19 de maio de 2008

A neurose do crescimento [1]

Inchaço.

Quando se fala em crescimento de igreja, automaticamente pensamos no aumento da membresia de uma instituição religiosa, o que fatalmente nos leva à ampliação e/ou reformulação física das estruturas. Igreja de sucesso é aquela com várias centenas (senão milhares) de membros, todos ativos, trabalhando para manter funcionando a grande estrutura de cimento e tijolos, sempre com novos eventos, inovações de entretenimento religioso que mantenham os membros ocupados, satisfeitos, orgulhosos até, de pertencer a um empreendimento de tão visível sucesso. Tanto que um dos fenômenos mais repetidos em toda 'igreja' que cresce nesses termos, é migração de rebanhos. Crentes de toda cidade abandonam suas ‘igrejas’ de origem a fim de participarem do empreendimento de êxito. O que rege o crescimento é a lógica de mercado, o culto à performance, a devoção ao status de pertencer a algo grandioso.


A igreja se vende como o instrumento de Deus, como o agente de implantação do Reino de Deus na terra. O Reino de Deus, no entanto, é sinalizado não pela igreja, mas apesar dela. Cristo afinal, chamou-nos para o mundo e não para a igreja. Citou a “ecclesia” um par de vezes, de passagem, sem dar a ela ênfase alguma. Mas nós a transformamos no único veículo avalisado para portar a mensagem sagrada do Evangelho. Cremos que nossa agenda eclesial é a própria encarnação do Reino. Cremos que quando temos nossos templos cheios de gente louvando, dizimando, se abraçando e organizando eventos evangelísticos, estamos implantando o Reino anunciado. No entanto, como diz João Alexandre:

...enquanto se canta e se dança de olhos fechados,
tem gente morrendo de fome por todos os lados...
[veja o clipe no youtube]
Evidentemente toda a igreja que se leva a sério trabalha de alguma forma o lado social, humano, físico, palpável. Mas nosso modelo de funcionamento e de crescimento é quase completamente voltado para manutenção e, se tudo der certo, ampliação das estruturas que consomem quase que a totalidade das entradas em nossas igrejas. A migalha que sobra, depois de tudo pago, vai para algum fim realmente proveitoso.



Enquanto isso, fora dos muros da religião, cristãos piedosos trabalham onde deveriam trabalhar - no mundo ao seu redor. Crentes que entenderam o chamado de Jesus dedicam suas vidas ao próximo com altruísmo, influenciando os que o cercam não pela sua agenda religiosa nem pela sua abstinência do mal (com suas variáveis aparências, dependendo da tendência denominacional do cristão), mas pela sua dedicação ao ser humano, ao próximo, ao aflito. Pela sua disponibilidade. Pela sua abnegação.


A igreja do novo testamento não se agrupava em grandes templos, não erguia para si catedrais, não lotava estádios. Ela se expandia, corria o mundo, de casa em casa. Não sugava o tempo dos cristãos retirando-os por completo da sociedade, isolando-os, alienando-os em suas pregações segregacionistas que dividem a realidade humana entre o sagrado e o profano. Os cristãos do novo testamento viviam no meio do povo e por isso contagiavam o povo.


[continua]

3 comentários:

  1. Essa é bem a realidade da nossa igreja.

    Li recentemente que até a Willow Creek, está repensando seus métodos de crescimento, afinal crescer QUANTItativamente é muito diferente de QUALItativamente.

    http://antenacrista.iblog.com/post/224674/512912

    Abs

    Levi Rodrigues
    www.cordadainfinita.blogspot.com

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  2. Interessante o link. Assumir o erro é louvável mesmo. O complicado é livrar-se do gigantesco elefante branco que construiram. Aí sim é que a porca torce o rabo. Vamos ver no que vai dar...

    Abraço Levi.

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  3. Sim! A igreja era o povo. Não haviam limites para a operação de Deus.



    Abração Tuco
    Fique na Graça

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