17 de abril de 2015

Alameda Vazia

A algibeira rota rebenta e esbugalha-se no solo frio da alameda vazia. A alameda é estreita mas vasta. Vasta ao infinito, contudo vazia de quem quer que seja.

Não há ninguém que possa ajudar o homem solitário a recolher os despojos que escaparam dos trapos velhos esfacelados. Nem álamos para sombreá-lo. A alameda é vasta, não há ninguém, nem álamos e o sol castiga. A pele dura e áspera do homem solitário rasga-se em sulcos profundos de dores profundas e em linhas secas de distantes risos incontidos.

Os despojos que tanto lhe custaram se dispersam agora no chão gelado e rolam ladeira abaixo, tomando cada um seu caminho como ratos afoitos escapando de predador faminto.

O homem solitário não reage, não se vira, nem com os olhos acompanha qualquer que seja o fragmento do que trazia há séculos alameda acima. Intuitivamente sabe que o esforço seria vão.

Então simplesmente congela seus movimentos no exato instante em que tudo se solta de si e toma outro rumo. Tão somente cerra os olhos e acompanha o som seco dos objetos despencando, rolando, se afastando em rumos dispersos e imprevisíveis, até ouvir novamente o silêncio absurdo da alameda vazia.

A algibeira é agora um trapo furado e sem sentido. Aquilo que carregava, e o valor todo que lhe fora atribuído durante a penosa jornada, já não há. Perdeu-se ladeira abaixo.

O homem permanece inerte por um instante que tange a eternidade, até que o silêncio rompe estridente a linha que anulava o tempo e, enfim, conforta o homem solitário, que abre os olhos, respira fundo e segue caminhando, agora mais leve.

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