Seu ministério conosco teve início de uma forma surpreendente. Estávamos sem pastor e a simples convivência com ele nos cativou de maneira tal que o seu reconhecimento à função tornou-se irresistível para nós. Foi quando descobrimos a nossa primeira divergência: enquanto achávamos de fundamental importância a sua confirmação nas funções eclesiásticas, de acordo com os nossos normativos, ele afirmava não ser necessário e até agia com certo desprezo. Mesmo assim, o seu pastoreio parecia ser indiscutível e unânime no seio da comunidade, o que entendemos como direcionamento de Deus. [...]
Ao invés do púlpito, ele preferia estar à mesa. Desejávamos ter um grande pregador para os nossos cultos públicos, e ele era - na realidade - imbatível. No entanto, por várias vezes delegou a sua atribuição a outros, preferindo estar nas casas dos irmãos ou nos bares e restaurantes da vida, comendo e bebendo em meio a uma boa conversa. Segundo ele próprio, esse era o seu principal ministério: “a oportunidade de ensinar, aconselhar, encorajar, ouvir, chorar com os que choram...” [...]
Aliás, nessa coisa de viver comendo e bebendo com as pessoas, chegou a sentar-se com muita gente que não devia. O pior é que várias dessas pessoas se converteram e não vieram para a nossa igreja. Ele só pregava o arrependimento e não uma adesão comprometida conosco e com a nossa visão. É verdade que, desses, todos mudaram radicalmente seus comportamentos, alguns abriram trabalhos sociais, passaram a promover reuniões caseiras ou, em seus ambientes de trabalho, tornaram-se intensos evangelistas. Muitos se reconciliaram com pessoas a quem tinham ofendido, pediram perdão, pagaram dívidas; mas só isso, apenas isso.
Aos invés de solenidades, ele preferia o informal. Facilmente abria mão de reuniões, cultos e até rituais fundamentais, como por exemplo, o batismo. Nunca batizou ninguém. Enquanto achávamos ser sua responsabilidade tal ordenança, ele delegava sempre aos outros, ensinando que todos, como sacerdotes, podiam fazê-lo em nome do Pai, do Filho e do Espírito. O mesmo acontecia com muitas outras atividades que julgamos pertencerem apenas àqueles investidos da autoridade pastoral. Na ministração da ceia, nunca se opôs à participação das crianças, nem exigiu o pré-requisito de ser membro da nossa igreja. Na verdade, nunca estabeleceu critérios tanto para a participação quanto para a ministração. Apenas encorajava uma busca por comunhão entre os irmãos e reconciliação com Deus, mediante o arrependimento, e o conseqüente comer do pão e beber do cálice. Há quem diga que ele instruía a celebração da ceia, independente do dia e do local, e não apenas no templo. [...]
Depois que ele saiu, confesso que fiquei inicialmente um pouco preocupado com o seu sustento, mas logo lembrei que ele possui outra profissão: é marceneiro. Certamente se dará bem. [...]
Trechos do texto de Augusto Guedes em Cristianismo Criativo,
citado (na íntegra) pelo inquieto Roger no seu blog Teologia Livre.
citado (na íntegra) pelo inquieto Roger no seu blog Teologia Livre.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirsou simpatizante da liberdade, mesmo sabendo de todo perigo que ela representa.
ResponderExcluirSinto por nós como sociedade que não sabe viver de forma LIVRE, precisamos de liderança, assim cm o mundo corporativo precisa. Sinto por mim, a liberdade nos assusta.
Sinto por nós, todos nós.
Se puder leia este texto que escrevi em meu blog, tem algo a ver com isso tudo. Estragamos a brincadeira.
http://grupoeclesia.blogspot.com/2010/04/e-brincadeira.html
Evandro
Manow ... eu assiti um filme ontem, muito bom ... pude identificar certas semelhanças com o que pensamos e não pensamos a respeito de vida em comunhão ... grupo, igreja etc ... chama-se "A onda" ... é um filme alemão e me parece que a primeira filmagem é americana ... Abraç(o_____
ResponderExcluir