22 de setembro de 2008

O campo dos Wagner [5]

Lúgubre

A primeira coisa que os Schmidt fizeram quando ouviram novamente o grito pavoroso, foi correr até o quarto onde abrigavam o pequeno Ernst. Ele permanecia dormindo tranquilamente. Enquanto a família reuniu-se no quarto, o pai precipitou-se para fora do rancho, correndo em direção ao campo dos Wagner. Vários moradores faziam o mesmo, encontrando-se das estradas ou picadas no meio dos capões. Alguns vinham armados com revólveres e espingardas, outros com pás e enxadas, outros ainda, como Schmidt, corriam de pijama e sem nada nas mãos. Foi ele o primeiro a chegar no pasto. Os que o seguiam, reduziam o passo lentamente, com medo de descobrir o que era aquele perfil volumoso no alto da colina, próximo da floresta, escondido pela penumbra da noite.

A cena era lúgubre. A lua, que projetava a sombra da floresta no topo do morro, iluminava com facho certeiro de luz o volume ainda irreconhecível no topo descampado. A luz suave separava a silhueta em duas formas. A menor foi reconhecida primeiro. Em estado catatônico, com os olhos esbugalhados, a boca entreaberta e olhando fixamente para o estranho volume escuro alguns metros a sua frente, estava o pastor. Aos poucos o volume maior foi tomando forma na retina de Schmidt e dos que vinham atrás dele. Enquanto os olhos acostumavam-se com a falta de luz, formou-se lentamente diante de todos a cena que marcaria para sempre a retina de cada habitante daquele lugar. Empilhados naquele canto, sem uma gota de sangue, estavam sete corpos desnucados. À sua frente, marcas circulares deixavam cicatrizes fumegantes no chão.

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