3 de dezembro de 2007

Uma sexta-feira...

Aqui estou eu.

Cercado por monitores de computador. Segurando uma caneta sem tinta, que escreve com pixels. Na minha frente, elementos tridimensionais brilhantes e reflexivos, que magicamente voam pelo espaço e se agrupam para formar o nome do novo programa de notícias.Aliás, não na minha frente e sim ao meu lado. Porque enquanto a máquina faz sua parte, calculando cada frame da animação, eu me virei para essa outra máquina, um pouco mais humana. Nessa eu leio e envio emails, participo de algumas discussões em fóruns, leio os textos do Tuco, do Brabo e alguns outros (conhecem a página página de cultura do André?). Eventualmente até escrevo alguma coisa aqui na Trilha.Por email, converso com a Sil. Nos fóruns, discuto sobre os grandes problemas do mundo e, principalmente, sobre Deus, graça, amor ao próximo... Essas coisas sobre as quais é muito mais seguro escrever do que viver. Em algumas noites encaro outros monitores e ensino meus alunos a criarem seus próprios elementos tridimensionais que voam. Bom, estudo é coisa importante.E alternando entre essas máquinas lá vai meu dia enquanto minha coluna entorta e minha barriga cresce quase tão rápido quanto o mato lá no sítio que não tenho tempo de cortar.

Não que eu esteja reclamando. Afinal é daqui que vem meu sustento. Hoje, na hora do almoço, até peguei uns 10 minutos de sol enquanto esperava as crianças entrarem no carro.Acabei de ver que a vinheta do novo programa está quase finalizada. Agora preciso fazer um robozinho abraçar o Bruno e o Marrone. E depois construir uma cidade e fazer um carro andar por ela pra promover um político. Bom, política também é coisa importante.

Se olhar pela janela consigo ver o telhado da escolinha onde o Pedro e a Julia estão nesse instante, provavelmente brincando no parquinho. Ah, meus filhinhos... Como amo aqueles dois.Amo tanto que até dói. O que aguarda aqueles dois pequenos, nesse mundo tão maravilhoso e assustador?
Lembrei agora da música que o Pedrinho mais gosta. Ele só canta o refrão: "O mundo é bão, Sebastião! O mundo é bão, Sebastião!". É, o mundo é bão. Só que ele está lá fora e eu aqui dentro.

Outra música. Essa é do mestre Elomar:

"É a ceguêra de dexá um dia de sê pião
Num dançá mais amarrado
Pru pescoço cum cordão
De não sê mais impregado
E tomém num sê patrão
Uma vontade qui me dá
Dum dia arresolvê
Jogá a carga no chão...

Vô cantano inconto posso
Apois sonhá num posso não
Nos tempo qui acenta o almoço
Eu sonho qui num sô mais pião
Uma vontade aqui mi dá
Dum dia arresolvê
Quebrá a cerca da manga
E dexá de sê boi-manso
Dexá carro dexá canga
De trabaiá sem discanso
Me alevantá nos carrasco
Lá nos derradêro sertão
Vazá as ponta afiá os casco
Boi turuna e barbatão
É a ceguera de dexá
Um dia de ser pião
De num comprá nem vendê
Robá isso tomém não
De num sê mais impregado
I tomém num sê patrão"


Elomar - Peão na amarração.mp3

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