13 de agosto de 2009

Psiquiatras e profetas

Jamais teremos entre nós profetas de verdade. Se existiu algum no último século, foi parar a força num sanatório ou voluntariamente no divã de algum psiquiatra. Os poucos que talvez restem por aí, são os que não tem família para interná-los, nem dinheiro para o psiquiatra e, portanto, encontram-se nas ruas, maltrapilhos e malcheirosos, segurando uma garrafa de cachaça barata na mão.



"[...] Na maior parte do tempo, na história da civilização, os loucos andaram à solta, nas ruas e nas casas, promovendo a idéia subversiva de que a loucura pode ser uma forma de lucidez ou uma estranha alternativa à ela. O que a psicoterapia fez? Por um lado, confinou os loucos em recintos isolados, onde não podem encenar a sua subversão. Por outro, o que acontece àqueles dentro da massa coletiva que sentem-se hoje mais sutilmente desviados da norma? Esses buscam voluntariamente a intervenção de terapeutas, de modo a serem capazes de se conformar. Ou seja: os loucos são mantidos fora de cena e os candidatos a loucos estão sendo constantemente monitorados. Os desvios à norma permanecem onde a multidão, que abomina a dissensão e anseia apenas por conformidade, pode controlá-los e anulá-los por completo."
Da Bacia das Almas



Veja também:
Foi-se um profeta
Jesus. O peripatético

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