24 de junho de 2014

Meia-Corda | Nativo

Estávamos abrindo uma via pequena e divertida no Campo das Panelas usando rebites pra fixar as chapeletas, coisa de antigamente, e obviamente fazendo o furo na marreta e talhadeira. Numa análise anterior previmos três chapeletas para os 10 metros de parede e foi exatamente o que levamos. Três chapas, três rebites. Ou, talvez, levamos quatro e perdemos uma. Eis que na hora agá, uma proteção extra se fez necessária. Acima de nós, num bloco de pedra liso e vertical, o Nativo abria uma das suas supervias, junto com o Minhoca. Eu fiquei lá, pendurado na ponta do teto, enquanto o Guilherme Tapirus foi mendigar uma chapa para o Nativo.

Uma chapeleta e seu rebite. No caso, muito mal batido.


A via foi batizada de Porca-Miséria e acabo de me dar conta que nunca devolvemos a proteção que o Nativo nos emprestou. Mesmo assim o cara me concedeu a enorme gentileza de ler o manuscrito das minhas histórias de montanha, avisar que alguns termos que usei eram do arco da velha e ninguém mais saberia do que eu estava falando, e escrever um parágrafo para me ajudar a convencer você, leitor, de que vale a pena comprar o livro.

Se você é um escalador e vive nesse pais tropical, abençoado por Deus, certamente sabe quem é o Nativo e deve entender que uma recomendação desse sujeito é definitivamente um belo presente. Não é à toa que o texto dele também repousou na quarta capa do livro.

Foi uma honra receber o convite do Tuco para escrever algo sobre o seu livro.

Foi uma grata surpresa poder ler em primeira mão todas as suas histórias, escritas de maneira fluída e de fácil entendimento, mesmo para quem nunca subiu uma montanha. Algumas delas já tinha ouvido falar nas rodas de bate-papo de montanha, na base de alguma via ou tomando um sopão com algum amigo em comum. De uma coisa tenho certeza, os irmãos Egg, Tuco e Tato, são sobreviventes. Espero que nunca parem de subir montanhas, de se aventurarem e de contarem suas histórias!

Ótima leitura, recomendo!

Ronaldo Franzen (Nativo), montanhista.



A última notícia que respingou indica que o livro já foi retirado do forno e deve estar sendo embalado para chegar na mão do editor. Compre aqui.



17 de junho de 2014

Meia-Corda | Du Bois

Quando eu começava a encarar minhas primeiras paredes de pedra, Du Bois já era uma figura emblemática nas montanhas paranaenses (e, certamente, em outros cantos do Brasil também). Em um fim de semana qualquer, enquanto escalava a Solanjaca com o também emblemático Ivan me dando segurança, Du Bois apareceu na base da via, ficou olhando de rabo de olho e comentou com o Ivan: 'esse menino leva jeito'. Pior que eu acreditei.

Oito anos depois fui ao Chile em uma viagem que de tão extraordinária acabou ficando fora do livro, e o Du Bois estava lá junto, compartilhando comigo as trilhas, rangos e vias. Foi lá que ninguém viu e jamais verá a mais improvável troca de passes que posso imaginar: eu, Du Bois e Alexandre jogando futebol debaixo de um pé de nectarina, no quintal de uma igrejinha batista no pé da cordilheira dos Andes. 

Du Bois, eu e Alexandre no Cajón del Maipo, Chile.
Fevereiro de 1997.


Agora, quase vinte anos depois, recebo de presente um comentário do velho amigo que engrandece a quarta capa do livro que já está em pré-venda, e com preço promocional.

Se o Du Bois recomenda, meu amigo, não perca mais tempo e adquira logo o seu.

Apesar da forma modesta como se apresenta este meu bem humorado amigo, Tuco Egg, que reencontro nestas histórias saborosas e divertidas, o leitor certamente terá prazer em saborear as páginas do seu livro. Poderá constatar que, sim, é possível viver aventuras significativas sem ser um super herói da montanha e, também, que é possível se sentir realizado apenas por fugir do lugar comum que nivela por baixo os anseios e perspectivas de vida das pessoas.

Tuco foge do comum, seja em improváveis voos de paraglider ou em escaladas cheias de trapalhadas, mas sempre interessantes, que ampliam nosso horizonte e que nos fazem pensar no sentido de estarmos vivos. Histórias que valem a pena serem lidas.

Edson Struminski (Du Bois), montanhista.

9 de junho de 2014

A capa

Mesmo que não goste do texto, sugiro que compre o livro pela capa.

Versão preliminar da capa das incríveis histórias medíocres de montanha.
Ainda sem textos de orelha e 4ª capa. Clique para ampliar.

A gráfica já recebeu o original definitivo. Imagino que estejam jogando lenha na caldeira para girar as engrenagens gigantes que mastigarão tudo e cuspirão centenas de livros prontos, novinhos em folha com aquele delicioso cheiro de tinta.


As montanhas no rodapé fazem parte da impressionante serra do Ibitiraquire, o contraforte que protege o litoral paranaense do apetite expansionista do altiplano, e abriga o vertiginoso cume do Pico Paraná. Crédito da foto para o grande amigo Matias Baldzer. Céu, sol e rapazinho rapelando são uma montagem feita pelo autor do livro, que não conseguiu evitar o cacoete de sua profissão e decidiu enganar o leitor já na saída, photoshopeando tudo.

6 de junho de 2014

Esse mistério natural e terreno

Umberto Eco e Jesus Cristo
Extraído de 'Cinco Escritos Morais' Recorte do texto: “Quando o outro entra em cena”

Procure... para o bem da discussão e do conforto em que acredita, aceitar, mesmo que por um só instante, a hipótese de que Deus não exista: que o homem, por um erro desajeitado do acaso, tenha surgido na Terra entregue a sua condição de mortal e, como se não bastasse, condenado a ter consciência disso e que seja, portanto, imperfeitíssimo entre os animais. [...]

Esse homem, para encontrar coragem para esperar a morte, tornou-se forçosamente um animal religioso, aspirando construir narrativas capazes de fornecer-lhe uma explicação e um modelo, uma imagem exemplar. E entre tantas que consegue imaginar – algumas fulgurantes, outras terríveis, outras ainda pateticamente consoladoras – chegando à plenitude dos tempos, tem, num momento determinado, a força religiosa, moral e poética de conceber o modelo do Cristo, do amor universal, do perdão aos inimigos, da vida ofertada em holocausto pela salvação do outro.

Se fosse um viajante proveniente de galáxias distantes e visse-me diante de uma espécie que soube propor-se tal modelo, admiraria, subjugado, tanta energia teogônica e julgaria redimida esta espécie miserável e infame, que tantos horrores cometeu, apenas pelo fato de que conseguiu desejar e acreditar que tal seja a verdade. Abandone agora também a hipótese e deixe-a para os outros: mas admita que, se Cristo fosse realmente apenas o sujeito de um conto, o fato de que esse conto tenha sido imaginado e desejado por bípedes implumes que sabem apenas que não sabem, seria tão milagroso (milagrosamente misterioso) quanto o fato de que o filho de um Deus real tenha realmente encarnado. Este mistério natural e terreno não cessaria de perturbar e adoçar o coração de quem não crê.


descaradamente surrupiado do site do Ricardo Gondim, 
graças à dica do João Marcos @jo_marcos 
http://www.ricardogondim.com.br/perolas/umberto-eco-e-jesus-cristo/