A quantidade de leis potencializa a possibilidade de contravenção. E é esse o paradigma legislativo da sociedade urbana. A aglomeração absurda de gente em espaço tão reduzido que o consumo impõe ao homem contemporâneo (pois quanto mais gente junta, maior a possibilidade de consumo), gera a aglomeração de fatos inusitados que acarretam em desordem e, portanto, exigem leis que restabeleçam a ordem perdida. As leis surgem, e assim que existem, elevam a desordem anterior à categoria de contravenção penal, de crime.
Mas a raça humana tem incrível criatividade e improvisa novas formas de desordem, que exigem novas regras que, como se sabe desde sempre, estão aí para serem quebradas.
Chegamos então ao ponto onde estamos. Nosso país possui hoje o volume total de 181 mil leis. O número exorbitante de regras certamente nos coloca entre os maiores contraventores do planeta. O surreal é que, se não fôssemos, não sobreviveríamos. Quem permaneceria em pé debaixo de 181 mil regras? Que titã resistiria ileso a tão insuportável carga?
Com nossas leis instituímos a contravenção como norma. A regra de conduta nacional é a transgressão.
Quem não pecou, que atire a primeira pedra.
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PS1: Senti-me profundamente tentado a conduzir o assunto para os lados funestos da teologia, mas resisti bravamente. Já está tudo dito. Quem tem ouvidos, ouça.
PS2: O assunto desse texto surgiu da aproximação iminente dos meus filhos da idade da transgressão - a adolescência. Enquanto me torturava buscando em mim mesmo resposta para o questionamento básico - proíbo ou não meus filhos de fazer isso ou aquilo? - me dei conta da primeira frase do texto. Concordo irrestritamente com a frase, mas ainda não sei o que fazer com meus filhos.
Parabenizo-o pelo teu PS1. Não é fácil, mas vc conseguiu.
ResponderExcluirQuanto ao PS2, passei pela mesma situação. Continuo sem saber...
O texto do Brabo sobre instituições casa-se perfeitamente com o teu. Muito bons, os dois!!!
caraca mano! a minha menina tem 2 aninhos e já penso nisto.
ResponderExcluirserá que alguém sabe? rsss
bjão,
Desconfio que ninguém saiba.
ResponderExcluirRubinho, agradeço por comparar um rabisco meu a um do monge Paulo. :)