10 de dezembro de 2007

Arborismo Clandestino


Arborismo Clandestino
Upload feito originalmente por Tuco Egg
Era uma tarde quente de domingo quando Gilvan e Arnaldo* entraram clandestinamente na trilha, caminhando como quem observa bromélias, borboletas e colibris. Juntos, imaginavam a melhor forma de vencer a série de obstáculos proibidos que se impunha acima deles, entre cordas e cabos de aço, vários metros acima do solo. Tinham que ser discretos. Não podiam ser vistos. Juntos, já haviam feito muita coisa em tempos idos.

Na juventude, transpuseram montanhas e paredes de rocha. Desceram encostas pendurados em finas cordas como pêndulos regidos pelo vento. Acamparam mantendo-se com sanduíches de presunto amarelado e beberam água de caraguatás. Na infância, venceram exércitos inimigos, monstros, dragões, terroristas, seqüestradores, os mais temíveis vilões e piratas caolhos, tatuados e repletos de cicatrizes. Mas já há alguns anos não caminhavam juntos. O tempo, senhor cruel da história, une e separa quem bem entende, das formas mais inesperadas e absurdas, como não poderíamos jamais compreender – ao menos não enquanto as coisas acontecem. Gilvan sabia disso melhor do que ninguém.

Mas naquele instante não pensavam nisso. Concentravam-se apenas nas cordas, nas amarras, nos degraus, nos troncos pendentes e na amizade que os uniu sempre e que os unia de novo naquele momento. Clandestinos nas copas das árvores, ambos sabiam que o tempo é também senhor gracioso da história e oferece cura aos males que causa.

* Os nomes foram alterados para preservar a identidade dos infratores.

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