13 de outubro de 2011

Ônibus

Nilton saiu atrasado de casa e perdeu o ônibus no ponto. Consequentemente perderia o ônibus no terminal do Morro e o outro no terminal do Açude. Chegaria pelo meno 40 minutos atrasado e levaria uma mijada daquelas. Mijada por mijada, preferiu voltar pra casa e fazer a bronca valer a pena. Se esparramou no sofá e pegou aquele livro surrado que pegara pra ler há meses e não passara do primeiro capítulo. E leu. O dia inteiro esparramado no sofá, devorou o livro  como que devora uma picanha suculenta. Era a história de um rapaz que, cansado da rotina do trabalho, botou a mochila nas costas e saiu andando por aí. E fez de tudo. Uma aventura atrás da outra.

Nilton fechou o livro e pensou que depois dos 40, um homem já não tem mais condições de botar uma mochila nas costas e abandonar o mundo dos normais. Pois foi num salto que saiu do sofá e gritou para as baratas e traças que ziguezagueavam pela casa mal cuidada:

- Tem sim!

Na mesma noite saiu de casa e tomou um rumo qualquer. E acabou atravessando o Brasil inteiro, de leste a oeste, e os Andes de norte a sul. E cruzou o Atlânticco como clandestino em navio de carga e vagou pela África, cruzou o oriente médio, Índia, China e Rússia, onde encontrou um grupo de traficantes de armas montados em elefantes brancos e, quando estava para ser morto pelo grupo que se sentiu ameaçado, voltou voando pra casa, direto pro sofá, e acordou assustado com o despertador, derrubando o livro no chão. Tinha que correr. Não podia se dar ao luxo de perder o ônibus 2 dias seguidos.

3 comentários:

  1. MUITO bom !!!!Por diversas vezes pensei que a estoria ia tomando um rumo diferente e... surpresa construindo outra.

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  2. Obrigado Sra Urtigão.
    ;)

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  3. Como se diz na gíria: Viajei!!!

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