20 de novembro de 2008

Questão didática [3]

Mateus 23, 24, 25.

3. Só existe um quando

> Quando acontecerão essas coisas? (Mt 24.3)

O ponto central abordado por Jesus em resposta ao "quando?" dos discípulos foi direcioná-los a olhar para o que estavam fazendo "aqui e agora". O Cristo tinha o irritante e rabínico hábito de responder uma pergunta com outra. A ele parecia que a pior maneira de esclarecer uma dúvida seria respondê-la objetivamente. Se seus seguidores querem saber o "quando", ele aponta para Noé e afirma que a única coisa que importa é construir a bendita arca. Diz que temos que cuidar da casa (e dos da casa), porque o ladrão chega sem avisar e o patrão costuma pegar o funcionário desprevenido. Não importa às virgens quando o noivo vem - isso é com ele. A elas importa preparar a candeia. Não importa aos trabalhadores daquela empresa simplesmente manter as coisas funcionando e evitar qualquer perda. O que interessa é trabalhar corajosamente pelo bem do negócio.

Só existe um quando e seu nome é hoje. Se vocês realmente se preocupam com o "quando", insistia o mestre, dediquem-se, agora, àquilo que realmente importa.

E então nos deparamos com a angustiante pergunta final. O que importa? Que raio significa cuidar da casa, da empresa, do óleo das cadeias?

> Quando o filho do homem vier... (Mt 25.31)

Quando tudo já parecia suficientemente confuso, quando a resposta já estava atordoantemente distante da pergunta, de maneira estranhamente emblemática, no versículo 31 de Mateus 25 Jesus retorna à palavra que iniciou toda sua explanação até aqui.

Quando o Fiho do Homem vier, explica o rabi, vai separar ovelhas e bodes, e às ovelhas dirá: venham benditos de meu pai, porque tive fome, sede, solidão, frio, dor, angústia, sofrimento, e vocês me acolheram, abraçaram, cobriram, envolveram... Então os justos, as ovelhas, perdidos, pegos de supresa pela inesperada redenção, farão a já famosa pergunta: Quando? Mas a questão aqui, amplamente reformulada na metáfora de Jesus, já não se refere mais ao tempo. A questão é radicalmente refeita. Quando foi que fizemos estas coisas? De meros espectadores de um destino sob o comando de um Deus intervencionista, as ovelhas transformaram-se em protagonistas inconscientes da história do Reino que agora lhes é entrege por herança.

"Quando o fizeram a um de meus menores irmãos, a mim o fizeram", são as palavras terríveis do rabi.

A única coisa que interessa no fim das contas é o que estamos fazendo aos pequeninos. É vestindo-os, alimentando-os e amando-os que mantemos nossas candeias com óleo. É visitando-os e combrindo-os que multiplicamos nossos talentos. Quando abriremos os olhos para isso? Quando acontecerão essas coisas? Quando?


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Questão didática:
1. Destruição
2. Interlúdio
3. Só existe um quando

2 comentários:

  1. Prorrogar o "quando" é uma das minhas especialidades.

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  2. O caipira roçava su cantinho, preparando o terreno para a semeadura. O "bacana" chegou e perguntou: "Quanto tempo pra preparar todo terreno?" "Uns dias", respondeu o matuto. "E prá plantar e colher?" "Um par de mês", foi a resposta. "E se eu lhe dissesse que o mundo vai acabar em três dias, o que você faria?" Depois de coçar a barba, olhando pro terreno, afirmou, sem hesitação: "acho que dá pra roçá inté aquele canto ali ó".
    Esse é um "bendito do meu pai"

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