28 de novembro de 2012

Estrela da terra

CÁNTICO Nº 56 DO HINÁRIO DA TRILHA

Por mais que o cristão se acovarde 
Existe uma chama que arde



Estrela da Terra
Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro
Por Nana Caymmi e Boca Livre



Por mais que haja dor e agonia
Por mais que haja treva sombria
Existe uma luz que é uma guia
Fincada no azul da amplidão
É o claro da estrela do dia
Sobre a Terra da Promissão

Por mais que a canção faça alarde
Por mais que o cristão se acovarde
Existe uma chama que arde
E que não se apaga mais não
É o brilho da estrela da tarde
Na boina do meu capitão

E a gente rebenta do peito a corrente
Com a ponta da lâmina ardente
Da estrela da palma da mão

Por mais que a paixão não se afoite
Por mais que a minh'alma se amoite
Existe um clarão que é um açoite
Mais forte e maior que a paixão
É o raio da estrela da noite
Cravada no meu coração

E a gente já prepara o chão pra semente
Pra vinda da estrela cadente
Que vai florescer o sertão

Igual toda lenda se encerra
Virá o cavaleiro de guerra
Cantando no alto da serra
Montado no seu alazão
Trazendo a estrela na Terra
Sinal de uma nova estação


♫ Conheça as outras músicas do Hinário da Trilha.

7 de novembro de 2012

Vacas magras

As magras vacas que pastam em meu jardim ruminam torrões de terra.

Eu observo da varanda os ângulos pontiagudos de suas ancas magras, e as marolas desenhadas no corpo pelas ripas das costelas.

Terra seca paira no ar.
O Horizonte é pó.

O ipê amarelo secou e os canteiros de íris murcharam arfando ofegantes até a morte.

Eu oro ao Deus da minha infância na esperança de vê-lo ao menos fazer brotar o orvalho durante a madrugada escura que se aproxima.

Mas o breu da noite chega bafejando seco e o mormaço da madrugada alonga a escuridão por cem anos.

Quando o sol finalmente rompe a barra negra do horizonte, derrama sobre o solo ressequido seus inclementes raios amarelos, queimando a planta de meus pés enquanto racha a terra em fatias enormes.

Sob o som crepitante de ossos partidos o solo rude e insaciável engole as vacas, e o ipê, e as íris.

Resta agora em meu jardim somente terra seca, chão batido, pó e minhas últimas gotas de suor.

Não sei porquê permaneço em pé.
Não sei porquê não fui tragado.
Mas sei que na varanda, alheia ao espetáculo apavorante,
ainda descansa, coberta de pó, minha velha enxada.