9 de novembro de 2007

Bom Testemunho

Quem, como eu, cresceu em uma igreja evangélica, certamente ouviu muito a palavra "evangelismo". Normalmente vem acompanhada do conceito de "bom testemunho".

Esses dois termos me causaram grandes crises de consciência, principalmente na adolescência. Crer que a maioria dos meus amigos iria arder eternamente no inferno já era bastante ruim. Sentir-me responsável por isso era um fardo terrível. E o evangelismo, aprendi, só é eficaz se apoiado por um consistente "bom testemunho de vida". Ou seja, para falar a respeito de minha fé, devo ser alguém de comportamento exemplar. Há que se vigiar o próprio comportamento em todo o momento. Fugir não apenas do mal, mas também da aparência do mal.

Me esforcei bastante por manter o bom testemunho. Tanto, que pisei firme nos domínios da hipocrisia. Se não conseguia me manter santo, pelo menos que ninguém soubesse disso. Assim, quem sabe, conseguiria poupar o nome do meu Deus de ser envergonhado pelos meus atos deselegantes.


Naqueles tempos ainda não havia percebido que Deus não se importa com reputação. Ele não se envergonha de ter amigos com poucas qualidades e excesso de defeitos. Senta-se ao lado de qualquer um, para escândalo de muitos dos seus seguidores. Não se importa de ser visto em público rindo ao meu lado, mesmo sendo quem sou. Não olha para os lados antes de entrar em minha casa. Jamais escolheu as amizades levando em conta o que pensariam dEle. Ele próprio escolheu ser visto como o Deus dos fracos e doentes. Pelo menos é o que vejo claramente nos relatos bíblicos sobre Jesus.
Esse é um dos motivos pelos quais tenho tido cada vez mais dificuldades com as igrejas, principalmente as que selecionam cuidadosamente os que são dignos de figurar em seu rol de membros.

Eu não O conhecia. Aprendi tanto a respeito de seu atributos eternos, sua justiça e sabedoria, sobre suas leis, sobre todas coisas às quais Ele abomina...

Hoje só sei que Ele é meu amigo.

4 comentários:

  1. Belo testemunho! Revejo-me muito nele. Eu também não O conhecia como Ele realmente É.
    Como disse Philip Yancey(faço minhas as suas palavras):«Durante algum tempo, coloquei de lado as crenças da minha infância até que Deus, de forma maravilhosa, se revelou a mim como um Deus de amor e não de ódio, de liberdade e não de regras, de graça e não de julgamento.» - Philip Yancey, em "Maravilhosa Graça"

    E quanto ao testemunho, deixo-te esta citação:
    "A pregação mais eficaz provém daqueles que vivem conforme aquilo que dizem. Eles próprios são a mensagem. Os cristãos têm de ser semelhantes àquilo que falam. A comunicação acontece fundamentalmente a partir da pessoa, não de palavras ou idéias. É no mais íntimo das pessoas que a autenticidade se faz entender; o que agora se transmite com eficácia é, basicamente, a autenticidade pessoal”. -John Poulton

    Abraço fraterno!

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  2. É isso, primo.

    Sabe que compartilho contigo esta inquietação. Até os 14 anos eu achava que era um cristão exemplar, cuidando bem de meu testemunho. Fui educado para pensar nisso 24 horas por dia.

    Depois chutei o pau da barraca. Acho que este compromisso com o testemunho é um peso muito grande para se carregar. Cristo dizia dos fariseus que eles punham sobre as pessoas um peso impossível de carregar com suas interpretações da lei. Fazemos exatamente o mesmo como evangélicos. Criamos uma série de regras de boa aparência religiosa. Mas no fundo continuamos como sempre: "sepulcros caiados".

    Que tal assumirmos nossas dificuldades e olharmos com mais carinho para aqueles excluídos pelas suas diferenças? Não era Cristo que andava com prostitutas, adúlteras, leprosos, publicanos, pescadores simples?

    Se ele viesse hoje andaria de terno e gravata e passaria os dias em templos evangélicos? Ou estaria nas praças, em companhia de mendigos, travestis e drogados?

    Seríamos capazes de aceitá-lo em nossas igrejas? Acho que não. Iríamos crucificá-lo, com certeza...

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  3. É. Não é fácil caminhar com um fardo religioso nas costas. É tão bom jogar o fardo fora. Mas volta e meia me sinto carregando o maldito de novo. Ele é um tipo de chicletão no sapato. Você vai puxando e tirando e limpando, mas sempre sobra alguma coisa aqui e ali.

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  4. Irmão,

    eu não só vivi isso, como ainda vivo, eu tenho 16 anos, porém dps de ler Maravilhosa Graça, e Deus me revelar meu orgulho (lendo Cristianismo Puro e Simples) e aprender a não julgar fui vendo minha hipócrisia atráves das cada vez + difícieis possíbilidades de ter "um bom testemunho" (ecaaa - Deus é testemunha do que eu falo não apenas minhas ações, eu sempre erro e vou errar)

    mudei ano passado meu foco de "santidade" para "falhabilidade" de "esconder os erros" para "assumir as fraquezas"

    tem sido uma benção, e com certeza é um caminho + estreito...


    além de amigo, agora chamo Jesus de irmão =-)



    abração brother
    lindo blog

    fica com Deus

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