31 de dezembro de 2021

Resolução de ano novo


Tenho 48 anos e nunca tomei "resolução de ano novo" qualquer. 

A virada de ano é, para mim, dos piores eventos sociais jamais idealizados por quem quer que seja. Nasci velho. Gosto de silêncio, sossego e dormir cedo desde sempre. 31 de dezembro é, portanto, uma desgraça. Ser forçado a um festejo brega, falsamente retumbante, todo teatral, repleto de crendices cafonas, com contagem regressiva, com musiquinha bizarra, é coisa que me deixa rabugento já uns dois dias antes. 

Só pensar na multidão vestida de noiva, dando pulinho, segurando taças, bebendo champanhe, fazendo de conta que é chique, me dá vontade de ir pra cama meio-dia e só acordar ano que vem.

Também nasci careta. Não bebo, mas parece que não beber a tal taça de champanhe é considerado alguma ofensa ao deus réveillon ou coisa parecida. 

E tem o barulho desagradabilíssimo dos fogos. Faço coro com todos os cães contra esse desassossego, esse desrespeito, essa canalhice. Que data infeliz. Um desagrado do começo ao fim.

Mas 2021 foi um ano daqueles, você sabe, não preciso explicar. Sucedeu que me peguei pensando nas tais resoluções de ano novo. E decidi registrá-las aqui pra confirmar em alguns meses que não as cumpri porque, você sabe também, não preciso explicar, resolução de ano novo é pra ser dita, não realizada. Anote aí e não me cobre jamais:

Voltar a escrever com certa frequência.
Voltar a escalar com certa frequência.
Voltar a ir de bicicleta pro trabalho com certa frequência.

Nota: Enquanto anotava esses itens percebi que, de maneira inequívoca, alcancei a idade em que o que se quer é voltar a fazer algo.

Deixei intencionalmente o 'com certa frequência' assim, em aberto, sem muito detalhamento, que é pra não ficar me cobrando demais.

Também deixei de fora o 'voltar a nadar'. Eu de fato tô pensando nisso seriamente, mas minha esposa não pode saber. Faz anos que ela quer que eu nade e se ela ler isso na primeira lista de resoluções de ano novo da minha vida, ela vai tentar me fazer cumprir o dito e isso seria uma ofensa às resoluções não cumpridas, que são todas. Seria, portanto, uma ofensa à humanidade.

Por fim, registro aqui para mim mesmo que o que precisamos de fato acima de tudo em 2022 não é resolução, mas revolução. Revolução antifascismo, anti negacionismo, anti fanatismo (político e religioso), anti moralismo, anti desmonte de tudo, anti devastação, anti todos os absurdos inaudíveis, indizíveis, inexplicáveis e incompreensíveis que desabam sobre nós há 3 anos. 

Feliz 22. Força, que neste ano o absurdo ainda vai fazer muito barulho. O coro do desatino vai ainda destruir muita coisa. Ainda vamos mergulhar mais fundo na tragédia fascista. 

Mas 23 vem aí. E 23, meu amigo, é o número do Michael Jordan. Isso deve significar algo. Ou não. De qualquer forma, siga lutando. 22 vai passar.

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