15 de março de 2016
Rodrigo Hilbert leu "O Capital"
Rodrigo Hilbert deve ter lido Marx recentemente. O pensador alemão que é odiado por quem nunca o leu, esclareceu há quase um século e meio a mazela que é filha bastarda, mas querida e inseparável, do capitalismo: a alienação.
Marx explicou que o estabelecimento da indústria e do comércio como o ar que mantém viva a sociedade capitalista, deu origem à alienação total na qual estamos todos imersos até o pescoço. No tempo de Marx, alienada era a classe operária, refém inconsciente da manipulação da burguesia. É que o capitalismo ainda não havia engolido a humanidade toda. Hoje o almofadinha que é chamado de burguês é mais alienado que qualquer operário. É um alienado com iphone que bebe Cointreau e oprime o proletário de sempre, mas seu nível de alienação está atingindo o ponto máximo. O burguês classe média, vagando entre carros, casas, escritórios e shopping centers climatizados é mais alienado que o homem do campo e que o operário que sabem o sabor do suor de seu rosto. A burguesia alienadora, por sua vez, está se reduzindo ao número mínimo de senhores do mundo, os donos das corporações gigantescas que definem o que vamos plantar e exterminar, comer e vestir, comprar e jogar no lixo; ou quem vamos eleger e depôr, ouvir e calar, abraçar e matar.
Rodrigo Hilbert deve ter percebido isso enquanto preparava um espetinho de cuscuz de tapioca com queijo coalho sem tirar o olho das pernas longuíssimas da Fernanda Lima, que temperava a salada. "Meu público deve achar que o queijo coalho brota do chão embalado à vácuo", pensou o loiro bonitão depois de ler O Capital. "Vou desmascarar esse negócio todo. Chega de alienação. Vou libertar a burguesia dos tais senhores do mundo. Vou entregar à eles a verdade e eles haverão de iniciar a revolução". E enquanto tirava o cuzcuz do fogo berrou, "liberdade!", quase matando Fernanda Lima do coração.
E lá foi ele, corajosamente, mostrar ao mundo burguês que, para comer um cordeiro, é preciso matar o bichinho antes. E que quando se mata um bichinho, o sangue escorre quente. E foi aquela gritaria toda. Um horror. A dondoca que come cordeiro assado toda sexta, harmonizado com Nipozzano Riserva Chianti Rufina, indignou-se apavorada: "o bichinho já não nasce morto e embalado?". O empresário solteirão que gosta de harmonizar o churrasco de ovelha com cerveja Belgian Dark Strong Ale não quis assistir o programa nem ler a notícia. E nos trending topics da semana estava a frase "Rodrigo, eu não queria saber!".
O bonitão gente boa pecou pela inocência e teve que desculpar-se oficialmente para fugir do apedrejamento. E não é sempre assim? Na multidão dos iludidos, quem abre a boca para dizer a verdade apanha.
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Excelente
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ExcluirTuco, parece-me que a sua inveja cresceu. Aquela inveja travestida de irresignação. Um dia você chega lá.
ResponderExcluirMe pegou, Filipe. Tenho inveja da beleza grega do Rodrigo Hilbert, mas acho difícil eu chegar lá um dia. Já passei dos 40. De qualquer forma, agradeço o incentivo.
ExcluirTuco,
ResponderExcluirSó quero dizer que é muito bom ler seus textos. Você tem um olhar artístico e uma escrita clara e suave.
Um abraço!
Obrigado André. Abraço procê também.
Excluirum ano depois, nada mudou... até o Rodrigo continua, surpresa!, com a Fernanda...
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