Correndo o risco de ser taxado de machista e retrógrado, quero abordar uma questão que há muito tempo vagueia no enorme vazio da minha cabeça oca. Acompanhe o raciocínio e diga se não faz algum sentido pra você. Obviamente a opinião interessa especialmente se vier de alguém do sexo feminino.
A mulher, que por décadas lutou para ter a liberdade de fazer tudo que o homem fazia, é hoje prisioneira da obrigação de fazê-lo. Deixou de ser oprimida pelo homem, para oprimir a si mesma. Quando conquistou merecidos direitos, quando libertou-se da imagem de inferior, lançou sobre si a carga de provar que pode ser superior. Não bastou-lhe a liberdade, quis assumir o papel de seu opressor e hoje já não é difícil encontrar por aí, nos corredores de grandes corporações ou no volante de carros esportivos do ano, mulheres transfiguradas no mais canalha dos homens, desfrutando altivamente de toda arrogância e ganância que antes lamentava ver no macho.
As que não chegam tão longe, vêem-se na obrigação de pelo menos caminharem na mesma direção, sob a pena de receberem o mais humilhante de todos os rótulos: donas de casa. A função que antes era menosprezada pelo homem dominante e toda sua babaquice, é hoje desprezada pela própria mulher. Assumir esse posto é a mais vergonhosa humilhação porque a mulher abraçou de corpo e alma a visão de mundo que embaçou os olhos da humanidade: só é gente quem produz, quem está inserido no mercado de trabalho, quem participa da roda viva da produção e consumo.
A igualdade da mulher permitiu-lhe submeter-se por livre e espontânea (e comemorada) vontade às exigências de um novo e cruel senhor - o mercado. Chegará o dia em que ela olhará para trás com saudades daquilo de que abriu mão. Um vislumbre desse dia, aliás, sempre chega quando o primeiro filho é deixado na creche, aos 4 meses de idade, às 7 horas da manhã, e permanece pulsando violentamente até o fim de cada dia, quando já noite a criança volta aos braços da mãe.
E agora, quem aguarda o retorno do cansado provedor no fim de cada tarde, não são mais crianças eufóricas e saudosas e o cheiro de um bolo de fubá quentinho, mas o eco de uma casa vazia, porque os provedores são todos e as crianças já não param mais em casa.
Haverá quem grite de uma cadeira nos fundos - mas a mulher precisa trabalhar para aumentar a renda da família, já que a renda de um só, na maioria dos casos, não dá conta do recado. Talvez seja bom lembrar que o excesso de mão de obra disponível hoje é um dos motivos que fez a renda individual cair. Porque há muitos profissionais à disposição, paga-se menos a cada um. Por pagar-se menos a cada um, é cada mais mais difícil um casal sobreviver com a renda de um só. É, portanto, cada vez mais imperativo que ambos trabalhem fora, o que evidentemente faz com que haja muita mão de obra disponível.
A roda gira. E que ninguém pare na frente porque ela passa por cima.
Tuco, compartilhei no meu bloguinho e no FB. Me perdoe.
ResponderExcluirNesta nova opressão contra as mulheres, quem sai perdendo somos todos nós, homens, mulheres e crianças... o mundo enfim.
Faz sentido Tuco, faz todo o sentido!!!!
ResponderExcluirO problema é que há um grande equívoco quando se fala de emancipação feminina. A mulher ainda não se emancipou e me arrisco a dizer que falta muito para isso acontecer. O que acontece é que ela quer assumir os mesmos papéis designados para o homem pela sociedade justamente porque ainda não descobriu seu próprio valor, que, diga-se de passagem, abrange todo o seu potencial, não apenas as responsabilidades de gerar, criar filhos e cuidar do lar, que também são responsabilidades masculinas.
ResponderExcluirA despeito das mudanças nas leis e no comportamento de mulheres e homens em relação ao papel feminino, ainda prevalece a mentalidade de que o valor da mulher não lhe é inerente, mas procede do homem, ou seja, ela ainda vale o quão apreciável e necessária for à figura masculina.
O que está acontecendo, na verdade é a masculinização da mulher. Resta saber se essa masculinização é consequência mesmo de uma "revolução" feminina. Particularmente, acredito que seja mais um tipo de controle masculino sobre as mulheres. De qualquer forma, a maioria delas ainda não está consciente de que não precisa reproduzir o masculino em si ou depender da aprovação masculina para ter valor.
Portanto, não importa se se trata de uma grande executiva ou de uma dona de casa: a maioria das mulheres ainda não está convencida de seu próprio valor. Os homens (entenda-se a maioria deles), da mesma forma, ainda não aprenderam a respeitá-las. Ainda as veem e as tratam como objetos de satisfação de seus desejos sexuais; ainda as usam para afirmar sua masculinidade, e ainda as tratam como algo que "se come" (com o perdão da expressão, que me causa nojo).
Não existe igualdade nenhuma. Os comportamentos de homens e mulheres podem até ter mudado, mas o inconsciente feminino e o masculino continuam os mesmos de milênios atrás.
Por demais perspicaz. Tocante, mto além do papel femino, essa lógica ilógica do mercado. Lá vem ela. De novo. Passando por cima.
ResponderExcluirEu já acho que não está acontecendo esse negócio de queda da renda individual, pelo contrário - ela sobre muito, exceto para aquele tipo de classe média que, no Brasil, estava acostumada a viver no padrão que você parece identificar como um passado idílico de homens que traziam o sustento para casa.
ResponderExcluirPor outro lado, a emancipação feminina não corresponde às mulheres trabalharem em empregos com renda e deixarem os filhos na creche. Mas em fazer os homens perceberem que os filhos são feitos por pai e mãe, e que ambos devem dividir as tarefas domésticas.
Porque o que ocorre normalmente é que a mulher arca com a parte pesada do trabalho, enquanto o marido controla toda a renda. Certamente isso não é mais aceitável - e, mais do que a diminuição da renda, a necessidade de reequilibrar estes fatores tem causado uma diminuição fabulosa no número de crianças.
Outro fator a se levar em conta é o aumento da idade de aposentadoria, e a consequente diminuição daquele fator importante na criação dos filhos - o apoio dos avós.
Xiiii! Além de provavelmente ser (com razão) taxado de retrógrado e machista, acrescento mais dois adjetivos: superficial e mal informado.
ResponderExcluirDe certo modo, a mulher contribui para a renda doméstica há séculos. Só que o trabalho era no âmbito doméstico, ou seja, ela costurava, cozinhava ou trabalhava num tipo de comércio, artesanato ou manufatura que não era separado da vida doméstica. Para não esquecer dos camponeses. Quando vieram as revoluções industriais dos séculos XVIII e XIX, estas formas de trabalho foram sendo desestruturadas e aí temos não só homens, como também mulheres e crianças nas fábricas. E a renda de todos juntos não durava o mês todo!
Os movimentos feministas (lembrando que coexistem diferentes tipos de feminismo)não só reivindicavam a presença feminina no mercado de trabalho. Postulavam o direito ao voto, fim de espancamentos, liberdade de poder estudar nas Universidades (e lecionar disciplinas que eram consideradas "naturalmente" masculinas). Se o mercado é estressante para as mulheres, também é para os homens. Lembrando que a lei foi feita para o homem (no sentido genérico) e não o homem para a lei, seria mais produtivo os sexos unidos lutassem por condições de trabalho compatíveis com a dignidade humana.Desse modo,o ideal do honrado macho provedor que espera a esposa e os filhos obedientes em casa, com o cãozinho trazendo chinelos à boca é mais uma imagem criada pelo imaginário capitalista do século XIX para justificar um tipo de sociedade do que um padrão social generalizado para todas as classes, ou um discurso pretensamente "cristão". Não custa nada estudar um pouquinho de história do trabalho e dos movimentos sociais, antes de escrever sobre questões tão graves.
Zemial
Zeminal. Muito bacana sua explicação profunda e bem informada sobre história do trabalho e movimentos sociais. Só não entendi o que isso tem a ver com o que escrevi. Talvez, e só talvez, a sua leitura tenha sido muito mais preconceituosa do que meu texto.
ResponderExcluirEscrevi sobre capitalismo, mercado, consumo e essas bobagens todas, tentando encontrar mais uma vítima desse rolocompressor. Assim como mil mulheres não querem fazer parte disso, mil homens também não querem. Mas são forçados a participar. E tente pular fora pra ver do que será tachado (além do machista e retrógrado que vc, sem me conhecer e baseado numa leitura míope e preconceituosa me pregou na testa). Entre os demais (homens e mulheres), a maioria acha que quer, mas é porque nem imagina que possa haver outra opção.
Enfim. A questão é o rolocompressor e sua multiplicidade de vítimas.
Beijo.