É nesse sentido que o ambiente religioso pode tornar-se inconscientemente cruel. Especialmente um ambiente exclusivista como o cristão. Porque ao ser exclusivo torna-se necessariamente auto-suficiente. Cria em torno de si uma bolha dentro da qual, é o que somos levados a crer, se encontra tudo o que nos é necessário e suficiente e fora da qual, e é aí que se entorna o caldo, encontra-se tudo o que é mal, cruel, potencialmente destrutivo.
A partir desse pensamento é que se constrói a necessidade de controle e segurança que nos leva a criar toda espécie de mitos que sirvam para nos afastar dos limites da bolha. Quando disseram que os violeiros do sertão tinham pacto com o demônio, criaram instantaneamente a artimanha necessária para manter os fiéis longe do perigo de tronarem-se boêmios.
Exemplo marcante dessa trama religiosa tecida cuidadosamente ao redor dos fiéis encontra-se no chocante filme de Shyamalan, A Vila.
O nome da bolha que nos cerca é "crença". Sou prisioneiro do que creio. Quando Jesus fala a um grupo de judeus que, caso eles viessem a conhecer a verdade, ela os libertaria, eles se ofenderam. Eram filhos de Abraão. Eram povo escolhido. E incrivelmente mais que isso, eram judeus que "haviam crido nele". Eram aquilo que hoje somos nós, os cristãos. Mas é a eles (e consequentemente a nós) que o Mestre se dirije sinceramente propondo que fossem além de "crer". A religião cristã vive da crença. Jesus, no entanto, não buscava crentes carolas e sim homens livres.
Portanto, se o Filho os libertar, vocês de fato serão livres. João 8.36
Tuco,
ResponderExcluirSe "tudo o que temos é o que cremos" - como postei hoje no meu blog - e se "somos prisioneiros do que cremos" - como afirma você - será possível a liberdade? De quê liberdade fala Jesus?
A questão está na definição do "crer". A crença a que me refiro (e retratada no filme A Vila) é fixa como uma rocha e gera o ambiente opressor do filme (e de muitos redutos religiosos por aí). Jesus é inesperado, circunstancial, escorregadio, convicto mas maleável... Bom, o Ellul e o Brabo já definiram isso muito melhor do que eu jamais faria, é óbvio.
ResponderExcluirNão vi o filme, mas não tenho dúvida da força restritiva das crenças. Chamamos essas forças de falsas crenças e no âmbito do aconselhamento, nosso trabalho se concentra em ajudar as pessoas a se livrarem delas, a maioria, de origem religiosa. Algumas, para não dizer muitas, são embasadas em textos bíblicos, especialmente naqueles que expressam mitos, como diria Bultmann.
ResponderExcluirTuco, vi o filme na época do lançamento (2005, acho) e não foi outra impressão que causou a mim e a meus amigos: era uma tese sobre fundamentalismo! Não importa a intenção do cara que fez o filme, pra nós era isso...
ResponderExcluirHá algo atrás das palavras, ao qual não temos acesso, mas do qual nos aproximamos sutilmente com nossas descrições (crença?). O ridículo, o perigoso é se enredar na trama das palavras e reprimir o Sentido: fixar-se em teses sobre o dedo que aponta para a lua e deixar a contemplação da lua pra depois. As palavras dão testemunho da nossa perplexidade (fé?) diante da lua, ou de nossa tentativa de substitui-la por uma foto sua(doutrina).
Descrição e perplexidade, Rodilney. Taí uma boa opção pros termos crença e fé.
ResponderExcluirValeu.