De tudo que já vivi na pele, ao vivo, em carne e osso, nada foi tão inesperadamente assombroso e fascinante. Aconteceu em uma fração de segundo, no quintal de casa, e talvez nunca tenha chegado tão perto de uma fatalidade em toda minha vida, apesar de evidências contrárias.
Foi ontem mesmo, num fim de tarde como qualquer outro no janeiro pacato e encalorado de Blumenau. O céu estava confuso, sem saber se ria ou chorava. Quando a chuva começou a cair, veio intensa como sempre vem numa típica tarde de verão blumenauense. O calorão agonizante do dia implorava por um banho de chuva. No horizonte, o sol brilhava zombando das nuvens negras e tingindo a cidade de um ocre impossível, um amarelo fosco, como a lembrança do narrador de um conto de fadas ou as páginas amareladas de um livro velho.
As crianças já estavam prontas, correndo para o jardim, e eu logo atrás. Abriram a porta da cozinha, deram os primeiros dois ou três passos eufóricos na garagem, eu na porta, e fomos parados num estalo pelo ribombar ensurdecedor de uma explosão azul cinco metros à frente, no mesmo confuso instante em que um grito partiu da cozinha, seguido de gemidos assustados. Levou alguns segundos até percebermos que um raio havia caido em nosso jardim, a poucos metros de meus filhos, e ainda atingido minha esposa na cozinha com assustadora, doída mas inofensiva descarga elétrica.
Passado o susto, a zombaria do sol banhando a chuva enfeitiçou-nos de novo e fomos pra água.
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O raio que o parta
UAU!
ResponderExcluirVc é louco! Entrar na chuva depois de um raio desses!!! Eu me esconderia debaixo da cama, quietinho até a chuva parar...
ResponderExcluirConfiei no mito que afirma que um raio não cai 2x no mesmo lugar :-).
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