A lembrança mais remota que tenho de minha existência é a imagem de um cachorrinho de plástico, branco e amarelo, pendurado em meu berço, balançando sobre minha cabeça, e a voz de uma mulher que canta:
"Jesus escuta, a voz terninha, da criancinha, em oração..."
Não vejo exatamente o rosto dela, mas ouço sua voz com muita clareza, e sinto o toque dos seus dedos na minha pele macia, na penugem dos cabelos.
Não sei quantos anos tinha. Não consigo colocar essa memória em uma linha do tempo. Não sei em que casa era. Mas ouço. Há quase 50 anos ouço essa voz e essa canção.
"... E também sabe, dos seus intentos, e pensamentos, do coração"
Esse ano completo meio século de vida. E de um jeito ou de outro, com maior ou menor intensidade, Jesus de Nazaré foi sempre a referência em torno da qual circulei. Sei, e sempre soube, que isso nasceu daquela voz, sussurrando pra dentro de mim uma beleza indizível, imensurável, amorosa e redentora, e me revelando que o nome dessa beleza é Jesus.
Nesse meio século procurei Jesus em livros, retiros, encontros, reuniões, nas muitas conversas com muita gente boa, no serviço, no acolhimento, no relacionamento com o outro, na teologia. E, de muitas formas, O encontrei em cada um desses lugares.
Mas, ainda hoje, 50 anos depois, se estou carente, se estou triste, se estou sozinho, se estou com medo, se estou com dor, como a dor que agora sinto, que é saudade, que é distância, que é ausência do que temo um dia perder, se careço da beleza indizível, imensurável, amorosa e redentora que me sussurrou aquela voz, se quero Seu abraço, Seu hálito, Seu afeto, não sei de forma melhor para encontrá-lO do que, sozinho em algum canto, fechando os olhos, ouvir de novo aquela voz, aquela canção.
No fim das contas, meio século depois, descubro que a imagem mais intensa, profunda e presente do Cristo em mim está na minha primeira memória de infância. Na voz doce da minha mãe.
❤️
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