23 de agosto de 2010

Claustros comunitários

"Todos os que criam estavam unidos 
e tinham tudo em comum. Atos 2:44"

Lá por volta do ano 30, um grupo de malucos começou a revolucionar o mundo engolido pelo império romano e algumas adjacências. Eram gente de todo tipo, reunindo-se em torno do nome de um judeu desconhecido, mais um entre os milhares de crucificados da época, porém com a peculiaridade de ser anunciado como ressurreto, uma espécie de fênix real, um pássaro selvagem que se ergue da morte e ganha os céus.

Essa gente esquisita incomodava o império das formas mais insanas e inespesperadas, chegando a ser assunto nos mais altos tribunais de Roma, e levando alguns dos augustos césares à persegui-los impiedosamente.

O ponto comum e marcante desse grupo que se espalhava e multiplicava como vírus num corpo moribundo era o fato de estarem unidos em torno de um homem que passou 3 anos anunciando a chegada de um novo reino, um reino de paz, justiça e amor. Um reino de igualdade, graça, perdão e misericórdia. Um reino de párias, esquecidos, abandonados, excluídos. Um reino onde o menor é o maior. Um reino absurdo!

A idéia estranha dessa gente estranha, porém, não resistiu ao tempo e foi solapada pelo poder entregue em suas mãos pelo império. O que temos hoje, como desoladora ruína daquele passado, são fragmentos de comunidades enclausuradas em si. Ainda que se pregue, em cada uma delas, a unidade de um corpo só, uma comunidade única espalhada pelo planeta, a "santa igreja universal" do credo apostólico, o que se vive é uma fobia de relações intercomunitárias.

Repartir pão e vinho com alguém de comunidade alheia é visto como um potencial motim. Amizades se desmontam diante da inviabilidade de comunhão entre pessoas de grupos com nomes, CNPJs e endereços distintos. Olhares desconfiados se erguem sobre os ombros na direção dos que se misturam. Líderes agarram-se nas suas listas de membros como esfomeados em um prato de comida, criando, no coração de todos, uma cultura de gueto não só em relação aos 'não-cristãos', mas em relação aos 'não meu grupo'.

Encontros entre diferentes comunidades só são tolerados quando agendados em um calendário oficial. Fora disso, cada um que fique em seu claustro comunitário. É mais seguro assim. Até porque a outra opção seria impraticável: abrir mão do rol de membros e deixar o povo livre, sem cabresto, reunindo-se por amor, por sentimentos fraternos, por laços de amizade e companheirismo e todo esse tipo de coisa que, na prática, não existe. Pelo menos não nesses ambientes de comunidades blindadas. Permitir algo assim, seria abrir mão de tudo e ver o templo ruir. E isso poucos estão dispostos a fazer.

4 comentários:

  1. Oi meu mano em Cristo e mano do meu mano Tato,

    Graça e paz, sempre.

    Passei por aqui para dizer que seu blog é ótimo.

    E também para me colocar à sua disposição aqui em Erechim/RS.

    Nele, nosso Amado Jesus.

    Sandro
    http://oreinoemnos.blogspot.com/

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  2. Cara, o Lou acaba de escrever algo nessa linha... estranho...
    O único jeito de concretizar uma comunidade não-claustro seria existir sem nenhum tipo de rótulo, nome, identidade. Uma comunidade sem "nós", porque toda vez que usamos o pronome, automaticamente a comunidade torna-se excludente porque se há o "nós" é porque, necessariamente, existe o "eles". E aí, ferrou!

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  3. Pô, meu! Fazia um mes que vc não postava nada!!! Qualé?

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  4. Ô Sandro. Legal, obrigado. Erechim me traz as lembranças mais extravagantes da infância.

    Rubinho. O Lou tá me seguindo? :-) Tô devagar porque caí na armadilha da promoção. A água já esquentou e o dragão tá com fome!

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