Era um (entre tantos) período tenso da história de povo judeu. Havia um império opressor, uma classe político-religiosa vendida, um grupo de civis corrompidos prestando serviço ao império, algumas células de revoltosos armando sua revolução - tendo já algumas tentativas de levante popular sido sufocadas na base da porrada e com muito sangue derramado - e um povo sofrido e anestesiado aguardando seu messias político. E, evidentemente, um clima nervoso entre os de um grupo e outro.
Foi no meio dessa turbulência que, caminhando pela poeira da Galiléia, o jovem rabi de Nazaré deu de cara com Simão, o zelote - um revoltoso, um militante, um formador de quadrilha, um black bloc, um arruaceiro daqueles - e calhou ao intrigante mestre chamar o desordeiro para participar do seu pequeno grupo de discípulos. Ele topou, na hora. "Esse cabra tem couro grosso! Vam'bora arrebentar com tudo", deve ter pensado o meliante. E juntou-se ao pequeno grupo de pescadores que já seguia o mestre.
Alguns dias depois, talvez por ter visto o brilho nos olhos de Simão, o marceneiro nazareno decidiu pregar uma peça no zelote. Assim como quem não quer nada, quando voltavam das compras na feira de Cafarnaum, o rabi cutucou Simão e, com um sorriso maroto e uma piscadela, saiu caminhando na direção do pequeno escritório onde funcionava a espúria coletoria de impostos da cidade. Parou na porta, olhou de novo para Simão com aquele mesmo sorriso, e entrou. O zelote estava eufórico, cheio de expectativa: "ele vai dar um wazari no coletor, aquele corrupto calhorda, aquele vendido deplorável! Um hadouken direto no peito daquele pária! Já era!". Um minuto depois Jesus saiu lá de dentro abraçado ao salafrário Mateus, que sorria com os olhos marejados enquanto o Rabi lhe beijava a testa e ria.
Simão observava, pasmo, assustado e confuso, que o mestre vinha na sua direção de braço dado com o cobrador de impostos até chegar bem perto de seu ouvido e sussurrar matreiro: "taí seu novo companheiro, amigo zelote. Um homem a serviço de Roma. Hoje a noite vamos jantar na casa dele. E vai ser um banquete daqueles! ".
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O texto bíblico não esclarece como foi o encontro desses dois antagonistas, forçadamente feito irmãos de uma hora pra outra, mas o sorriso matreiro de Jesus me parece evidente nas entrelinhas.
Nas entrelinhas há muito mais matreirice do que suspeita a nossa vã teologia!!!!
ResponderExcluirÓtimo texto
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