5 de julho de 2010

Em louvor dos porcos

Ouvi sábado, durante um "módulo de capacitação":

"Sabem qual a diferença entre envolvimento e comprometimento?
Imaginem um café da manhã com ovos e bacon.
A galinha está envolvida no processo.
O porco está comprometido."

A sequência óbvia foi a afirmação de que as empresas contam com muitos funcionários envolvidos e muito poucos comprometidos. Uma das funções de coordenadores e gerentes, então, seria levar as pessoas a se comprometerem (obviamente depois de eles próprios pularem pra dentro da frigideira).

Não basta entregar os ovos, meu amigo. É preciso dar o couro. E, ao contrário do porco que lutou como pode para escapar do destino, espera-se que as pessoas o façam voluntariamente, sorridentes, e acreditando que isso seja a coisa certa.

Ah, porquinho... Pensei muito em você.
O que é pior, porco amigo?
Ter virado café da manhã de norte-americano, ou ser citado como exemplo de bunda-mole, de alguém que abre mão da própria vida, da companhia de família e amigos, do próprio instinto de autopreservação, tudo em favor de uma causa irrelevante?
Sei que não foi assim, irmão-porco. Sei que houve luta. Porco que é porco não se entrega, esperneia e grita o mais que pode, mantem a dignidade de dar valor à propria vida até a hora da morte.

Ao contrário daqueles de nós, seres racionais, que se deixam convencer de que o melhor da vida é virar bacon no prato de gente importante.

6 comentários:

  1. ahhh já ouvi essa balela... isso muito revoltante, quantos exemplos toscos de dedicação ao nada, só querem usar nossa força de trabalho para enriquecer suas poupanças... Achei esse texto justo. Temos que lutar em favor dos "porcos" , afinal é o que somos para as empresas.

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  2. poxa, se não fosse citado o "norte-americano" o texto teria me convencido. mas a expressão apenas me confirmou que se trata de mais um que sofre da síndrome da vítima contemporânea.

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  3. Puxa, Tiago, você come ovos com bacon no café da manhã?

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  4. "Módulo de capacitação". Isso me dá arrepios. Louvo os porcos com vc meu mano. E espero ter coragem de espernear e gritar bastante a ponto de jamais virar bacon.

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  5. Tato,

    o texto é ótimo em vários sentidos, já inidiquei ele...
    Porém...

    Como administrador entendo seu ponto de vista. Também odeio esse tipo de marabalismo epstemológico que as ciências gerenciais está cheio.

    O fato é que a mensagem principal é bem verdadeira. Se transportamos a lógica para a igreja isso fica claro. Claro que não estou falando da igreja instituição, mas falo de Evangelho, do Reino de Deus.

    Existem muitas pessoas, pastores, padres e etc que estão envolvidos como uma galinha mas não comprometidos como um porco. Penso que Jesus nos pediu nada menos dos seus discípulos. Ou não?

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  6. Estou falando de empresas, Roger.
    Sejam elas fábricas, emissoras de TV, agências de publicidade, escritórios de contabilidade, hospitais ou igrejas.

    Sobre comprometimento voluntário com o próximo e com os valores do Reino, aí a história é outra.


    No primeiro caso, que os empresários se contentem com os ovos diários especificados nos contratos de trabalho.

    A historinha, na minha opinião, é imoral quando se refere à relação empregado-empresa ou mesmo fiel-denominação religiosa.

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