22 de março de 2010

Tertulia

Descobri recentemente que igreja é tertúlia. Não há dúvida de que o seja. O Padre Almeida e o pessoal da NVI certamente não conheciam o termo, mas não há melhor que designe a ekklesia do que este. Porque igreja, estamos carecas de saber, é uma palavra vitimada pela rebeldia da conotação que se despregou da definição, como a sombra de Peter Pan, e ganhou vida própria... e trágica.

Então esbarrei casualmente nessa palavra que me agradou os ouvidos feito assobio de sabiá. Amando primeiramente a nobreza do som da palavra e seu acorde medieval, fui em seguida verificar a onipresente wikipédia, que já me trouxe informação satisfatória:

"A tertúlia é na sua essência uma reunião de amigos, familiares ou simplesmente frequentadores de um local, que se reúnem de forma mais ou menos regular, para discutir vários temas e assuntos."

Enlevado por essa suficientemente singela definição, saí por aí difundindo a palavra. Foi quando o semi-gaucho Douglas, ao ouvir-me referindo ao termo, me enviou de presente a definição poética e definitiva do vocábulo dada e interpretada pelo gauchesco Os Serranos, no Galpão Crioulo de 1983.



Tertúlia
Os Serranos (Leonardo)

Uma chamarra, uma fogueira,
uma chinoca, uma chaleira
uma saudade, um mate amargo,
e a peonada repassando o trago.

Noite cheirando a querência
das tertúlias do meu pago.

Tertúlia,
o eco das vozes perdidas no campo afora
cantigas brotando livres
dando prenúncio da aurora.

É rima sem compromisso,
julgamento, castração
onde se marca o compasso
no bater do coração.

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