Um dos mais trágicos períodos da história recente é o protagonizado pelo nazismo alemão antes e durante a segunda guerra mundial. Talvez o conturbado momento político e social que a Alemanha vivia, desde a primeira guerra, tenha favorecido o fortalecimento da ideologia que originou o nazismo de Hitler. Talvez a sagacidade com que essa ideologia foi transmitida, através de recursos revolucionários de propaganda e marketing, tenha colaborado para a adesão maciça da população, ao tão desumano tratamento que o nazismo deu àqueles que ele mesmo considerou indesejáveis. Mas o fato inegável é que essa adesão contou com a participação da igreja cristã alemã.
Olhando de longe não é difícil pensar – como isso pode acontecer? Onde essa gente estava com a cabeça (e o coração, e a alma)?
O teólogo e historiador cubano Justo L. Gonzalez, em entrevista à revista Ultimato, diz que “quanto mais perto estamos dos acontecimentos, mais difícil é medir sua importância”. Como saberíamos que habitamos um planeta azul, se não o tivéssemos visto do espaço? Como discernir o todo que nos cerca, se fazemos parte dele?
A igreja alemã conviveu com o holocausto ao menos de três formas. Ativamente [1], quando cooperou com o partido nazista e creu cegamente da “supremacia ariana”, estando certamente representada entre militares ou mesmo cidadãos que agrediram, seja física ou moralmente, os indesejáveis (judeus na sua grande maioria). Passivamente [2], quando observou consternadamente de longe a ação cruel e desumana dos compatriotas. Profeticamente [3], levantando corajosamente sua voz contra os horrores da guerra, como no caso do martirizado Dietrich Bonhoeffer.
O que salta aos olhos e arrepia os cabelos é a clara discrepância numérica entre os adeptos dos grupos 1, 2 e 3. Se a Alemanha era um país cristão, fica evidente, pelo comportamento da sociedade à época, que o grupo mais numeroso foi o primeiro. A adesão às idéias nazistas foi maciça. Talvez um pequeno grupo permaneceu observando atônito o rumo dos acontecimentos. Mas nadar contra a corrente seria penoso demais. O segundo grupo se calou. Os que ousaram abrir a boca, honrosos remanescentes, enlouquecidos pela cruz de Cristo, pagaram um alto preço. O terceiro grupo, quase se poderia contar nos dedos.
Seria um alívio constatar que isso já passou. Faz parte da história e não deve ser repetido. No entanto, como saber se não estamos embarcando na mesma nau? Se não estamos entorpecidos pelos acontecimentos, cegados pelo espírito do nosso tempo?
Vivemos em uma sociedade injusta, cruel, discriminatória. A realidade social, política e ideológica dos nossos dias atua de forma semelhante à da Alemanha nazista. Os guetos das grandes cidades são hoje chamados de favelas, ou mesmo nossas próprias casas gradeadas. A desconfiança racial e religiosa mantém a Europa de hoje em clima de constante tensão. Olhares de europeus e imigrantes se cruzam receosos. As ideologias norte-americanas (entre elas a globalização compulsória a que somos submetidos, que favorece os fortes e sufoca os fracos) utilizam-se das mais modernas e poderosas estratégias de marketing e propaganda, e arrebatam a grande massa da população mundial às suas convicções. E os que são contrários, são inimigos, conforme declaração deliberada do comandante supremo daquela nação.
E segue a igreja hoje, como ontem, dividida.
Há os que participam ativamente dessa sociedade cruel, embriagados pelo crescimento numérico, pelo controle de vidas e pela crescente influência política. Esses mantêm as portas do templo abertas aos pobres e aos fracos, não para tratá-los com amor e generosidade, mas para prendê-los em correntes e promessas de vitória e prosperidade, e sugá-los, e usá-los como cruel demonstração de poder e controle, enquanto constroem suntuosos templos, elefantes brancos, castelos para abrigar seus majestosos egos entorpecidos.
Há os que prosseguem silenciosos, vivendo vidas de impecável comportamento moral e ético, cumpridores fiéis dos preceitos divinos, senhores de respeito. Esses olham com horror às loucuras do primeiro grupo, mas passam de lado dos habitantes dos guetos. Murmuram palavras de desgosto àqueles que se aproveitam da fé alheia e enaltecem sua nobre posição, mas passam de lado dos excluídos e marginalizados. Vivem em uma sociedade à parte. E permanecem em silêncio e inertes.
Mas há de haver, ainda, alguns dispostos a seguir o estreito caminho que foi trilhado por Jesus. Caminho não repetido senão por uns poucos desafortunados aqui e ali, nesses dois mil anos de história. Para seguir esse caminho é preciso olhar de fora e discernir os fatos que nos cercam.
Para podermos levantar a voz e nadar contra a corrente, ainda que isso custe o preço que custou àquele que abriu a trilha, temos que saber a cor do planeta em que vivemos.
Omissão...
ResponderExcluirQuem de nós não é culpado?
"Meu sentimento como cristão aponta-me para meu Senhor e Salvador na qualidade de combatente. Aponta-me para o homem solitário que, cercado por poucos seguidores, reconheceu esses judeus pelo que são e convocou homens para lutar contra eles e que – verdade de Deus! – foi maior não como sofredor mas como combatente.
ResponderExcluirEm plenitude de amor como cristão e como homem leio a passagem que conta como o Senhor finalmente ergueu-se em seu poder e empunhou seu açoite a fim de expulsar do Templo a raça de víboras e serpentes. Quão formidável foi sua luta contra o veneno judeu."
Adolf Hitler, 12 de abril de 1922
Tem um documentário espetacular que mostra como Hitler conseguiu chegar ao poder.
ResponderExcluirArquitetura da Destruição, de Peter Cohen.
Sensacional.
vlw brother, passei por aki
ResponderExcluirabração. fica com DEUS