A noite avança rapidamente, voraz, abocanhando cada minuto. Os oito, reunidos em torno da mesa, conversam alheios ao tempo. São dois anciãos e os frutos de sua semente. Os frutos de seus frutos surgem eventualmente ali, ora afoitos, ora chorando alguma angústia da infância, ora simplesmente de passagem.
É possível, nesse instante, vencer a dureza do tempo e transportar-se através dele. Vê-se a mesa cheia, os anciãos ainda jovens, seus frutos verdes, o cheiro da comida, as risadas agudas da infância, o suco derramado, restos de comida espalhados no chão. Hoje, os frutos maduros tomaram o lugar dos pais. Eles é que têm à mesa pequenos frutos verdes e risadas agudas e comida espalhada.
Mas não naquele momento.
Ali, os oito ao redor da mesa são novamente como antes, mesmo os que chegaram mais recentemente. Conversam todos e todos riem, lembram, contam, confundem-se nas histórias, deitam no chão, enchem os olhos de lágrimas, se calam, falam solenemente e riem de novo, e abrem seus corações.
Enquanto falam, não percebem a presença dos anjos que descem assombrados e os rodeiam em reverência. Não percebem a nuvem que pousa ao redor deles, nem as torres que se erguem do meio daquela sala tão conhecida, que abrigou quatro gerações e que recentemente deu adeus aos mais antigos. A sala, que outro dia lhes parecia tão vazia, enche-se novamente. Absortos em seus assuntos, em suas vidas, em suas almas, em suas angústias e alegrias, não percebem que as janelas brancas de ferro, descascadas pelo tempo, transformam-se lentamente em inarráveis vitrais. Não vêem que a luz da lua deita sobre eles os reflexos dos vidros e todas as suas cores e formas. Não vêem que os anjos começam a louvar o altíssimo, estarrecidos, como uma platéia que contempla o mais belo espetáculo e todos os seus efeitos especiais. Não percebem, enquanto falam, que ali, naquele instante e naquele local, convergem passado, presente e futuro, e o Eterno se faz presente entre eles. E desfrutam todos, entre os anjos e na presença do Eterno, do banquete que hão de desfrutar ainda em outra ocasião, na presença da primeira geração, do casal que construiu essa sala, que há pouco ainda sentava-se entre eles, mas que recentemente partiu.
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Jorge Camargo - Expressão de Sentimento.mp3
Expressão de Sentimento
Jorge Camargo no CD "O Chamado"
Nossas palavras são tão pobres pra expressar o sentimento, a emoção
De estarmos juntos, mesmo intento, mesma voz e mesmo canto, celebração
E recebermos entre nós o Deus eterno, terno e santo, adoração
E repartirmos nossas vidas, alegrias, dores, medos, em comunhão
É como o céu tornado em chão
Como se a lua e as estrelas
Se abraçacem pra mostrar que se respeitam e amam
Como diria Paulo, apóstolo
A igreja é como um palco
Onde os anjos se contemplam e perguntam
Como Deus pensou assim:
Jesus em nós manifestado
Jesus por nós anunciado
Ah, mano...
ResponderExcluirjá procurei a Igreja em tantos lugares... Em tantas igrejas...
Como demorei pra perceber o que deveria ser óbvio.
Um abração apertado.
E então veremos não por espelho, porem face a face...
ResponderExcluirPaz mano!
:)
... só Deus para sustentar as nossas vidas...
ResponderExcluirabraços
Texto lindo de chorar!
ResponderExcluirSó agora me dou conta de quantos cultos já fizemos naquela sala, sendo igreja sem perceber.
Me dá vontade de ser mais igreja nos lugares onde não percebemos que estamos sendo, ao invés de nos lugares onde fingimos que somos (aqueles aos quais chamamos templos).
Tato, acho que isso também responde um pouco aquela pergunta que você me fez sobre se vale a pena continuar na igreja com tantos questionamentos...
gostei do post...
ResponderExcluirinteressante,
beijos,
alê
Belo, belo, belo. A reviravolta está continuamente entre nós.
ResponderExcluirPois é, Paulo. Era aqui que eu queria postar a música, mas o box.net não deixou :-(.
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