Eram duas vidas completamente diferentes. Duas histórias distintas, incompatíveis, não fosse terem casualmente se encontrado numa noite chuvosa.
Ele, de família rica, estudou nos mais caros colégios particulares até entrar para a Universidade Federal.
Ela, de família pobre, estudou sempre em escolas públicas de periferia até conseguir uma vaga numa faculdade particular, com o curso financiado, meia-bolsa, e ralando para pagar as mensalidades.
Ele nunca trabalhou e já conhecia a Europa e os EUA, passou uma semana na Patagônia e viajou pelas praias do Nordeste. Passou sempre as férias na praia e os fins de semana andando a cavalo na fazenda do pai.
Ela sempre trabalhou. Primeiro em casa, lavando a louça, limpando a casa e cuidando dos irmãos. Depois na rua, vendendo frutas ou balas ou bujigangas da lojinha do chinês. Depois como diarista, babá, empacotadora de supermercado e frentista de posto de gasolina. Nunca teve férias e os finais de semana que conseguia de folga passava nos bailões do bairro.
Depois de formados, ele assumiu um cargo importante na indústria do pai e ela continuou como frentista no posto ao lado da mesma indústria. Abasteceu muitas vezes o carrão dele sem jamais imaginar o encontro que teriam naquela noite chuvosa.
Ela saindo do posto no horário de sempre, elesaindo tarde da indústria, depois de uma reunião extraordinária, regada a canapés e whisky. Ela a pé, ele em alta velocidade. Ambos desatentos. O impacto foi tão violento que o corpo dela atravessou o párabrisa e parou no banco de passageiros. Ele olhou assustado o corpo inerte e desconjuntado ao lado. Duas histórias tão distintas. Um encontro casual.
Casual, fatal, normal, fatual, imoral... tal e qual a vida.
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