Dia 29 de outubro de 2010.
Gerência Geral
Carta Circular nº 1001
ASSUNTO: Sustentabilidade do Consumo
Pelo bem de um mundo sustentável, o Deus Mercado concede às indústrias a graça de produzir artefatos que utilizem matéra-prima reciclada, porém não abre mão de que o montante produzido seja comercializado com urgência e aos milhões - quanto mais melhor.
Para tanto, exige propaganda massificada, usando os mais variados meios, especialmente aqueles que dão ao consumidor a ilusão de estar participando ativamente de um processo consciente e sensato de decisão de compra, chamados mídias sociais.
Estabelece também que os termos, 'sustentabilidade', 'ecológico' e 'verde' devem ser exaustivamente repetidos em toda peça publicitária e todas as convenções de venda e marketing, mesmo que seja evidente que a intenção única é alavancar vendas e aumentar o consumo tanto quanto possível - quanto mais melhor.
Qualquer menção à uma vida mais simples, pautada na diminuição do consumo, em viver com menos, no incentivo à produção de bens robustos e duráveis, na crítica aos modismos, todos eles criados tão somente para tornar obsoleto aquilo que ainda funciona muito bem, incentivando assim o aumento do consumo, deve ser reservada àquela revistinha bonitinha da editora Abril, a ser sempre comercializada em conjunto com a Cláudia e a VIP.
Fica definido, por fim, que somente o ser-humano possuidor de muitos bens - quanto mais e mais luxuosos melhor - será considerado feliz, ficando à cargo de todos o desejo eterno de possuir aquilo que ainda não possuem e depositar em um ponto futuro toda a esperança de descanso, desfrute e deleite pessoal, desde que saboreado sozinho sobre um luxo de poltrona em forma de concha e diante de uma TV 3D de 51 polegadas.
Atenciosamente.
D. M.
Belo texto, pra variar. Só um toque: "descanso", na antepenúltima linha.
ResponderExcluirÔ cedilha mardito. Valeu o toque, Marcos. Tárrumado.
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