27 de agosto de 2009

Jornada

Os cinco amigos iniciaram a jornada pouco antes do nascer do sol.

Seguiam mais por responsabilidade do que por convicção, mais por algum estranho sentimento de dever do que por vontade. Na verdade, as inúmeras e impensáveis possibilidade de fracasso fariam qualquer um abandonar a idéia, virar para o lado e continuar dormindo. A não ser que latejasse dentro de si o impulso insano da necessidade.

Era isso que lhes havia feito sair da cama naquela manhã gelada. Enquanto caminhavam em silêncio reverente diante do assombro das possibilidades, viam ao longe os dragões empoleirados no alto dos pináculos de pedra que ladeavam a trilha sinuosa que os levaria, quase que certamente, à morte.

Não podiam, no entanto, recuar. Eram agora já atraídos para o alto das montanhas como que por improvável ímã que lhes sugava a alma de bronze, alma de nobres que sabem que seu destino é o martírio.

Nutriam, ainda assim, esperança de seguir com vida e de que sua jornada chegasse como notícia alvissareira à toda vila. Esperança de que as profecias se referissem a eles e estivessem certas. Esperança louca e improvável de que os dragões seriam vencidos a golpes de faca e que a trilha coberta de cinzas e ossos tornaria-se viçoso abrigo de pássaros e esquilos. E que a vila toda poderia enfim cruzar as montanhas, abandonando a fome e o frio do vale úmido e conhecer os campos verdes do outro lado.

Um comentário:

  1. Tcham, tcham, tcham, tchaaamm!!!
    Começou bem!!! Suspense!!! Mistério!!! É assim que eu gosto!!! Tô esperando a continuação...

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