10 de maio de 2022

Fé e Política

Trecho da live pro Núcleo de Evangélicas e Evangélicos do PT SC (NEPT-SC) em maio do ano passado.

PS: Talvez seja importante ressaltar que o conceito de fé e política no vídeo é o avesso da aplicação nefasta das bancadas religiosas e pastores vendilhões, que usam a influência que têm para manipular gente em nome de um projeto de poder associado ao inferno. Esses caras, naquele dia, ouvirão: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!’. 



TRANSCRIÇÃO DO ÁUDIO:

Acho que primeiro é preciso conceituar um pouco né, então eu vou fazer minha conceituação.

Nós somos seres coletivos, vivemos em sociedade, em ambientes coletivos, e a política é a nossa atuação como cidadãos na sociedade. Se eu sou ser social e convivo e tenho responsabilidades, minhas atitudes pessoais tem consequências e eu sou responsável por isso.

Eu, particularmente, defendo uma fé que tem que se preocupar com o outro, um outro que está ali na sociedade. Portanto, como estou na sociedade e tenho responsabilidades aqui, convivo nesse coletivo, eu entendo isso como política. Estar aqui, no ambiente coletivo, na “polis”, sendo responsável por aquilo que acontece na “polis”.

Então, desse ponto de vista, sim, fé é política e, portanto, não, não dá para dissociar fé de política. E do ponto de vista do Evangelho, da leitura que faço do Evangelho, a fé é política porque fé é prática. “A fé sem obras é morta” (Tg 2), portanto, fé é política porque obras, segundo o Evangelho, é servir o próximo, fazer o bem ao próximo, cuidar do outro, estar atento ao outro, atender a necessidade do outro. E quem faz isso, faz política. Quem tá interessado no outro, olha para o outro, quer saber das necessidades do outro, quer acudir o outro, está agindo politicamente. 

Então, quem serve a sociedade faz política e nós, cristãos, somos chamados a servir o próximo e o próximo é a sociedade. Para servir a sociedade, temos que entender a sociedade, ligar para ela, nos preocupar com ela, propor melhoras e brigar por essas melhoras, lutar por elas. E isso é fazer política tanto quanto é viver o Evangelho na prática. Fé sem política é fé sem obras e, portanto, é fé morta.

E Jesus, é muito louco, porque Jesus começa a experiência dele pública falando de política e termina falando de política! 

A primeira fala pública de Jesus é: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos” (Lc 4). Isso é ação política! Não é ficar orando na minha casa, é me envolver com as pessoas, para cuidar delas.

E uma das últimas falas de Jesus, lá em Mateus 25, é: “eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram” (Mt 25). Tudo isso é ação política. Então Jesus inicia a vida pública dele propondo uma ação política e encerra a vida pública dele propondo ação política. 

Isso é fé e obras, é fé e sociedade e, portanto, é fé e política. Então, não dá para dissociar, senão o crente vive no mundo da fantasia, da espiritualidade, se fecha dentro do lugar dele, fica lá orando, rezando, fazendo as suas coisas para se sentir bem e não não faz o que foi chamado a fazer, que é servir a sociedade!

Portanto, na minha opinião, sim, fé é política, tem que ser política. Eu tenho que olhar a necessidade do outro e me dedicar a entender essa necessidade. Não basta dar uma cesta básica lá pro irmãozinho da igreja. É bom fazer isso, é importante mas não basta! Tem que olhar para a sociedade! Eu tenho que olhar para o cara que tá lá morando na rua, tenho que olhar para o cara que não tem acesso à escola, que é vítima de violência, que é vítima de preconceito. Tenho que olhar para esse cara. Tenho que amar e proteger, ser parte de quem protege, de quem cuida de quem acolhe, de quem recebe, de quem ama. E não ser parte dos que acusam, condenam e tal, que é o que a gente tem visto com tanta dor no coração ultimamente. 

Então fé é política e é uma política consciente de que nós somos discípulos daquele que ama, e ama incondicionalmente, e recebe, e acolhe, é desse cara que nós somos discípulos.

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