Por Vinicius em 9/08/06
Sinto-me sensível, o que quer que isso possa significar para um homem feito como eu, de barba desgranhada na cara. Minha inspiração para esse texto, e para todo o resto que virá a seguir, pode não ser divina, mas eu estou impulsionado a falar do céu.
Quero começar contando que eu já chorei algumas vezes na montanha. Admito e não vejo problema algum em assumir isso. Já vi muita gente chorando na montanha, seja por alegria ou por dor. Você, quem sabe, já tenha passado por essa situação também. A minha primeira vez foi numa ocasião há vários anos, quando eu estava indo sozinho para um lugar que não conhecia direito, e a noite, com uma chuva torrencial, cai em lágrimas muito tristes. Eu me perguntava:
- Vinicius, o que você está fazendo aqui nesse fim de mundo, ainda por cima sozinho? Olha essa chuva lá fora!
Mas a noite em algum momento acaba, tão certo quanto a leveza do ar. E ao amanhecer, sem a chuva e com o sol aparecendo entre as nuvens, eu já não estava mais amedrontado. Passou, a vida continuou e eu lembro com saudades daquele tempo de descobertas. Hoje, eu uso essa passagem em conversas de bar, com outros montanhistas:
- Cara, então, teve uma vez que eu fui pra esse lugar aí, e caí no maior choro a noite… bruta fiasco!
- Ah, sério?
- Sério véio. Eu comia bolacha Maria, tomava um gole de suco e chorava muito.
- Hahaha… Ei Fulano, ouve aqui o que o Vinicius está falando, vê se é possível… Vai, explica de volta essa história.
Mas as lágrimas mais significativas, as que até hoje me dão arrepio e emoção, foram as que rolaram pelo mais espetacular mar de nuvens que eu vi em toda a minha vida de montanhista. Algo grandioso, infinito. Eu estava numa grande montanha aqui do nosso estado, e até onde a vista alcançava, estava tudo tomado pelo branco, e sutil era o espaço onde acabavam as nuvens e começava o céu. Uma espessa cobertura de aparência fofa e banhada pelo entardecer, com as sombras das grandes montanhas projetadas sobre ela. Admirei aquela cena com espanto, e a surpresa, pouco a pouco, foi dando lugar a uma enorme insignificância. Senti-me pequeno, dá pra dizer que foi isso. E um estalo abriu meu cérebro, e eu chorei, pois estava vendo Deus. Sim, diante de mim estava Deus, mesmo que eu não soubesse disso no momento.
Por estalo também, me vi inspirado a fazer um vídeo sobre o assunto. Essa inspiração dizia que Deus assume muitas formas quando quer se comunicar conosco. Para Moisés, na passagem do deserto no Velho Testamento, Ele apareceu com uma sarça ardente. Para você, Deus pode se manifestar como um segredo; para outro, como a coisa mais óbvia do mundo. Para alguns, até, Ele tenta se mostrar, mas não consegue simplesmente porque não pode forçar a barra. E eu acabei descobrindo que para mim, Deus se manifesta como nuvem. Eu já tinha sido tocado sobre esse aspecto no passado, dentro da relação Criador/criatura, mas a minha visão ainda estava bloqueada. Agora não, esse pedaço que explica minha vida na Terra, principalmente como montanhista, não me é mais mistério. Foi essa revelação que norteou a construção desse vídeo, que representa a pura intenção de mostrar uma busca espiritual. Se você for assisti-lo, peço que preste atenção à seqüência inicial, pois é a cena que descrevo nesse texto. Você, certamente, não verá as nuvens com os mesmos olhos que eu vi, mas essa é a imagem primordial, a que dá razão às demais. Claro, veja o resto do filme, mas fique atento ao início.
Todas as seqüências utilizadas estão impregnadas de nuvens. Desta vez não pretendo contar muito sobre as imagens, exceto que elas são de minha autoria, que são todas paisagens paranaenses e que apenas uma delas não foi feita nas montanhas. Algumas cenas são óbvias, outras não. A música é a perfeita Tema da Montanha, do filme Extremo Sul. Como essa música foi feita para um filme de montanha, coube certinha para o meu vídeo também. Ademais, incluí uns trechos da Bíblia para compor o material. Pra fechar, deixo um pequeno alerta: esse vídeo merecia ficar em qualidade máxima, portanto, serão milhões de bytes para baixar. Sugiro até, que você primeiro espere o filme carregar inteiro, antes de assitir.
Agora eu estou olhando pela janela e o céu está totalmente limpo. A Serra do Mar está ali e suas montanhas me convidam a um passeio. E eu aqui, me sentindo tão só… Como posso continuar vivendo sem ver as nuvens do céu?
Texto do Vinicius Ribeiro, consentidamente sugado para cá.
http://amontanha.com.br
Lindo, muito lindo, Vinicius.
ResponderExcluirNão existe lugar nesse mundo onde eu já tenha sentido Deus mais próximo do que nos cumes dessas lindas montanhas.
Que Ele nos conceda o privilégio de estarmos ao seu lado até nosso último por do sol.
Muito obrigado Tato. Fico feliz que você tenha gostado :-)
ResponderExcluirE muito me honra ter este texto publicado aqui, neste blog que freqüento e que está no meu leitor de feeds. É um privilégio, sem dúvida.
E como você mesmo disse, privilégio maior será ter da Sua companhia até o último pôr-do-sol, até a derradeira montanha. E depois, na próxima vida, com certeza, não mais como Nuvem.
Meu grande abraço!!