10 de fevereiro de 2011

A validação do óbvio


"Capaz de trazer felicidade e de proteger o
grupo, os efeitos e motivos da gentileza são
cada vez mais validados pela ciência"
Artigo do IG que recebi por email

A carência que temos de validação superior para quaisquer que sejam nossas atitudes é tão evidente como lastimável. É viceralmente preciso que alguém outro, maior, mais importante, superior, legitime cada um de nossos atos. Tanto melhor quanto maior for o outro.

Em outros tempos, cabia a função de validação à Deus, especialmente através das suas 'instituições representativas', as igrejas. Isso, evidentemente, em se tratando do cristianismo. Mas o princípio é o mesmo para todas as demais religiões. O ato de um homem precisa ser validado pelo ser superior que o domina e que é, para ele, o que Rudolf Otto chamou de 'numinoso' - o mysterium tremendum et fascinans.

Obviamente um ser-humano esclarecido já não dá mais bola para essa bobagem toda. Afinal de contas, é coisa pra gente de cabeça pequena e não para letrados esclarecidos com curso superior, MBA e um sem-número de certificados de cursos e palestras de todo tipo. Um indivíduo avançado assim, dono de um carro seminovo, celular G3 e bicicleta de fibra de carbono não se rebaixaria tanto. Ao invés de submeter-se a validação de um Deus criador de todas as coisas, um homem de verdade só há de submeter-se à validação da ciência. Essa sim! Especialmente se a validação vier acompanhada de infográficos de alguma revista ou site de respeito.

Para o homem moderno, mistério tremendo e fascinante é a ciência. Numinoso é o gráfico da página central da publicação científica.

Dois mil anos atrás, no entanto, a apesar de todas as probabilidades, um judeuzinho petulante e até hoje desconhecido ousou dizer que um novo mundo surgia. Que o mysterium tremendum não estaria mais do lado de fora, que o homem já não mais deveria buscar validação em um numinoso exterior, superior e inalcansável. E isso por um simples e terrível motivo: o numinoso havia se tornado carne e feito a si mesmo servo de todos. O mysterium tremendum et fascinans havia cuspido na terra, tocado com suas mãos nas feridas abertas dos homens e coagulado seu sangue inocente no pó.

A busca pela validação tornou-se a busca pela liberdade antes entregue nas mãos do inefável, agora disponível a cada um. Aquela busca terrível que nascia outrora da Lei de Deus e brota hoje da Ciência, não é mais do que a busca desesperada do indivíduo por seu próprio coração perdido, como o homem de lata no Mágico de Oz.

"Porei minhas leis em sua mente e as escreverei em seu coração."
Hebreus 8:10

4 comentários:

  1. Anônimo3:20 PM

    ótimo mesmo!

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  2. Edson Struminski4:58 PM

    Tuco concordo com muito do que você escreveu sobre a necessidade que o ser humano precisa da legitimação, mas a validação científica a que você se refere não é automática como parece. Faz parte do processo científico a possibilidade de refutar uma tese, por mais atraente, reveladora e sedutora que pareça à primeira vista. É o princípio dialético. Se a ciência se torna dogmática ela vira ideologia, religião, o que for, menos ciência.
    Abraços, bom texto
    Du Bois

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    1. Tá certo Du Bois. Cientistas costumam tratar a ciência com dialética. Mas o leitor da superinteressante não. :)

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