9 de abril de 2008

Tristeza


O pequeno cômodo que abriga o corpo inerte luta para manter-se em pé. A única parte da modesta casa que por pouco ainda não ruiu, permanece mergulhada em sombra. Há meses o local foi privado de água e luz, servindo apenas como precário abrigo de ratos, baratas e bêbados. O jovem que jaz desfigurado sobre colchão surrado, regado a cachaça e urina, sabe bem a que se referiu Adoniran Barbosa:
A tristeza é um bichinho
Que pra roer 'tá sozinho
E como róe a bandida
Parece rato em queijo parmesão
Sobre o banco do carro novo o corpo desfigurado do jovem movimenta-se lento e descontrolado. O caminho para a casa de recuperação é longo. Já esteve em três ou quatro. Fugiu de todas. Na última fuga, vagou a pé e descalço, durante oito dias, até chegar novamente ao rude cômodo que ele chamava de "minha casa".
A caminho da esperança, chora, xinga, grita, dorme e não consegue controlar a urina. Na casa, é recebido por anjos que viveram outrora no inferno, mas foram resgatados pelo amor e serviço de semelhantes.

É o início das dores que podem trazê-lo de volta à vida.
Veja também:
1. Tristeza
2. Fétido

Um comentário:

  1. Todas as minhas reverências, camarada.

    Há sangue de Dostoiévski na sua pena.

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