“Todo grupo controlado por algums não pode ser chamado de igreja. Se é IGREJA, não pode ser controlada por ninguém. O Evangelho deixa livre”. (Carlos Bregantim)
Gosto da frase acima. Eventualmente cito ela aqui e ali. Há quem ouça e se ofenda. Há quem fique pensando, um pouco magoado, um pouco irritado: "Pô, agora que o cara deixou de lado a igreja formal, a instituição com CNPJ, sai por aí dizendo que os que não a abandonaram definitivamente não fazem parte daquilo que Jesus chama de igreja! Porque aqui, na instituição formal, sempre há controle, sempre há hierarquia. É uma denominação, tem conselho, tem presidência, tem presbitério...".
Que não é isso que a frase diz, a mim parece bastante claro. Se há quem se ofenda, a mim parece uma demonstração evidente da incapacidade de muitos, talvez a maioria, de dissociar o coletivo do pessoal, o exterior do interior, a estrutura do informal (sem forma), a instituição da igreja.
A teoria de que igreja é feita de gente é fácil de ensinar e repetir, dificílima de assimilar, raríssima de ser praticada.
Formalidade nenhuma é proibida. A hierarquia não é inviabilizadora. A formação de conselhos e diretorias não é pecado capital. O importante, o essencial, o necessário, é deixar mais do que claro de que isso tudo refere-se única e exclusivamente à instrumentalização de um projeto humano e jamais será essa a única e sagrada forma de implantação do reino de Deus na terra, ou de continuidade do caminho de Jesus entre nós. Nem a única, nem uma delas.
Se isso ficar claro, se for exposto à luz diante de todos os membros da instituição que a papelada toda, a hierarquia toda, o controle necessário nada mais é do que uma construção humana, um empreendimento terreno, uma necessidade de adequação à leis, para fins de contratação de pessoal, de carteira assinada, de SUS, PIS e essa coisa toda, então haverá espaço para que lá dentro desse bolo burocrático possa pulsar algo livre e espontâneo entre irmãos de fé que se poderá chamar igreja. E simultaneamente há de agiganter-se o horizonte e brilhar diante dos membros da instituição a maravilhosa visão de que há igreja também do lado de fora, espalhada por todos os cantos, tão sem controle quanto essa que brota também do lado de dentro.
Li um relato do Leonardo Boff recentemente, descrevendo a um entrevistador como prossegue seu relacionamento com a igreja católica, já que foi impedido de atuar como padre. Ele respondeu que reúne semanalmente, debaixo do teto da mais hierárquica instituição cristã, um grupo de irmãos de fé que juntos lêem a bíblia, oram e participam da ceia. O fazem do lado de dentro da burocracia, mas de forma absolutamente livre e independente dela. São igreja, dentro do sistema de poder da maior instituição cristã do planeta.
Da minha parte, creio que as igrejas formais e seus CNPJs ganhariam muito se fossem aos poucos alterando seus estatutos e transformando-se em organizações de difusão de bem, de apoio social, psico-social, educacional, cultural, com as portas abertas às comunidades que as cercam, trabalhando pelo bem comum da humanidade de forma graciosa, ou seja, sem esperar receber nada em troca. Aos poucos, abandonariam o nome "igreja", e permitiriam que a igreja de verdade ganhasse asas por aí.
Talvez então, pessoas reunidas debaixo de ipês floridos, nas ruas, praças ou varandas, debaixo do nome de um mesmo Cristo errante, nômade, sem lenço nem documento, passariam a ser chamadas de igrejas, enquanto as hierarquias, conselhos e diretorias seriam simplesmente chamadas de ONGs, associações, clubes, comunidades terapêuticas, fundações... sem ofensa.
É... mas tem o lado negro da institucionalização; o lado escravizante e castrante da alma, que não pode se extirpado, a não ser jogando o bebê fora junto com a água do banho. Taí outra reformulação de ditado popular. O que era algo negativo, vejo hoje como positivo na Igreja. Pra salvar a Igreja é preciso exterminar a igreja.
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