2 de fevereiro de 2009

Inacabado

Penso que Deus deve ter sido um artista brincalhão para inventar coisas tão incríveis para se comer. Penso mais: que ele foi gracioso. Deu-nos as coisas incompletas, cruas. Deixou-nos o prazer de inventar a culinária.
Rubem Alves - A festa de Babete


Quando nos criou "à sua imagem e semelhança", Deus deu-nos essa incrível capacidade de inventar. E colocou diante de nós toda matéria prima. Fez como o pai que coloca diante de seu filho pequeno um arsenal de tintas, pincéis, tesouras, colas e papéis dos mais variados tipos e cores. Sei como é isso. Minha filha de 6 anos produz pinturas e colagens com voracidade e alegria desconcertantes. Basta colocar diante dela a matéria prima.

- Isso é seu filha. Pode pintar, recortar e colar.

E começa a produção. É delicioso acompanhar o prazer, a dedicação, o esforço daquela pequenina criatura em cada pequeno projeto. E cada obra pronta é um presentinho colocado com carinho em minhas mãos, acompanhado de um grande e cativante sorriso, como que devolvendo, de forma aprimorada, aprefeiçoada, refinada, o que lhe foi entregue, ciente de que era essa a vontade do pai. Não preciso lhe pedir nada. É reação natural dela trabalhar, produzir, transformar, criar e desfrutar de cada instante, para depois presentear a quem tudo lhe deu, de graça, sem lhe pedir nada em troca.

- Pra você, papai - e recebo meu papelzinho todo enfeitado e colorido.

Quando crescer, quero ser como minha filha. Desfrutar com alegria do que meu pai me dá, transformar e aprimorar o que me chegue às mãos, da melhor forma que puder, simplesmente para poder entregar-lhe tudo de novo como presente, com um coração imensamente grato por ter recebido dele, de mãos beijadas, tudo o que precisava para viver.

2 comentários:

  1. quando crescer quero ser mais parecida com Deus, que se alegra com o pouco!

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  2. É, Sandrinha, pensei nisso também. Que o pouco que podemos fazer, com cores pintadas pra fora dos contornos, recortes imprecisos, borrões de tinta e manchas de cola pode ainda assim ser recebido pelo Pai com a mesma alegria com que recebemos esses presentinhos maravilhosos de nossos pequenos.

    Me parece que o espírito com que tudo é feito é o que realmente conta.

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