Um pensamento passou a me incomodar recentemente. Não sei exatamente como nem quando começou. Veio sorrateiro, entre refeições e conversas, leituras e vendavais, enchentes e pôr do sol, canções e tardes preguiçosas rede. A angústia que ultimamente me atormenta é andar pela rua e saber que todo mundo tem uma bela história, e que uma bela história merece ser contada e cantada, poetizada, recitada, escrita, repetida, sussurada, ouvida. Me incomoda perceber que passamos uns pelos outros nas ruas das cidades como se fôssemos postes errantes.
Aquele homem grisalho, beirando os 60 anos, de barba cheia, olhos cor de céu de verão ao meio-dia, com brilho intenso mais triste e cansado, roupas gastas e sujas, que caminhava pela Sete de Setembro empurrando um carrinho de mão com dois ou três sacos enormes de sabe-se lá o quê, indo na direção do Garcia numa tarde de garoa, tem uma história sensacional para contar. Sei disso porque vi a intensidade dela nos sulcos fundos que marcavam seu rosto. Quiz aproximar-me, quis cobri-lo com meu guarda-chuva, acompanhá-lo até seu destino e ouvi-lo. Mas eu tinha horário pra cumprir, anúncios pra fazer, campanhas pra criar, pra vender mais futilidades, e já estava atrasado, por isso passei andando ligeiro pelo homem e sua história formidável que jamais ouvirei.
A verdadeira tragédia não são as histórias que conhecemos, mas as inúmeras que desconhecemos. E que se perderão no tempo!!!
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