2 de dezembro de 2021

Um risco no chão


Aqui vai um textão. Desculpe, mas sinto que preciso. Escrevo com muito carinho, respeito, amor fraterno e bastante preocupação.

Há os que ainda defendem, a unhas e dentes, todo projeto do atual governo federal. A esses não tenho muito mais a dizer do que o que está no "PS" lá no último parágrafo. Se quiser, pule direto para lá.

Mas há os que estão meio assustados, achando algumas coisas um tanto estranhas, e ainda assim seguem apoiando o governo, em geral porque, dizem, o “outro lado” também não dá. O outro lado seria o Lula. É pra esses que dirijo essa carta.

Já passou da hora de perceber, aceitar, assumir algo que tá cada vez mais escancarado. Não dá pra botar o Bolsonaro e seu projeto lado a lado com ninguém. Tem uma linha clara traçada no chão, e foi o Jair que riscou. De um lado tá todo o campo democrático, com todos os seus defeitos, com direita e esquerda, com os que você gosta e não gosta. Do outro lado tem um cara sozinho com uma proposta autoritária, autocrática, perigosíssima e violenta.

Tem um risco traçado no chão e a escolha é entre democracia e bolsonarismo - que é ruptura democrática declarada, na cara dura. E é um projeto de sempre, proposto pelo cara que defende abertamente, desde sempre, ditaduras, ditadores, torturadores, eliminação sumária de opositores e de "diferentes". Um cara que é um profundo poço de preconceito, intolerância e violência. Um cara afundado no ódio e no desprezo pelo outro. Não é exagero, nem intriga, nem perseguição. É só ouvir o que ele sempre disse e segue dizendo.

Com isso em mente, é preciso entender que é ele e seu projeto que estão, entre tantos horrores, questionando urnas e STF. É preciso perceber que os argumentos estão sempre fundamentados em mentiras, desinformação, teorias conspiratórias e extremismos.

É muito importante entender que as urnas são sim auditáveis e confiáveis. É preciso estudar esse tema fora das bolhas conspiratórias. Não tem como chegar a conclusão diferente. Dá pra deixar ainda melhor? Dá. E estão sempre trabalhando nisso, de forma transparente, acompanhados por sociedade civil, jornalistas, partidos, OAB, desde que as urnas eletrônicas surgiram.

E o STF, meu amigo, não é perfeito, mas não é em lugar nenhum do mundo. Agora, a estrutura, o funcionamento do que temos aqui, está absolutamente de acordo com o que temos de melhor nas experiências democráticas de todo mundo. Não há nenhuma anomalia bizarra aqui. É só estudar o tema com cuidado, fora das bolhas conspiratórias de desinformação. A gente pode reclamar de decisões, elas não são matemáticas, tem muitas variáveis, vai ter sempre jurista que concorda, jurista que discorda, mas tá tudo dentro da normalidade democrática.

Entenda, é preciso!, que atacar urnas e STF é terrível! Terrível porque está nas cartilhas de todos os aspirantes à ditadores. Desestabiliza dois dos mais importantes pilares da democracia. O objetivo é gerar discórdia, confusão, caos, pra, uma hora ou outra, questionar a própria democracia, romper com ela e instalar um modelo autocrático que não tem a menor chance de ser bom (o terceiro pilar é o jornalismo, que não por acaso também é atacado pelo nosso aprendiz de ditador). É um projeto de caos e discórdia com o objetivo de tomar o poder. E pior, armando gente radicalizada e assumindo que, se preciso, as armas devem ser usadas. Usadas contra quem? Contra seus irmãos, pelo amor de Deus, veja isso! Contra mim, meus filhos, seus filhos, sei lá. Contra qualquer um que se oponha. 

Ninguém que se proponha seguidor de Jesus de Nazaré pode apoiar isso. Ninguém. Porque tem um risco traçado no chão, e um dos lados é violência e morte.

Desculpe mesmo pelo textão, mas tenho dormido mal, sofrido pra burro, orando e chorando pelo que tenho visto, pelos rumos que muitos estão tomando, e por ver parte importante da igreja se deixando levar pelo caminho do horror.

Tem um risco no chão. Foi Bolsonaro que riscou e passou sozinho pro lado de lá. O lado da violência, do caos, das armas nas mãos dos civis combinadas com a proposta já muitas vezes verbalizada de eliminação de oponentes (“e se morrer uns inocentes não tem problema, guerra é assim” – J Bolsonaro).

Tem um risco no chão e passou da hora de decidir. Esse próximo ano vai ser um horror. Será preciso se posicionar. Quanto antes melhor.

PS: Tenho sugerido a muitos que se afastem das mídias sociais, dos canais de youtube, dos grupos de whats, das bolhas de opiniões formadas e passem um período só relendo os evangelhos e orando. Desintoxicando das tantas informações e relembrando o caminho do amor em Cristo. E, de coração e mente abertos, pedindo direção do Espírito Santo nesses tempos. Porque tem uma linha riscada no chão que, desde o fim da ditadura, não se via. Uma linha terrível. E será preciso escolher.


Em amor fraterno, Tuco Egg.

Imagem:
"Jesus quebrando o rifle"
Gravura de Otto Pankok (1893 - 1966)

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