2. Zeitgeist
Evidentemente crer em duendes e fadas pode ser um bom começo, mas não será suficiente.
É estranho que seja argumento para inviabilizar a factualidade de uma história, a descoberta de que a mesma esteja presente em mitos antigos. É um argumento comum, mas fundamenta-se em uma lógica que não consigo alcançar. O fato de que várias culturas distintas, em épocas e lugares imensamente distintos, tenham desenvolvido mitos comuns de redenção, me parece reforçar, para não dizer confirmar definitivamente, que há um anseio comum latente, pulsante e esperançoso que contaminou a humanidade desde seus estágios embrionários e varou os séculos e os milênios em angustiante espera por sua realização.
Encontrar em mitos antigos, então, histórias semelhantes à narrada nos evangelhos, está longe de ser uma descoberta que fragiliza a fé. Pelo contrário, é descoberta que a reforça, a fortalece, a deixa ainda mais assustadoramente universal. O fato de essa história ter sido sonhada, contada, cantada e poetizada por séculos e séculos, nas mais diferentes formas, pelos mais diferentes povos e culturas, entrega à narrativa da vida de Jesus ainda mais sentido, força e espanto.
A própria bíblia dá a entender essa universalidade das narrativas nela contidas em vários pontos. De Melquisedeque, ainda no livro de Gênesis, ao Deus desconhecido descortinado por Paulo no Aerópago.
Mas encontrar mitos semelhantes ao mito encarnado de Cristo tornou-se tão estimulante aos céticos, ateus e místicos das ondas new age, que até factóides e distorções da história antiga passaram a ser criados, produzidos e divulgados, gerando espanto em multidões que, por algum raciocínio enviesado, deixaram cair por terra a mais documentada das histórias antigas, trocando-a pelos exageros e desvarios de vídeos como Zeitgeist.
Chega a ser engraçado que a história cristã, que foi muitas vezes desacreditada justamente pelas várias mentiras que o cristianismo de fato criou para fundamentar seus interesses doutrinários, esteja agora vendo o mesmo acontecendo do outro lado. Uma rapaziadinha descabeçada criando mentiras abobalhadas para desacreditar a fé e promover, ora o ateismo cientificista, ora o misticismo novaerista.
Enfim, para levar a sério a estranha fé cristã, basta olhar para as histórias de seus seguidores. Mas é claro que será preciso, evidentemente e de uma vez por todas, entender que o cristianismo oficial não tem nada a ver com essas histórias. Cristianismo, desde Constantino, é projeto político, de poder e controle. A fé cristã, ou o espírito de Cristo, varou os séculos discretamente, nas periferias e entre os hereges. Deixe de lado os relatos oficiais. Será preciso garimpar para encontrá-los.
[ continua ]
Veja também: Fábulas (1)
Evidentemente crer em duendes e fadas pode ser um bom começo, mas não será suficiente.
É estranho que seja argumento para inviabilizar a factualidade de uma história, a descoberta de que a mesma esteja presente em mitos antigos. É um argumento comum, mas fundamenta-se em uma lógica que não consigo alcançar. O fato de que várias culturas distintas, em épocas e lugares imensamente distintos, tenham desenvolvido mitos comuns de redenção, me parece reforçar, para não dizer confirmar definitivamente, que há um anseio comum latente, pulsante e esperançoso que contaminou a humanidade desde seus estágios embrionários e varou os séculos e os milênios em angustiante espera por sua realização.
Encontrar em mitos antigos, então, histórias semelhantes à narrada nos evangelhos, está longe de ser uma descoberta que fragiliza a fé. Pelo contrário, é descoberta que a reforça, a fortalece, a deixa ainda mais assustadoramente universal. O fato de essa história ter sido sonhada, contada, cantada e poetizada por séculos e séculos, nas mais diferentes formas, pelos mais diferentes povos e culturas, entrega à narrativa da vida de Jesus ainda mais sentido, força e espanto.
A própria bíblia dá a entender essa universalidade das narrativas nela contidas em vários pontos. De Melquisedeque, ainda no livro de Gênesis, ao Deus desconhecido descortinado por Paulo no Aerópago.
Mas encontrar mitos semelhantes ao mito encarnado de Cristo tornou-se tão estimulante aos céticos, ateus e místicos das ondas new age, que até factóides e distorções da história antiga passaram a ser criados, produzidos e divulgados, gerando espanto em multidões que, por algum raciocínio enviesado, deixaram cair por terra a mais documentada das histórias antigas, trocando-a pelos exageros e desvarios de vídeos como Zeitgeist.
Chega a ser engraçado que a história cristã, que foi muitas vezes desacreditada justamente pelas várias mentiras que o cristianismo de fato criou para fundamentar seus interesses doutrinários, esteja agora vendo o mesmo acontecendo do outro lado. Uma rapaziadinha descabeçada criando mentiras abobalhadas para desacreditar a fé e promover, ora o ateismo cientificista, ora o misticismo novaerista.
Enfim, para levar a sério a estranha fé cristã, basta olhar para as histórias de seus seguidores. Mas é claro que será preciso, evidentemente e de uma vez por todas, entender que o cristianismo oficial não tem nada a ver com essas histórias. Cristianismo, desde Constantino, é projeto político, de poder e controle. A fé cristã, ou o espírito de Cristo, varou os séculos discretamente, nas periferias e entre os hereges. Deixe de lado os relatos oficiais. Será preciso garimpar para encontrá-los.
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Veja também: Fábulas (1)
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