Já no tempo da carroça pequena - Foto: Blog do Jaime |
Feliciano dos Santos não cabia em hotel, pensão ou pousada. Muito menos em abrigo, asilo ou coisa que o valha. E por não caber em lugar nenhum dos que havia no mundo, precisou inventar um lugar no qual coubesse. Inventou uma carroça grande e enfeitada que construiu para si e era seu orgulho. E nela viveu por muitos anos, estacionado nas ruas do centro de Blumenau. Lá juntava as caixas de papelão de todos os lojistas da Beira Rio e da XV. Vendia quase tudo. Uma pequena parte separava para lhe servir de cama e cobertor.
Mas a cidade cresceu rápido e de tão grande que ficou a carroça não coube mais nas suas ruas. Era um estorvo a carroça enfeitada. Uma feiura. E lá foi Feliciano, da carroça para a sombra de uma marquise da Beira Rio, quase ao lado da Prefeitura. A carroça foi levada pelo poder público para longe e Feliciano fez para si uma menor. Viveu ali entre a carroça pequena e os papelões por mais tantos anos.
Mantendo a casa limpa - Foto: Blog do Jaime |
Foi onde o conheci e onde com ele tomei alguns cafés adoçados com sua fala mansa. Mas um dia, Feliciano sumiu. Não está mais lá. E o comércio do centro não sabe para onde foi. Especulam algumas hipóteses, mas não encontrei quem de fato soubesse.
Talvez tenha voltado ao tamanho de um homem comum e cabido de novo em casa. Talvez esteja agora deitado no sofá da sala de estar de um dos filhos, tomando café, sussurrando doçuras no ouvido de uma neta. Talvez passe o Natal em família. Quem sabe.
Feliz Natal, Feliciano.
Esteja onde estiver.
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