26 de setembro de 2014

Asas claras

Gosto de histórias e músicas infantis e fico contrariado quando esse termo é usado num sentido pejorativo. Histórias infantis são belíssimas e a relação com a infância gera um pulsar de vida incrível no corpo grande e peludo de um homem feito. É na infância, afinal de contas, que se desfruta do Reino dos Céus.

Uma das mais belas histórias que contei e cantei para meus filhos infinitas vezes quando pequenos, é a extraordinária luta do Jequitibá de Carangola contra um incêndio terrível que o consumiu por 11 dolorosos dias. Era um horror. O fogo crepitando, os bombeiros e escadas e mangueiras numa luta vã contra o incêndio descontrolado engolindo a golfadas o combustível daquela árvore milenar, sem uma gota de misericórdia.

Quando o broto daquele Jequitibá rasgou a terra e viu pela primeira vez o sol, o Império Inca ainda nem havia surgido. Mas fogo é fogo e árvore é árvore. As labaredas impiedosas sugaram tudo que puderam daquele gigante da floresta. Não sobrou uma folha. Os galhos secos e duros pareciam cenário de um castelo assombrado e o tronco antes viçoso tornou-se negro como uma torre de carvão. Isso até o dia em que, "numa manhã de fevereiro, o sol nas bancas de revista iluminou uma notícia". E nesse apreensivo momento entrava um violãozinho e a voz suave do Hélio Ziskind cantarolando: "O jequitibá que ardeu por 11 dias tem folhas novas. Sobreviveu!" E nessa hora meu olhos enchiam de lágrimas, eu cantarolando junto, e meus filhos mal entendendo o tamanho da minha emoção.

Era o CD infantil "O Gigante da Floresta" me apresentando graciosamente a metáfora da redenção, o mistério da vida, a essência do evangelho. "Flores novas vão abrir, sorrisos de Jequitibá, sementes de asas claras vão voar... outras histórias vão começar".




Acompanhe a história toda no CD "O Gigante da Floresta" de Hélio Ziskind.

16 de setembro de 2014

Quando viver não é o suficiente

Que esse é o ponto em que chegamos, é mais do que evidente. Que lhe joguem isso na cara como se fosse uma virtude é triste e deplorável.


Assista, antes de continuar, o vídeo acima.

O convite para a aventura que não abre mão do conforto é degradante, mas tolerável. Querem nos convencer que a vida é inseparável de um assento estofado de couro e que é possível aventurar-se sem sujar os pés de lama e a camisa de suor. Não creio, mas até engulo. Intragável mesmo, definitivamente nauseante, é argumentar, sob a segurança de freios ABS, que viver não é mais suficiente! Afinal de contas, meus caros amigos, a Amarok deixa orgulhosamente claro para todos nós que, melhor do que chegar longe, melhor do que viver, do que experimentar, é contar para todo mundo que você chegou. É a feicebuquização da humanidade. Dá pra fazer um downgrade no sistema?

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