Buda, ao enumerar suas verdades nobres, afirmou que a vida é sofrimento. O carpinteiro, filho de Maria, não se furtou a afirmar que nossa existência seria inegavelmente recheada de aflições. Essas afirmações, que são uma só verdade inevitável, já foram absorvidas com mais facilidade pela humanidade. Houve um tempo em que fugir da aflição, da dor, do sofrimento era tarefa muito mais complexa do que hoje, a ponto de não valera à pena o esforço. Salvo por um bom tonel de vinho, não havia como acobertar o sofrimento debaixo de analgésicos, drogas pesadas ou baladas movidas a músicas irritantes e repetitivas. Nem esconder a causa da dor em asilos ou leitos de hospital. Ela era vivida na carne, encarada face a face, amargamente chorada, dolorosamente superada. As pessoas morriam em nosso colo à noite e de manhã cedo nós mesmos cavávamos a cova onde lançaríamos o corpo inerte de um pai ou um filho. O alimento que produzíamos para o consumo era queimado em uma geada forte e passávamos fome e frio ao mesmo tempo. Mas tudo era real. Era verdade. Era parte essencial e inevitável da vida. Obstáculos naturais a serem enfrentados e superados. Sabíamos que viver é superar problemas.
Conhecereis a verdade e a verdade vos livertará é muito mais que um conceito religioso. Que a verdade é Cristo (o autor da frase em itálico, caso alguém não saiba) e ele é quem liberta, é o que se ouve sempre em púlpitos de igrejas cristãs. Mas o fato é que toda verdade é libertadora, assim como toda ilusão aprisiona. O rabi judeu não falava de ser ele mesmo uma encarnação mágica da verdade a ser aceita e adorada, mas escancarava que sua proposta para uma vida abundante só seria possível quando nossa própria vida fosse corajosamente desprovida de ilusões, sejam elas sociais, políticas ou religiosas. Conhecer a verdade é olhar para a vida do mestre, perceber o quão radicalmente desiludida ela foi, e igualmente desiludir-se por completo.
A humanidade, no entando, mergulha cada vez mais profundamente em um oceano de fantasia. Refestela-se na mais doce ilusão. Do carnaval aos albuns de fotos no facebook, tudo é alegria, festa, extravagância. Não há mais dor visível porque toda ela está varrida para baixo do tapete, armazenada no quarto escuro da alma de cada um. E quando ela insiste em aparecer, é tão vergonhosa e inconveniente que pode levar alguém como Paul Giamatti, no filme "Almas à Venda", a extrair a própria alma para livrar-se desse constrangimento.
O mundo do capital e do consumo, movido pela devastadora engrenagem da propaganda, é especialista em ilusão. Vivemos submersos nela sem absoultamente nos darmos conta, hipnotizados, desalmados, robotizados. Não como zumbis, mas como aquele coelhinho da duracell, batucando frenética, automática e eternamente. Nem nos momentos de lazer abrimos espaço para a verdade brotar. É o que mostram as raves, baladas noturnas, resorts e cruzeiros maritmos.
É evidente que o combustível dessa bagaça é o dinheiro, mas aquilo que chamamos de economia, a ciência que move o mundo do capital, é quase toda ela uma profunda e desoladora ilusão. Que o dinheiro não existe é fácil demonstrar. No entanto ele permanece sendo o centro da vida de qualquer um na sociedade capitalista que criamos.
Quando Paul Giamatti finalmente olha para dentro de sua alma já no final do filme (desculpe, mas vou contar), descobre que a verdade que restou, ali em algum canto, encontra-se nos silêncios, nas solitudes, nos toques sutis, nos olhares tênues. A dor que lhe fustigava a alma foi finalmente superada pelo encontro com a verdade. E a verdade era discreta.
Viver é superar problemas
Conhecereis a verdade e a verdade vos livertará é muito mais que um conceito religioso. Que a verdade é Cristo (o autor da frase em itálico, caso alguém não saiba) e ele é quem liberta, é o que se ouve sempre em púlpitos de igrejas cristãs. Mas o fato é que toda verdade é libertadora, assim como toda ilusão aprisiona. O rabi judeu não falava de ser ele mesmo uma encarnação mágica da verdade a ser aceita e adorada, mas escancarava que sua proposta para uma vida abundante só seria possível quando nossa própria vida fosse corajosamente desprovida de ilusões, sejam elas sociais, políticas ou religiosas. Conhecer a verdade é olhar para a vida do mestre, perceber o quão radicalmente desiludida ela foi, e igualmente desiludir-se por completo.
A humanidade, no entando, mergulha cada vez mais profundamente em um oceano de fantasia. Refestela-se na mais doce ilusão. Do carnaval aos albuns de fotos no facebook, tudo é alegria, festa, extravagância. Não há mais dor visível porque toda ela está varrida para baixo do tapete, armazenada no quarto escuro da alma de cada um. E quando ela insiste em aparecer, é tão vergonhosa e inconveniente que pode levar alguém como Paul Giamatti, no filme "Almas à Venda", a extrair a própria alma para livrar-se desse constrangimento.
O mundo do capital e do consumo, movido pela devastadora engrenagem da propaganda, é especialista em ilusão. Vivemos submersos nela sem absoultamente nos darmos conta, hipnotizados, desalmados, robotizados. Não como zumbis, mas como aquele coelhinho da duracell, batucando frenética, automática e eternamente. Nem nos momentos de lazer abrimos espaço para a verdade brotar. É o que mostram as raves, baladas noturnas, resorts e cruzeiros maritmos.
A verdade vos libertará
É evidente que o combustível dessa bagaça é o dinheiro, mas aquilo que chamamos de economia, a ciência que move o mundo do capital, é quase toda ela uma profunda e desoladora ilusão. Que o dinheiro não existe é fácil demonstrar. No entanto ele permanece sendo o centro da vida de qualquer um na sociedade capitalista que criamos.
Jackson reserva 10 mesas em um restaurante bacana para um jantar com amigos. Vai pessoalmente ao estabelecimento um dia antes e deixa tudo pago com um cheque. Mas Krueger, dono do restaurante, precisava pagar o representante de bebidas que estava fazendo a entrega. Paga-o com o cheque de Jackson, que é, no mesmo dia, repassado para o dono do apartamento onde mora representante. O dono do apartamento repassa o cheque ao pintor, que segue sorridente até a loja da Eleonor e compra a TV de led que havia prometido à esposa. Eleonor decide convidar os funcionários para um happy-hour no restaurante do Krueger e paga o consumo com o cheque que recebeu pela TV. No dia seguinte, de manhã cedo, Jackson passa no restaurante, desculpando-se com seu Krueger porque houve um imprevisto e precisa cancelar a reserva. Calmamente, Krueger puxa do caixa o cheque de Jackson, devolve ao rapaz e cancela a reserva.
Quando Paul Giamatti finalmente olha para dentro de sua alma já no final do filme (desculpe, mas vou contar), descobre que a verdade que restou, ali em algum canto, encontra-se nos silêncios, nas solitudes, nos toques sutis, nos olhares tênues. A dor que lhe fustigava a alma foi finalmente superada pelo encontro com a verdade. E a verdade era discreta.
Viver é superar problemas (ou, pelo menos, não ser irremediavelmente atropelado por eles); a verdade é discreta (me remete à presença de Deus na brisa suave no episódio de Elias na caverna).
ResponderExcluirLeitura inspiradora!
"Conhecer a verdade é olhar para a vida do mestre, perceber o quão radicalmente desiludida ela foi, e igualmente desiludir-se por completo".
ResponderExcluirJesus desconstrói, o tempo todo. Ele não era um pastor/vendedor picareta de ilusões. Temo que, ainda hoje, essa não seja a mensagem que a galera desejaria ouvir. Uma pena.
Bom trabalho, meu.
Olha a rapaziada de Sorocaba tirando as teias de aranha dos comentários do blog. Valeu gente. Abraços.
ResponderExcluirque beleza de texto Tuco!
ResponderExcluirmelhor é um prato de hortaliças onde há amor
do que o boi cevado, e com ele o ódio. Pv 15:1
a verdade é discreta...massa isso! abraço do Afonso
Bah !!! Fazia tempo que não bebia uma dose dessas letras mais etílicas que o etílico mais etílico !!!
ResponderExcluirBoa dose !!!