1 de abril de 2008

Também sobrevivi [2]

Chesterton, Paul Brand, Robert Coles e a dupla Tolstoi, Dostoievski


Com Chesterton (e CS Lewis), Yancey descobre que existe vida inteligente e crítica na igreja (cristãos que desatavam suas mentes ao invés de contê-las). Nele o autor encontrou também a capacidade de usufruir alegremente da vida e perceber Deus nos detalhes simples, ao contrário dos olhares cisudos dos religiosos e suas carências de racionalizar a fé, ou torná-la refém de experiências místicas. Vale a pena conferir a “Ortodoxia” de Chesterton, recém lançada pela Mundo Cristão.


O médico dos leprosos, Paul Brand, mostrou a abnegação necessária ao cristão e sua devoção ao ser humano como práxis da devoção a Deus. Brand também circulava livremente nos ambientes não religiosos, sendo livre dos rótulos que impomos a nós mesmos por nos portarmos de maneira dogmática e litúrgica em nossa vida cristã. O serviço sacrificial de Brand entre gente tão sofrida contrastava com sua alegria e contentamento. A sua forma de encarar a dor como uma bênção divina e demonstrar isso em seus estudos foi libertadora, bem como sua capacidade de ver Deus em cada detalhe do corpo humano. Extremamente marcante foi a forma como foi recebido na índia pelas comunidades carentes onde ele e seu pai trabalharam, em oposição à forma como circulava em um imponente hospital de Londres, demonstrando de forma clara o contraste da “transitoriedade da fama com a perenidade no investimento no serviço aos outros”.


O trabalho de Robert Coles demonstra a beleza e a essencialidade da simplicidade na fé. Sua forma de entrar em contato com pessoas, de olhar a todos como iguais, de transitar como mestre entre os salões lotados das universidades e, simultaneamente, trabalhar como zelador são impressionantes. Mas assombrosa mesmo é a conclusão de que era muito mais fácil encontrar alegria, satisfação e paz na vida de pessoas pobres, sofridas e sem recursos. Coles percebeu na prática que aquele judeu errante que morreu na cruz sabia o que falava quando exaltava os pobres e dizia que o rico teria muito mais dificuldades para encontrar o Reino de Deus. No fim, demonstra que para oferecermos amor cristão, precisamos romper a fortíssima barreira que nos diferencia do “outro” seja ele considerado menor, ou maior.


“Cada pessoa é um mistério separado e finito, não alguma coisa que pode ser
colocada em uma categoria ou outra”.


A busca pela perfeição, a autonegação absoluta em favor da “santidade” de Tolstoi, e a dependência exclusiva da graça de Deus de Dostoievski são o que separa e atrai esses dois russos. “De Tolstoi aprendo a olhar para dentro... [e] percebo quão miseravelmente distante estou dos ideais do Evangelho. Mas a partir de Dostoievski, conheço a extensão total da graça”. Segundo Yancey, a única maneira de resolver a tensão entre os ideais do evangelho e nossa triste realidade é aceitando que “nunca estaremos à altura, mas não temos que estar nesse patamar”.

[continua]

Veja também:
Também sobrevivi [1]

Um comentário:

  1. Sim Tuco!

    Tive esse imenso privilégio de ter assistido à Terra das Sombras. Realmente fantástico um dos mais belos filmes românticos que já assisti. Pena q não tenha em DVD no Brasil apenas em VHS


    abração amigo
    fica na Graça

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