24 de outubro de 2012

Rio branco

Lá em cima, no alto da Serra do Itajaí, em alguma baixada perdida nos campos do faxinal do Bepe, corre um rio de água branca feito leite com propriedades milagrosas. Em velhos cadernos amarelados pertencentes à família de Igor Vasilev, patriarca desbravador da região, encontram-se breves registros que atestam o fato.

"É como um fio de leite correndo pelo capim. Mas sem cheiro e sabor".
"Troxe a água branca numa cuia de mate. Zoya, que há dias vinha acamada, ergueu-se animada meia hora depois".

Oralmente a história disseminou-se em cochixos tão discretos quanto possível. Houve quem perguntasse ao velho sobre o paradeiro do misterioso curso d´água, mas foi duas ou três vezes só, que se saiba. E a resposta foi sempre a mesma. "Te mostro um curso d'água rubra" e a mão descia pesada no meio da fuça do curioso.

Fayina, filha de Igor, adoeceu gravemente e todo povoado soube. Estava à beira da morte num fim de tarde e foi encontrada na manhã seguinte correndo pelos outeiros do faxinal, com os olhos brilhando, a pele rosada e largo sorriso. Diz-se que o criado mudo no seu quarto servia de descanso a um copo de vidro que abrigava fina lâmina de água branca.

A busca pelo leito branco do regato varreu os altiplanos da serra. Igor Vasilev morreu aos 112 anos e levou consigo o paradeiro do rio, se é que havia.

Não se falou mais no assunto a não ser como lenda, como mito. Depois de algumas décadas, como piada. Até que Helena, neta de Fayina, adoeceu gravamente. Foi levada ao hospital e trazida de lá desenganada. Quando soube da neta, Fayna saiu de casa caminhando na direção da Guabiruba e só voltou depois de 3 dias. Na manhã seguinte à chegada da avó, Helena foi vista correndo pelo faxinal, rindo, com os olhos brilhando e a pele rosada.

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