do estresse é também anjo nivelador, arauto da igualdade. Um Fusca 66 e um Audi A5 emparelhados. De um lado, vidro blindado, ar-condicionado, som poderoso, direção hidráulica, câmbio automático. De outro, ferrugem, escapamento furado e um calor de lascar. Pode haver o que houver que os diferencie, e cada ítem há de valorizar ainda mais o fato de que estão lado a lado. E pode acontecer de a fila do Fusca andar mais rápido.

16 de setembro de 2010

140 caracteres

Nasceu de cesariana. Estudou até onde deu. Casou cedo. Teve 3 filhos. Enterrou um. Perdeu 2. Trabalhou muito. Juntou nada. Enviuvou. Morreu.

Uma vida em 140 caracteres.
Como exige o onipresente Twitter.

13 de setembro de 2010

Só não me chame de pastor

Paulo Capelleti é um desses raros e constrangedores caras que praticam o discurso. Abaixo, uns vídeos com o figura.

Entrevista parte 1


Entrevista parte 4


NaFrequencia parte 1


NaFrequencia parte 2


O livro sugerido:
O Caminho de Jesus Cristo, de Jurgen Moltmann.

9 de setembro de 2010

Acaso

"E se o acaso for o espaço para a liberdade, criado por Deus, para nele também sermos criadores de sentido e propósito?"

Elienai Cabral Jr no Twitter.