Imagem: Nativity, de Grechetto [ veja os detalhes em tamanho realmente grande aqui ] |
Numa noite fria do inverno palestino uma estrela surgiu no céu. Era o mesmo céu visto por uma multidão, mas ninguém percebeu a estrela a não ser os misteriosos magos do oriente. Talvez fossem seguidores de Confúcio ou Buda. Talvez taoistas ou hinduistas iogues, dármicos, vedantas, védicos ou bhaktis. Eram essas as religiões do oriente à época e os caras eram magos do oriente, meus amigos, e o cristão tradicional tem que engolir essa parada a seco. Eles viram e ninguém mais viu. O que os fez ver? Por que só eles?
Aos pastores de ovelhas nos arredores de Belém, Deus enviou um coral inteiro de anjos, porque só a estrela os caras nem teriam visto. E ainda assim, gente do céu, um coral de anjos cantou numa silenciosa noite de um pequeno povoado e só os pastores viram, só eles ouviram. Irrelevantes pastores do turno 3. O que os fez ver? O que cegou os outros? Não tinham ouvidos pra ouvir?
Quase dois meses depois o Deus bebê foi levado ao templo como manda o figurino. José e Maria vieram caminhando, trazendo o menino no colo. Mais um casal, entre tantos, vindo apresentar um bebê no templo, ignorado por todos, cumprindo as regras de Moisés. E a galera lá, indo e vindo, carregando ofertas, conversando, fofocando, falando mal de alguém como acontece no salão de todos os templos desde que se ergueu o primeiro.
E eis que surge, sabe-se lá de onde, um velho e uma velha, já com um pé na cova, esgualepados e esquecidos. O velho, louvando a Deus, pega o menino entre risos e lágrimas por ter visto o que ninguém viu. E a velha ao lado cantando feito doida sem tirar os olhos de um bebezinho insignificante entre tantos que todos os dias passavam por ali. Como eles viram? Como souberam? Por que ninguém mais viu?
Não é a toa que Jesus diz que nele “se cumpriram as escrituras”, enquanto lê no texto de Isaías que o messias veio para “restaurar a vista aos cegos”.
Ah, menino da manjedoura, quero estar entre os que vêem. Cura meus olhos. Tira a venda. Arranca as escamas. Quero ver aquela estrela entre milhares. Quero ouvir o canto dos anjos que cantam sempre, sem parar, dia após dia ao meu redor. Quero ouvi-los de novo e sempre. E que a estrela e os anjos me conduzam à simplicidade da estrebaria. E quando você passar ao meu lado, ah! menino Deus, que não passe despercebido, que eu o reconheça e que jamais o perca de vista.
- Não deixe de ouvir, em oração, a trilha musical perfeita para essa publicação:
Spotify - Estrela, estrela - Vitor Ramil.
Belo texto, meu velho. E baita obra você escolheu pra ilustrar. Me amarro especialmente na delicadeza e sutileza as auréolas, quase imperceptíveis. Daquelas coisas que passam pela gente e, se não prestarmos atenção, nem vemos. A divindade, parece, é o mundano só com uma pincelada a mais. Mas a gente tem que se ligar pra ver. Feliz Natal, cara.
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